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Até eu?

A maior de todas as impressões erradas a meu respeito é a de que eu seria ateu. Certo que, até eu mesmo já tive esta impressão errada sobre mim, mas faz muito tempo que meus dias de descrente se foram. Hoje acredito em um ser, não exatamente superior, não exatamente um ser, mas um agente "emanador", que está presente em mim e em tudo que vive sobre o universo.

Não acredito em céu, muito menos em inferno, também não acredito em vida após a morte, reencarnação ou ressurreição dos mortos. Acredito, da mesma forma que o ateu Stephen Hawking, na perfeita extinção. Morremos e sumimos do mundo para irmos a lugar nenhum. E deveríamos até nos sentir muito confortáveis com esta ideia, mas não. Queremos a prolongação das misérias terrenas, agora no paraíso, como se Deus fosse tolo o suficiente para contradizer seu agente mais que perfeito, a natureza.

Sim, porque a natureza, e consequentemente Deus, é dinâmica. Nela, nada se cria, tudo se transforma. A imortalidade humana é tão improvável quanto a existência de vida inteligente idêntica à nossa em qualquer outro canto do universo. A sobrevida após a morte não faz o menor sentido e não tem termo de comparação prático com tudo que existe e não foi feito pelas mãos humanas.

Ainda assim, ou talvez até, por isto mesmo, eu acredito firmemente em um criador. A despeito de nos acharmos muito melhores do que realmente somos, ainda creio que deve ser algum tipo de privilégio nascer humano.  Aliás, eu poderia até sequer nem ter nascido. Então, porque não me dar por satisfeito com o que eu já tenho, o sopro de vida que me foi ofertado pelo arquiteto do universo? Porque querer também um lugar reservado em algum céu? Porque querer reencarnar em outro corpo? Aliás, para que mesmo Deus iria se dar ao trabalho de criar um mecanismo assim tão complicado como a reencarnação? Não combina nada com  a essência transformadora da natureza, o único sinal visível para nós da existência divina.

Não acredito em religiões. Em religião alguma. Religiosamente falando, eu sou mesmo  um ateu. Penso que, se você quiser mesmo estar perto de Deus, afaste-se de religiões. Porque religiões o afastam de Deus, simples assim.  Faça o bem, seja bom e honesto como o próprio Deus ensinou através de Thiago. Mas não faça nada disto esperando salvação. Pratique a caridade e a retidão para se sentir bem. Faça por vaidade até. Mas faça. Porque a vida tem que ser vivida com prazer e leveza. A regra de ouro é não prejudicar a ninguém, inclusive, nem a você mesmo.

Uma certa vez, um amigo rabino me explicou porque não gostava do cristianismo. Segundo ele, o Torah, que, basicamente, é o nosso Velho Testamento, é um manual de vida terrena e não de vida após a morte. Para o meu amigo judeu, o cristianismo adiou a promessa do seu livro, de vida "aqui e agora" para apenas depois da morte. E, de fato, a certeza de vida que temos é esta aqui. É nesta vida que temos que ser felizes e não em outra que não sabemos se existirá.

Sim, eu acredito em um Deus. Pode não ser o mesmo em que você acredita, mas certamente, eu acredito em Deus também. Muitos jamais irão entender que, ao Criador, não se personaliza. Que o arquiteto não escolhe filhos, que Deus não atende demandas pessoais. Muitos jamais entenderão a verdadeira essência de Deus. Um destes pode ser você, ou ainda, pode ser até eu. Mas, se, enfim, acreditamos em um Deus, que continuemos em nossa crença.


Tirinha retirada do site "Um Sábado Qualquer"


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