Dos discos de cabeceira: The Brazilian Bitles - "É onda!"
The Brazilian Bitles - "É Onda!" (1967) - Ele ainda está lá. Catalogado na letra B, entre os discos de vinil de minha mãe, que sempre foi colecionadora de LPs (e também de compactos). Oficialmente é meu. Oficiosamente, é dela. Mas meu nome está lá em uma singela dedicatória. Foi meu presente de aniversário de um ano de idade, em 20 de setembro de 1967. De vez em sempre o sequestro, mas sempre sou obrigado a devolvê-lo. Mas que tipo de mãe é essa, que ao invés de dar um monociclo, um boneco do topo-gigio ou um brinquedo qualquer, presenteia o filho, ainda bebê, com um disco de rock? Certamente uma mãe viciada em boa música e que passou o vício para o filho.
Excentricidades à parte, devo confessar que ela acertou na mosca. Cresci ouvindo este disco e sei de cor todas as letras. Até o surgimento da internet e o estreitamento das informações disponíveis, os Brazilian Bitles eram, para mim, um segredo muito bem guardado. Quem eram aqueles caras? De onde eram e que fim levaram? Como um cantor com uma voz perfeita e roqueira como Fábio Block passou despercebido em meio a tanta mediocridade de ontem, hoje e sempre? Como aquelas canções autorais e versões perfeitas, não só dignas dos originais como em alguns casos, até superiores, não eram tão conhecidas como as canções de grupos da época como Os Incríveis, entre outros? Enfim, um bom tema para um Globo Repórter.
Bem, a história não era bem essa e o grupo teve sim, uma razoável projeção, embora muito inferior a que merecia. Teve até mesmo um grande hit, a versão para Wild Thing dos Troggs, que não consta deste "É Onda", seu primeiro disco. A sonoridade dos Brazilian Bitles aponta para o rock garageiro que se praticava nos EUA na segunda metade da década de 60. É sujo, no bom sentido, e dentro das limitações do seu tempo, na contramão do que se produzia à época.
Ouvindo as faixas deste disco é fácil de entender porque a Phonogram, atual Universal Music, não conseguiu enxergar o potencial desta banda e trabalhá-la da forma correta. Os Brazilian Bitles eram o tipo de banda pronta, sincera, sem maquiagem. Eles eram o que eram, crus, originais,inteligentemente contestadores (em "Não tem jeito", versão de "Satisfaction", dos Stones, driblam a censura vigente, falando de vícios de uma forma simplesmente brilhante) e, acima de tudo, roqueiros. "Faz feliz assim", a sua versão para "A Groovy Kind Of Love", de Wayne Fontana, faz sombra ampla ao original.
Burburinhos aqui e ali sempre dão conta de uma possível volta dos Brazilian Bitles. Que voltem sempre. E tragam à tona a faceta underground e pouco conhecida da Jovem Guarda. A garotada de hoje em dia precisa saber que aquele movimento não era feito apenas de calhambeques e garotas papo-firme. Era feita também de namoradas que adoravam os cabelos longos de seus namorados, como na sensacional "É onda", que dá título ao disco, ou de namoradas que detestavam a caretice de seus "brotos", como em "Não tem jeito". A Universal Music poderia aproveitar estes tempos de pirataria pesada e ganhar uns trocados resgatando do fundo do baú uma coletânea destes jovens senhores. O rock and roll nacional agradeceria.
Quando eu era menino, ainda ginasiano, lá pela sexta série, a professora resolveu fazer uma dinâmica bastante estranha. Naquele tempo ainda não tinha esse nome mas acho que ela quis mesmo fazer uma dinâmica, visto pelas lentes dos dias atuais. Ela pediu que cada aluno escrevesse uma carta anônima, romântica, se declarando para uma outra pessoa. Eu confesso que não tive a brilhante ideia de escrever uma carta anônima para mim mesmo e assim acabei sem receber nenhuma carta falando sobre os meus maravilhosos dotes físicos e intelectuais. Já um outro garoto, bonitão, recebeu quase todas as cartas das meninas da sala. E sabe-se lá se não recebeu nenhuma carta vinda de algum colega do sexo masculino, escrita dentro de algum armário virtual. Eu, é claro, escrevi a minha carta para uma menina branca que nem papel, de óculos de graus enormes e um aparelho dentário que mais parecia um bridão de cavalos. Ela era muito tímida e recatada, havia nascido no norte europeu mas já morava...
N ão sou ateu. Até já pensei que era, mas não, realmente, eu não sou. Isto não me faz melhor ou pior do que ninguém, mas eu realmente acredito em um Deus Criador. Bem que eu tentei ser ateu, mas a minha fé inexplicável em alguma coisa transcendental nunca me permitiu sê-lo. Também não sou um religioso, eu sou apenas um crente, ainda que tal palavra remeta a um significado que se tornou bastante negativo com o passar do tempo. Q uando falo aqui em ateu não falo daqueles ateus empedernidos, que vivem vociferando contra Deus, confundindo-o de propósito com o sistema religioso que O diz representar. Estes são até mais religiosos que os próprios religiosos, ansiosos de que convencerem os outros, e a si mesmo, de que um Deus não existe. Quando menciono os ateus a quem o Divino prefere, eu me refiro àquele tipo de pessoa que não se importa muito se Deus existe ou não, mas, geralmente, são gentis, solícitos, generosos, éticos e muito mais honestos que muitos religiosos. E u bem que tent...
E sta é uma história sobre rock e amizade. Não importa muito se você nunca ouviu falar de Wilson Emídio. Certamente, se você gosta das duas ou de uma das coisas - rock e fazer amigos - , você vai gostar do que vai ler aqui. E m 1984, eu tinha uma banda de rock chamada Censura Prévia. Ensaiávamos na sala de estar de minha casa, assim como os Talking Heads ensaiavam na sala de estar do David Byrne no início da carreira. Tanto que, ao ver aquelas fotos do disco duplo ao vivo da banda nova-iorquina, me remeto imediatamente àqueles tempos. E, por mais incrível que possa parecer, nós tínhamos duas fãs. Eram duas vizinhas que não perdiam um ensaio, sentadas no sofá enquanto se balançavam, fazendo coreografias, rindo muito e tomando refrigerante. Um dia elas resolveram criar um fã-clube para o nosso conjunto amador. Na verdade, elas mandaram uma carta para a revista Rock Stars, uma publicação de quinta categoria, mas baratinha e acessível aos quebrados ...
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