Um dia uma criança me fez uma pergunta bastante curiosa:
- Como era a vida no tempo em que o mundo era em preto e branco?
Eu imaginei ter entendido a pergunta errado e a questionei:
- Você está querendo dizer como era na época em que os cinemas e a televisão exibiam filmes e programas em preto e branco, não é isso?
Foi então que eu me dei conta que aquele menino de sete anos não sabia que sempre existiram as cores e que os filmes antigos não eram coloridos apenas por uma contingência da tecnologia limitada de uma época. Então, claro, lhe expliquei que os filmes e programas de televisão de antigamente até podiam ser em preto e branco, mas o mundo que eles retratavam, efetivamente, não era.
Eu acompanho inúmeros canais no YouTube. Em alguns, sou inscrito, outros aparecem insistentemente nas recomendações e, quando o assunto me interessa, costumo clicar nem que seja para dar uma rápida olhada. Outro dia, tentei assistir um vídeo de um legítimo millennial - millennial, para quem não sabe ainda, é um integrante da geração que nasceu da década de 90 para frente. O vídeo era sobre um caso bárbaro de assassinatos em série cometidos por dois irmãos necrófagos, ou seja, que comiam os cadáveres de suas vítimas. Mas o que me assustou de fato foi a forma como o youtubber descreveu a década de 70, período em que ocorreu o fato sobre o qual ele tentava discorrer.
Segundo o rapaz, nos anos 70, as ruas eram escuras porque, simplesmente, não havia iluminação. Sim, eu, que vivi dos 4 aos 14 anos naquele período, estive totalmente nas trevas e só fiquei sabendo agora, por conta da informação preciosa do millennial em seu vídeo na plataforma do Google. Também, segundo ele, não havia segurança pública naquele período. A coisa funcionava meio que na base do "salve-se quem puder". Polícia, provavelmente, é uma invenção do terceiro milênio. E opressora, por sinal.
Mas não é só isso. Millennials, em seus canais do YouTube, criticam absolutamente tudo que surgiu antes da internet banda larga. Criticam a banheira do Gugu, a boquinha da garrafa, o sushi erótico do Faustão, o Latininho, o Casseta e Planeta e tentam entender como vivíamos na mais completa barbárie, sem cancelamento e lacração.
É uma geração que não soube qual o gosto de esperar até meia noite para acessar a internet em uma conexão discada ou deixar a família incomunicável após o meio-dia do sábado para aproveitar o pulso único do fim de semana. Imaginem se eles poderão entender o mundo pré-internet, antes das redes sociais e do mimimi generalizado.
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No meu tempo - e eu já posso dizer isso por ser um quase idoso - ficávamos à espreita das meninas para ver aquilo que chamávamos de "lance", onde poderíamos entrever um pedaço da calcinha ou até de um mamilo que escapava de uma blusa vaporosa enquanto a moça dispensava o sutiã. Hoje, isto ganhou outro nome: estupro.
Atualmente, as meninas ainda usam saias e vestidos vaporosos, que esvoaçam ao primeiro sopro de vento, mas usam shorts por baixo. Claro, a minha época de buscar pelos "lances" já passou há quase quatro décadas, mas a verdade é que o mundo se "encaretou" muito e de uma forma muito esquisita. O pudor, o "combate ao assédio", o falso emponderamento e os exageros do politicamente correto fizeram com que as meninas vestissem shorts para que os meninos não vissem mais as suas calcinhas. Mas a trilha sonora de suas danças - que para mim parecem tudo menos danças sensuais - são sempre ao som de funk brasileiro da pior qualidade, na maioria das vezes com letras que louvam a violência, o abuso feminino e o tráfico de drogas. Basta observar os vídeos daquelas irritantes propagandas do aplicativo Kwai. É uma moralidade completamente enviesada, como se estivéssemos naquele universo chamado bizarro das histórias do Super-Homem, onde tudo é ao contrário.
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Eu acompanho inúmeros canais no YouTube. Em alguns, sou inscrito, outros aparecem insistentemente nas recomendações e, quando o assunto me interessa, costumo clicar nem que seja para dar uma rápida olhada. Outro dia, tentei assistir um vídeo de um legítimo millennial - millennial, para quem não sabe ainda, é um integrante da geração que nasceu da década de 90 para frente. O vídeo era sobre um caso bárbaro de assassinatos em série cometidos por dois irmãos necrófagos, ou seja, que comiam os cadáveres de suas vítimas. Mas o que me assustou de fato foi a forma como o youtubber descreveu a década de 70, período em que ocorreu o fato sobre o qual ele tentava discorrer.
Segundo o rapaz, nos anos 70, as ruas eram escuras porque, simplesmente, não havia iluminação. Sim, eu, que vivi dos 4 aos 14 anos naquele período, estive totalmente nas trevas e só fiquei sabendo agora, por conta da informação preciosa do millennial em seu vídeo na plataforma do Google. Também, segundo ele, não havia segurança pública naquele período. A coisa funcionava meio que na base do "salve-se quem puder". Polícia, provavelmente, é uma invenção do terceiro milênio. E opressora, por sinal.
Mas não é só isso. Millennials, em seus canais do YouTube, criticam absolutamente tudo que surgiu antes da internet banda larga. Criticam a banheira do Gugu, a boquinha da garrafa, o sushi erótico do Faustão, o Latininho, o Casseta e Planeta e tentam entender como vivíamos na mais completa barbárie, sem cancelamento e lacração.
É uma geração que não soube qual o gosto de esperar até meia noite para acessar a internet em uma conexão discada ou deixar a família incomunicável após o meio-dia do sábado para aproveitar o pulso único do fim de semana. Imaginem se eles poderão entender o mundo pré-internet, antes das redes sociais e do mimimi generalizado.
