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MELITTA BENTZ: A "FEMINAZI" DO BEM.

Se você é um amante do bom café ou, ainda, um apreciador das conquistas femininas, ou mesmo se você é apenas um curioso, certamente gostará de conhecer a história de uma senhora alemã chamada Melitta Bentz. E - talvez seja esta a parte que você não irá gostar muito -  saber que o filtro de papel para coar café e o café em pó em si, assim como o refrigerante Fanta, o Fusca e o teclado QWERTY, são invenções surgidas, difundidas e popularizadas durante o nazismo. Sim, vamos falar de uma autêntica "feminazi". Literalmente.

Mas calma que este texto não é sobre política. É sobre café, sobre feminismo de verdade  e sobre uma mulher que, a partir de uma ideia incrivelmente simples, construiu um verdadeiro império. Sua empresa sobreviveu ao nazismo, sobreviveu aos aliados e hoje, seus produtos são conhecidos em todo o mundo, sendo sinônimos de artigos de boa qualidade.

Melitta nasceu em Dresden, Alemanha, em 1873, e quando tinha 35 anos, já casada, dona de casa e mãe de 3 filhos, se cansou do café que era preparado sempre em excesso pelos percoladores, um tipo de bule da época. Também reclamava da falta de praticidade das máquinas domésticas de café expresso e dos filtros de linho ou lã, que sempre era obrigada a lavar após o uso. Foi então que teve a ideia de fazer pequenos furos em uma caneca e usar uma folha de papel borrão, roubada do material escolar do filho, colada em forma de concha. 

Em 1909, o filtro de papel já se encontrava patenteado e a Bentz & Sohn iniciava as atividades. Um ano depois, a inventora alemã se tornava oficialmente uma empresária e patroa de seu marido e filhos. O passo seguinte da recém criada empresa foi importar e vender café. E aí veio outra ideia genial e simples de Melitta: Em uma época em que café era vendido em grãos, porque  não oferecer o produto já moído ao consumidor? E lá vai Melitta Bentz, que já inventara o filtro de papel, inventar também o café em pó pré-preparado.

Com a segunda guerra veio o racionamento de papel e o embargo da importação de grãos, mas a Bentz & Sohn resistiu fabricando embalagens de papel e papelão. Ao final do conflito,  Melitta criou mais uma inovação: A embalagem dos sacos de café em sofisticadas e delicadas caixas de papelão, característica que perdura no Café Melitta até hoje e em outros inúmeros produtos.

Mas as novidades de Melitta Bentz não pararam por aí, Preocupada com o bem estar de seus empregados, a inventora/empresária criou também o Melitta Aid, um fundo social onde seus funcionários tinham direito a bônus de natal, semana de trabalho de  5 dias e duas semanas  de férias em uma época em que as férias duravam apenas seis dias.

Melitta Bentz faleceu em 1950, aos 77 anos. Em 43 anos de atividade empresarial, ainda que atrapalhada por 12 anos de nacional-socialismo e ocupação aliada, a dona de casa saiu do relativamente nada para uma fortuna que hoje seria avaliada em cinco bilhões de euros.

Os bisnetos de Melitta, Thomas e Stephen Bentz, são os presidentes atuais do Melitta Group, que hoje está presente em 50 países e contabiliza mais de 3 mil empregados. Vale dizer que Melitta Bentz era uma humanista antes de mais nada e que sua colaboração com o nazismo era quase que inevitável. Outras empresas como a Volkswagen e a Bayer também colaboraram e até mesmo o Papa Emérito fez parte da juventude nazista nos verdes anos. Julgar Melissa como qualquer coisa menos que uma mulher corajosa  e genial é também julgar eternamente todo um povo pela mente doentia de um único homem.

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