Uma certa vez eu fui almoçar em um pequeno shopping de uma das capitais do Nordeste, em um restaurante a quilo. Na época, há mais de vinte anos, eu ainda era vegetariano mas minha mulher e meu filho não. Como eu não queria comer ali, fiquei só na saladinha, no tomate, alface e etc. Na verdade, nem havia sequer uma grande variedade de pratos sem carne naquele lugar.
- Você quer dizer, brasileiro, que com esse tamanho todo só comeu isso?, Ele me questionou com ares de galhofa em um portunhol bizarro. Vale dizer que eu era semi-obeso na época e estava evitando comer carne também como forma de emagrecer.
- Sim, meu caro. Eu só comi um pouco de salada pois não como carne e a sua variedade de legumes e alimentos sem carne é bem pequena.
Então o estrangeiro disse as que foram as palavras mágicas para me tirar do sério:
- Você está querendo é me roubar, brasileiro. Para variar. Parece que vocês já nascem roubando.
Se eu estivesse no país dele, sim, ainda assim eu daria alteração frente àquele insulto. Imaginem que eu estava em meu país sendo ofendido por um comerciante estrangeiro e desonesto. Disse-lhe que ladrão era ele e que só iria pagar o que havia consumido. Ele deu um soco na mesa e lamentou ter vindo morar "nesta terra maldita", como forma de responder à minha indignação.
Voei para cima dele. Ele desviou, correu para o fundo da loja como todo bom covarde faz e ainda disse que eu o respeitasse, pois ele "havia lutado na guerra!".
Eu, já completamente siderado, nem sabia mais que porra de guerra era aquela. A segunda guerra? Mas ele era novo demais. A do Vietnam? Mas o sotaque dele era de latino-americano.
Os seguranças do lugar logo vieram apartar a briga, me pedindo calma. Então, em seguida, chegou o gerente do shopping e me pediu para acompanhá-lo para fazer uma reclamação formal contra - agora eu sabia - o argentino. Ele estava louco para expulsar o hermano do lugar.
Lá ele me disse que o cidadão era mesmo um encrenqueiro, que xingava os clientes, que roubava no peso e no preço e que precisava que alguém fizesse uma queixa oficial para poder ter os subsídios necessários para lhe pedir o ponto de volta e acabar com aquele suplício. Dei a queixa mas perguntei ao gerente de que guerra o cucaracha - nem todos os argentinos merecem este apelido, de fato, mas este merecia - estava falando.
- Das Malvinas. Ele lutou contra a Inglaterra em 1982 . Parece que é meio paranoico de guerra.
- Ah, sim. Mas aquilo nem foi uma guerra. Foi mais uma surra que os ingleses deram nos argentinos.
Ao sair, passei pela porta do restaurante, olhei para o veterano, sorri e disse
-Sabe as Malvinas? Malvinas, nada. O nome das ilhas é Falklands. Elas são inglesas.
E dei um joinha e fui embora. Ao longe ouvi o som de um prato sendo jogado ao chão e se espatifando. Ué? Ele era argentino ou grego?
Não. Eu não falei por falar. As Malvinas são inglesas sim. E sequer se chamam Malvinas e sim Falklands. E é muito fácil provar isto respondendo a algumas perguntinhas básicas: Que língua se fala nas ilhas Falkands? Se um argentino ligar de Buenos Aires para um morador das ilhas, a ligação é local ou internacional? Os carros em Port Stanley andam de que lado da rua e onde fica o volante deles?
Mas, se nada disso for suficiente, vale a pena conhecer um pouco, ainda que superficialmente, da história do arquipélago. Claro, há duas versões sobre o descobrimento das Falklands. Segundo a versão argentina, o descobridor seria o navegador português Fernão de Magalhães. Porém, se Fernão, de fato, lá esteve, nada fez e nada disse. E se o velho e bom Fernão esteve nas ilhas, isto também não legitima nenhuma reinvindicação de posse argentina sobre elas.
Já os ingleses afirmam que as ilhas foram descobertas por seu navegador John Strong em 1690. Em 1764, em conjunto com a França, os ingleses construíram dois assentamentos distintos em cada uma das duas ilhas principais, totalmente desabitadas. O assentamento francês foi repassado para a Espanha - que passaria a chamar uma das ilhas de Malvina e não as duas - , que por sua vez, repassou de volta para a Inglaterra em 1774. Em 1811 os espanhóis se retiraram definitivamente das agora ilhas Falklands.
Para manter uma política de boa vizinhança com os países continentais próximos, a Inglaterra permitia que navios de pesca daqueles países visitassem a costa das ilhas Falklands. Eis que a Argentina resolveu tomar posse da ilha principal que havia sido da Espanha e até promoveu um pirata a comandante militar invadindo a ilha em 1829, em antecipação ao famoso "gol de mão" de Maradona que parece ser a tônica daquele país, da mesma forma que o Brasil é o país do jeitinho e da a malandragem.
Em 1831, os argentinos foram expulsos pelos norte-americanos e em 1840, a Inglaterra tomou posse formal e oficialmente das duas ilhas como parte do Reino Unido. Desde então, os argentinos reivindicam para si aquelas que chamam de Ilhas Malvinas como sendo deles, um território que era originalmente da Espanha, país que os colonizou..
Vale lembrar que os únicos argentinos que habitaram a ilha durante toda a história do mundo viveram no período pré-colonial e nem eles quiseram ficar por lá. Em 1982, a ditadura argentina declarou guerra à coroa britânica e houve quem até defendesse que o Brasil deveria entrar nesta guerra. Buenos Aires levou uma lavada da armada real mas teve por aqui ufanista declarando que "las malvinas son argentinas", sem lembrar que os Açores são portugueses, as ilhas Guam são norte-americanas, Trindade e Martim Vaz são brasileiras, Rapa Nui é chilena e a Groelândia é da Dinamarca.
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