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No meu tempo - e eu já posso dizer isso por ser um quase idoso - ficávamos à espreita das meninas para ver aquilo que chamávamos de "lance", onde poderíamos entrever um pedaço da calcinha ou até de um mamilo que escapava de uma blusa vaporosa enquanto a moça dispensava o sutiã. Hoje, isto ganhou outro nome: estupro.
Atualmente, as meninas ainda usam saias e vestidos vaporosos, que esvoaçam ao primeiro sopro de vento, mas usam shorts por baixo. Claro, a minha época de buscar pelos "lances" já passou há quase quatro décadas, mas a verdade é que o mundo se "encaretou" muito e de uma forma muito esquisita. O pudor, o "combate ao assédio", o falso emponderamento e os exageros do politicamente correto fizeram com que as meninas vestissem shorts para que os meninos não vissem mais as suas calcinhas. Mas a trilha sonora de suas danças - que para mim parecem tudo menos danças sensuais - são sempre ao som de funk brasileiro da pior qualidade, na maioria das vezes com letras que louvam a violência, o abuso feminino e o tráfico de drogas. Basta observar os vídeos daquelas irritantes propagandas do aplicativo Kwai. É uma moralidade completamente enviesada, como se estivéssemos naquele universo chamado bizarro das histórias do Super-Homem, onde tudo é ao contrário.
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A recente campanha de um grande banco para que as pessoas não façam mais brincadeiras - ou como eles dizem, cometam atos de violência - contra a sua Inteligência Artificial é reveladora destes novos tempos de "nutellismo" universal. Em primeiro lugar, ainda será preciso que as inteligências artificiais evoluam muito para merecem ser chamadas de "inteligência".
Enquanto o tal banco faz alarde da própria incapacidade de sua IA de diferenciar o que é uma simples brincadeira - ainda que de muito mau gosto e falta do que fazer - e o que é um ato de violência, existem casos relatados de condenações e advertências sofridas pela empresa por assédio moral e até mesmo sexual entre seus funcionários. Há relato de funcionários que, simplesmente, não podiam ir embora antes de cumprirem as suas metas. Mas a lacração da instituição compara mulheres que apanham, que são violentadas, que são agredidas no dia a dia a pitis de uma inteligência artificial mal programada por pessoas que parecem estar absolutamente surtadas
A inteligência artificial do Facebook, por exemplo, acaba de derrubar uma página em sua rede social criada por uma pequena cidade da França chamada Bitche - a "inteligência" entendeu que o nome do lugar era ofensivo. Isto sem contar que certos discos não podem ter mais suas capas publicadas nas redes sociais por serem consideradas pornográficas. Três exemplos: Two Virgins de Lennon & Yoko, Houses Of The Holy do Led Zeppelin e, pasmem, Surfer Rosa da banda Pixies.
Por fim, o desabafo feito por um amigo após ler um twitter de um garoto branco que reclamava que todos os filmes feitos sobre pessoas negras sempre terminavam com um negro sendo assassinado, humilhado ou ou sofrendo violência. O amigo - que é negro e gaúcho - listou inúmeros filmes que enalteciam o ser humano da raça negra, como o clássico absoluto "Ao Mestre Com Carinho" e outros filmes como "Ray", a cinebiografia de Ray Charles; o emocionante "À procura Da Felicidade" com Will Smith, ou ainda o belo "Os Intocáveis", além do tocante "Green Book". Ele, o meu amigo, também citou "O Homem Que Copiava", com Lázaro Ramos mas deste eu discordo que engrandeça o homem negro e até mesmo o homem gaúcho. Ninguém merece um ator baiano que não estudou o suficiente o sotaque do lugar onde se passa a história que protagoniza. Nem gaúchos nem baianos.
Ao final, o amigo desabafou:
- Estas pessoas nasceram literalmente ontem e acham que o mundo não existia antes deles.
Por fim, o desabafo feito por um amigo após ler um twitter de um garoto branco que reclamava que todos os filmes feitos sobre pessoas negras sempre terminavam com um negro sendo assassinado, humilhado ou ou sofrendo violência. O amigo - que é negro e gaúcho - listou inúmeros filmes que enalteciam o ser humano da raça negra, como o clássico absoluto "Ao Mestre Com Carinho" e outros filmes como "Ray", a cinebiografia de Ray Charles; o emocionante "À procura Da Felicidade" com Will Smith, ou ainda o belo "Os Intocáveis", além do tocante "Green Book". Ele, o meu amigo, também citou "O Homem Que Copiava", com Lázaro Ramos mas deste eu discordo que engrandeça o homem negro e até mesmo o homem gaúcho. Ninguém merece um ator baiano que não estudou o suficiente o sotaque do lugar onde se passa a história que protagoniza. Nem gaúchos nem baianos.
Ao final, o amigo desabafou:
- Estas pessoas nasceram literalmente ontem e acham que o mundo não existia antes deles.
Eu retruquei:
- O nosso mundo, o dos maiores de quarenta anos, está nos estertores, em condição crítica, em metástase e em estado terminal. O novo mundo, o mundo deles, dos adolescentes de trinta anos para baixo, este mundo realmente nasceu ontem. Os resultados deste admirável mundo novo, nós, os mais velhos, não estaremos aqui para ver. Mas eu acredito muito nesta rapaziada que está nascendo agora. Serão os Enzos e as Valentinas que se rebelarão contra toda essa caretice, incoerência, regressismo e a ditadura do pensamento. Pelo menos, é assim que eu espero. Ou o mundo que nasceu ontem morrerá ainda na primeira infância.
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