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O POP MORREU. VIVA O POP.

Até meados dos anos 40 do século passado, a música pop tinha uma espécie de papel secundário na vida das pessoas. A música de então servia apenas para o lazer, não tendo um papel social evidente e era, até certo ponto, segregacionista e desagregadora. Quem ouvia blues era um tipo exato de consumidor de música, quem ouvia country era outro e um gênero não se comunicava com outro e até se antagonizavam. Enfim, a música pop servia apenas para ser a trilha sonora da vida normal das pessoas em determinados  guetos ou nichos. . 

Nos anos 50, com a chegada do rock and roll, a música se tornou uma expressão  da rebeldia contra a repressão, inicialmente a repressão  da libido. Nos  anos 60 foi a vez dos loucos sonhos de libertação do corpo e da alma através das drogas, dos questionamentos políticos sobre justiça social e da declaração de guerra à guerra . Os 70 foram os anos da celebração, dos excessos permitidos e do hedonismo exacerbado. Das drogas em exagero e das overdoses cotidianas.  

Nos 80, a música pop refletiu o desencanto e a desilusão com um mundo que já antevia os conflitos do novo milênio. Drogas já não eram tão legais, o mundo estava à beira de uma hecatombe nuclear e já haviam os primeiros sinais de que a batalha seria perdida. Já  os anos 90, na música pop e no rock, foram os anos da ressaca moral, do retorno à caretice e  da glorificação do cinismo. Foi a década em que uma banda que cagava e andava para os fãs foi glorificada como a maior do mundo (Nirvana), em que uma dupla de cantores fake foi punida mortalmente - literalmente, pois um deles se suicidou -  por um recurso absolutamente comum na música que é a invenção do artista cantor que não canta (Milli Vanilli) e até uma tentativa trôpega de recriar o fenômeno ABBA aconteceu, na figura dos eslavos do Ace Of Base. Nas três primeiras décadas do novo milênio a música simplesmente perdeu a relevância novamente só  que agora o lazer pelo lazer foi trocado por uma controversa função  social. A música pop agora serve à causas e é inacessível a quem não  as abraça. 

O pop e o rock são um fenômeno criado pelos "baby boomers", a geração dos nascidos durante e depois da segunda guerra, e  foi alimentado por seus irmãos mais novos nos 70, pelos filhos nos anos 80 e até pelos netos, já  pouco convictos, nos 90. Os bisnetos preferiram os games e as redes sociais. Na virada do milênio os boomers já eram cinquentões quase sexagenários. Hoje morrem como moscas. E com eles, morre também a música pop e o rock como os conhecemos. Vai ser preciso haver uma terceira guerra mundial, inviável e indesejável para qualquer pessoa de bom senso - e uma guerra feroz o suficiente para atrasar tecnologicamente o planeta - para que tudo aconteça novamente

E, ainda assim, iria se correr o enorme risco de tudo não passar de uma farsa. Ou seja, ressuscitar a música pop jamais valeria o sacrifício.

Melhor nos conformarmos. A música para dançar e se excitar,  a música  para viajar e sonhar,  para festejar e celebrar,  se desencantar ou mesmo para duvidar de tudo, esta  música, que unia negros, brancos, homens, mulheres. gays, héteros, ocidentais e orientais, esta musica definitivamente acabou. E que descanse em paz para sempre para não ser confundida  com a música separatista e desagregadora dos novos guetos do terceiro milênio.

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