Decerto que o grupo baiano de rock Camisa de Vênus não é nenhum exemplo de banda dada a divagações romântico-filosóficas mas há uma canção do grupo - canção esta que sequer gosto - que me chama a atenção pelo título "Rostos e Aeroportos". Não só ela, há a brilhante canção da banda inglesa The Motors chamada "Airport" (que, não contem para ninguém, guarda uma suspeita semelhança com a da banda baiana) e até um tema erótico-romântico da série de filmes Airport chamado "Airpot Love Theme", cheio de gemidos e sussurros. E se fuçar direitinho, encontraremos outras canções de amor cujo enredo se passa em aeroportos.
Mas o fato é que aeroportos são românticos na música como as estações de trem são românticas nas fotografias. Porém, as marcas de amor mais profundas sempre são deixadas no chão empoeirado e descuidado das rodoviárias. E rodoviárias, de fato, não são charmosas. Mas o amor desesperado, o sofrer pela distância futura ou separação inevitável o é? Então se disfarça o lado mais piegas do amor com aeroportos e trens mas as lembranças mais fáceis de serem revividas sempre estarão nas rodoviárias.
Aeroportos não guardam lembranças, têm memória curta. Isto se deve ao simples fato de que aeroportos sempre estão passando por reformas, ampliações e acabam se descaracterizando. Já as rodoviárias, a maioria delas, permanecem como exatamente são por décadas, a espera de reformas que nunca são feitas. E a despedida dos amantes, dos namorados, algumas delas definitivas, se torna bem mais marcante quando acontece em rodoviárias. Se estivermos novamente naquele mesmo lugar dali a 30 anos, a lembrança daquele momento dolorido será inevitável e arrebatadora
Curiosamente eu tenho uma história marcante de despedida em um...aeroporto! Mas eu tenho certeza mais que absoluta que, se um dia voltar àquela cidade, talvez nem me dê conta que já estive ali, naquele lugar, com o coração apertado, respiração ofegante e o olhar para trás em um vislumbre final de promessa de felicidade cancelada. Com certeza, se a despedida fosse em uma rodoviária, lá estariam as lembranças vivíssimas a me esperar com uma plaquinha em vez da pessoa amada.
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