Quando eu era bem menino, por um instante, acreditei piamente que saberia dirigir naturalmente. Entrei no fusca verde de meu pai e dei a partida. Eu já tinha experimentado antes ligar a ignição e fazer o carro funcionar e achei que era só isto, que seria fácil dar uma volta pela quadra e retornar em segurança para o mesmo lugar.
Acontece que eu não sabia que um carro precisava de uma combinação de marchas e pedais para funcionar. Em minha cabeça infantil, imaginei que era suficiente fazer o volante girar e estava pronto para a minha grande aventura pelo bairro.
Eu tinha cerca de oito anos à época e minha triste aventura terminou antes mesmo de começar. Ao ligar o carro e ele começar a andar - a rua onde eu morava era levemente enladeirada - me arrependi imediatamente e pisei no freio. Quer dizer, eu achava que era o freio, mas era o acelerador. O carro de meu pai, recém saído da oficina, encontrou violentamente o muro do vizinho.
Hoje, cá do alto dos meus mais de 50 anos de idade, eu penso que poderia ter inventado uma história qualquer, dito que nem estava ali na hora do ocorrido. Poderia ter deixado a chave na ignição e insistir em uma versão de que meu próprio pai esquecera a chave lá e alguém tentou roubar o carro e fugir.
Mas, não. Tranquei o carro cuidadosamente e fui para dentro de casa, avisar o meu pai, que dormia, da besteira que havia feito. Contei-lhe exatamente o que aconteceu. A minha recompensa foi uma surra da qual guardo ainda grandes cicatrizes emocionais. Mas não menti. Aquele menino de oito anos, temeroso e, ao mesmo tempo corajoso, preferiu dizer a verdade e assumir o erro, mesmo sabendo das terríveis consequências do seu ato.
E é a este menino que hoje eu agradeço pelo homem que me tornei.
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