O lado A começa energético com "Let´s Spend The Night Together", uma das mais deliciosas canções já gravadas pelos Stones. Depois, vem a igualmente apetitosa "Tell Me", uma das primeiras composições originais da dupla Jagger e Richard. "It's all over now" é um rhythm'n'blues violento de Bobby Womack, muito bem coverizado pela banda. "Good Times, Bad Times" é um blues comum, porém com um andamento levemente quebrado que o deixa mais palatável. "Time is on My Side" é a canção monstruosa de Jerry Ragavoy que os mais incautos juram ser dos Glimmer Twins. Mas não é. Gravada um ano antes pelo trombonista Kai Widing, com a participação de Cissi Houston e Dione Warwick, a canção só estouraria mesmo no ano seguinte, com o bando de Jagger.
"Heart of Stone" é uma balada sem muito brilho, enquanto "Last Time" é um rock virulento de riff repetitiva, prenúncio da fórmula que se repetiria carreira afora. "Play With Fire" é uma das minhas preferidas da banda, com sua letra forte, de tinturas niilistas. A última do lado A é o clássico absoluto "Satisfaction". Mas eu, particularmente, prefiro a versão do Devo.
O lado B abre com "Get off Of My Cloud", que também é uma das minhas preferidas, com sua batida "hip" hipnotizante. "I'm Free" e "As Tears Go By" são canções feitas para outros artistas que os Stones acabaram gravando. "19th Nervous Breakdown", como o nome sugere, é uma das canções mais nervosas gravadas pela banda. "Mother's Litlle Helper" e a soturna "Have You Seen Your Mother, Baby, Standing In The Shadows" são interessantes, mas é "Paint It Black", com toda a sua força negativa, que encerra o segundo lado de forma magnífica.
"Lady Jane" e toda a sua delicadeza abre o lado C, seguida de "Not Fade Away", cover sem brilho de uma canção igualmente sem brilho de Buddy Holly. "Ruby Tuesday" inaugura o psicodelismo no disco e a maravilhosa "Dandelion", um obscuro lado B, dá sequencia. "We Love You" é chata mas as cores de "She's a Rainbow" compensa. "2000 Light Years From Home" prova que psicodelismo não era mesmo a praia deles, encerrando, de forma meio amarrada, o terceiro lado.
"Jumping Jack Flash" abre o último e mais roqueiro lado, seguida de "Child Of The Moon" e a poderosa "Street Fighting Man". "Honk Tonk Woman", não fosse o irritante "cowbell", seria uma das melhores canções já gravadas pelos Stones. Mentira, é sim. Mas que esse agogô dos infernos irrita, irrita. "You Can Always Get What You Want" nunca foi das minhas preferidas, mas muita gente gosta. Já "Wild Horses" está entre as melhores baladas rock (ainda se usa este termo?) de todos os tempos. "Brown Sugar" encerra o lado 4 e o álbum duplo bíblico.
Sempre se discutiu quem seria melhor, Beatles ou Stones. Pelo conjunto da obra, sem dúvida, os Beatles foram muito mais consistentes, apesar das derrapadas aqui e ali. Focando apenas nos anos 60, percebe-se que os Stones foram muito mais uma banda de "singles" enquanto os Beatles, uma banda de discos completos. Com o final da carreira dos quatro de Liverpool e a entrada arrebatadora dos Stones nos anos 70, a banda de Jagger e Richard passaria a ser conhecida também pela excelência de discos completos, como Let It Bleed e Sticky Fingers.
Por terem me aberto as portas da percepção para o rock and roll (sorry, Jim Morrison), as 30 faixas deste álbum duplo tosco estarão sempre na minha memória afetiva e serão, eternamente, um de meus grandes tesouros da juventude.
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