O público de rock da Bahia reclama da falta de uma cena de rock mas o fato é que tal cena não existe porque não existe público de rock na Bahia.
Você vai a um show de pagode, ou pagodão, que seja, de uma destas bandas de oitava categoria, que só faz replicar as canções de outras bandas e lá está o público todo visivelmente se divertindo, dançando e entrando em uma catarse única. Uma banda de rock ensaia, gasta grana com equipamentos, dedica horas criando canções e arranjos e o público responde com uma profunda indiferença, mantendo uma distância que é a maior possível e até mesmo uma certa arrogância. É como se os artistas em cima do palco estivessem, literalmente, recebendo o favor de serem assistidos.Outro dia vi uma apresentação de um destes grupos independentes paulistas. A entrega do público era evidente. Ali estavam fãs que adoravam a banda. Na Bahia, não. O público te trata como aquele cliente que contrata uma prostituta. Quer carinho, quer carícia, quer amor gostoso pois ele está pagando. Mas não dá nada, absolutamente, em troca.
Ter como público o público de rock baiano é como manter uma cobra de estimação em casa. O máximo que você conseguirá de carinho da parte dela é ela não te atacar.
Qual a motivação que um artista de rock tem na Bahia para criar, para produzir? Fazer das tripas coração para realizar um show e ver, no máximo, um bando de abilolados se debaterem na frente do palco, esmurrando-se e empurrando uns aos outros?
Na década de 80 houve uma cena de rock na Bahia. E não houve cena de rock porque haviam bandas. Houve cena de rock porque havia público de rock de verdade, com sangue nos olhos, com energia e vontade de interagir. Foi assim que surgiu a cena hippie de São Francisco nos anos 60, as cenas punk de Nova Iorque e Londres nos anos 70. O público era tão importante que se transformou em novos artistas.
Antes de reclamar da falta de bandas boas de rock em sua cidade, procure saber se há um bom público de rock por lá. Porque, se já não dá dinheiro, sem satisfação pessoal é que não vale a pena mesmo alguém investir seu tempo e grana em tentar agradar aos outros inutilmente.
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