Ontem, voltei do trabalho ouvindo Emerson, Lake & Palmer no som do carro e me senti, repentinamente, triste. Na verdade, nem foi tão repentinamente assim. Passei o dia meio angustiado, reflexivo sobre as cinco décadas quase completas de idade que já se avistavam ao longe no horizonte. Mas foi quando tocaram os primeiros acordes de Take a Peeble, segunda faixa do maravilhoso primeiro disco do trio, ainda de 1970, que eu senti, de fato, a tristeza tomar conta de mim. Ainda não sabia que o líder da banda havia acabado de falecer.
Alguns de meus maiores heróis - heróis de um homem sem heróis - se foram do planeta Terra em torno dos 50 anos de idade. Robert Palmer, Dee Dee, Joey e Johnny Ramone, além de Joe Strummer. E a chegada das tais cinco décadas de vida começa a me meter algum medo. Medo, nem tanto de morrer, mas de ir embora sem poder dizer que tenha sido plenamente feliz e realizado. Felicidade é uma experiência um tanto recente em minha vida e eu gostaria de experimentá-la por mais alguns anos, ainda que eu acredite firmemente em felicidade como um estado de "estar" e não de "ser".
Mas, que diabos!, este texto não era para ser sobre mim e sim sobre Keith Emerson. O tecladista do Emerson Lake & Palmer, falecido no dia 10 de Março de 2016, é um daqueles meus heróis improváveis da música. Tendo sido eu baterista e guitarrista bissexto, nunca tendo passado sequer perto de um piano, é no mínimo curioso que eu tenha tanta afeição assim por um tecladista.
Na verdade, nem era por causa de Emerson o meu amor pelo ELP. Minhas referências na banda eram Greg Lake, a quem considero um dos maiores - senão o maior - vocalistas do rock e Carl Palmer, cuja admiração que sinto vem dos meus tempos de baterista. Algumas vezes achei até melhor que não houvesse Keith Emerson no Emerson, Lake & Palmer. Tantas vezes o achei exagerado, presunçoso e ególatra. Hoje, percebo que não haveria ELP sem seu brilhante tecladista e que era ele a alma rock'n'roll daquela banda sem guitarras.
A lembrança mais remota de Emerson Lake & Palmer é de um vídeo da banda com os três caminhões de equipamentos, cada um escrito com o sobrenome de um deles, sendo filmados do alto por um helicóptero pertencente ao grupo. Eles foram realmente grandes nos anos 70 e, de tanto que os ouvi nos programas de música da Rede Globo, notadamente o Rock In Concert, acabei pegando gosto e os tornando uma espécie de "guilty pleasure" de um punk de boutique.
Keith Emerson foi embora aos 71 anos e a tristeza que sinto pela sua morte se junta à que senti por George Harrison e Doug Fieger, do The Knack, quando eles se foram. Isto sem contar Strummer e os quatro Ramones. O rock vai morrendo enquanto morrem como moscas os seus melhores nomes. Onde quer que se reúnam, no céu ou no inferno, a verdade é que, a cada dia, a eternidade vai ficando mais divertida e isto aqui vai ficando cada vez mais chato. Descanse em paz, Keith Emerson e obrigado por fazer parte da minha infância e juventude, tecendo a trilha sonora das viagens progressivas deste velho punk, que tanto fingiu te odiar, apenas para manter a fama de mau.
Comentários