Há quem acredite que o único amor possível é aquele que é sempre idealizado e que apenas enxerga as virtudes e jamais vê os defeitos da pessoa amada. Que o único amor que vale a pena é o amor envenenado pelo beijo do príncipe redentor ou da princesinha desacordada no bosque . Nem sempre esta idealização é meramente platônica e muitas vezes acaba avançando pelo campo da atração física. Assim, o ser amado é também o herói ou a heroína sexual, capaz tanto de levar o amante ao máximo do prazer assim como enchê-lo de mimos e carinhos eternamente. E tudo isto, diga-se de passagem, é culpa da arte, mais especificamente, em nosso tempo, da música popular e suas letras sonhadoras, cheias de devaneios e completamente inverossímeis. No ideário da canção moderna, ou você está vivendo um grande amor, ou quer viver, ou já foi abandonado e quer voltar. Quase nenhum compositor canta as delícias da rotina, da repetição e da banalidade. Até porque não...
Renato Jorge Araujo