Há uma velha – e muito boa – canção que
se chama “What made Milwaukee famous”. A canção traz como subtítulo “Has made a
loser out of me” e fala de cerveja, porém, o que fez a cidade de Milwaukee, no esquecido estado
norte-americano do Wiscousin, se tornar famosa para mim – e, sem dúvida isto,
de alguma forma, é responsável pela minha parte “loser” que ainda existe hoje
em dia - foi a banda local Plasticland.

A RGE,
ligada à gravadora Som Livre, por sua vez ligada á Rede Globo, era uma companhia com pouca ou nenhuma tradição
em lançamentos de rock. Os discos foram lançados por aqui de qualquer jeito,
sem divulgação alguma ou até mesmo qualquer informação sobre as bandas. Foi
assim que aportaram no Brasil, maravilhas de bandas excelentes como TSOL, 45
Grave, Tex & The Horseheads, Green on Red e esta absoluta maravilha sonora
que é Plasticland, o disco.

O disco abre com a grandiosa versão de Alexander, dos Pretty Things, uma das maiores influências da banda do Wiscousin.
Aqui a pegada é punk, com uma guitarrinha fuzz permeando o corpo da canção até
desembocar em um refrão encharcado de LSD. Na seqüência, vem “Disangaged from the
world”, que soa como um Echo & The Bunnymen com a libido no último volume.
“Her decay” e “The Glove” são corretíssimas
mas é quando começa “Sipping in The Bitterness” (afogado em amargura) que bate
aquela vontade de se matar. Nunca uma história de amor foi tão desconstruída
quanto nesta pequena obra-prima.
“The garden in pain”, com sua pegada a
La Bo Diddley, com Rehse caprichando em sua voz de
chapeleiro maluco, é a faixa seguinte: Enérgica, nervosa, breve. Quase como um
“baque” de açúcar marrom.
“Elongations”, uma das melhores faixas do disco, dobra tudo que é energia,
nervosismo e brevidade,com uma guitarra fuzz urgente permeando os menos de dois
minutos que a canção dura. ”Driving Accident Prone”, uma fatídica canção sobre
alguém que resolve se suividar em um acidente de carro, encerra brilhantemente
o lado A. Algumas edições em CD trazem a
canção “Collor Apreciation” como nona faixa. Apesar de muito boa, ela parece
mesmo deslocada em meio às outras. Foi bom, tê-la retirado do LP, foi bom tê-la
colocado na edição em CD.
O lado B de Plasticland começa com “Wallflowers” e começa totalmente para
baixo. Pelo jeito, Glen Rehse não
tinha mesmo muita sorte com as mulheres. “Wallflowers” é cortante de tão
triste. E os arranjos etéreos de teclados, que vêm do nada e somem para lugar
nenhum, não ajudam a melhorar o clima. Se você está em uma desilusão amorosa no momento, melhor pular esta faixa.

O Plasticland
lançaria outros discos igualmente bons, cheios de idéias interessantes e música
idem, mas a energia, o rancor, a tristeza, a dilaceração da alma presentes em Plasticland, o álbum, jamais seriam
repetidas. Se no céu – ou mesmo no inferno – tiver vitrola, quero levar uma
cópia deste disco comigo.
Comentários