Há alguma coisa de muito estranha na água do estado norte-americano de New Jersey, vizinho à cidade de Nova Iorque, que faz com que as bandas de lá, por mais pop que eventualmente queiram parecer, sempre descambam, de alguma forma, para o metal. Skid Row, Bon Jovi, Overkill. Trixter, Monster Magnet e muitas outras surgiram naquele que é o estado mais urbanizado dos Estados Unidos.
Os três membros restantes, Larry Gonsky, Pieter Sweval e Joe X recrutaram o vocalista Michael Lee Philips e o guitarrista Richie Ranno e formaram o Fallen Angels. Com um contrato com a Capitol e a associação com o empresário do Kiss, cujo baixista Gene Siimmons adorava "apadrinhar" bandas novas, trocaram de nome para Starz e gravaram o disco de estréia, ainda em 1976.
Em 1976, a onda power-pop já varria os Estados Unidos de leste a oeste e de norte a sul. Diferentemente da sonoridade que a imprensa batizou genericamente como "new wave", o power-pop se caracterizava por melodias assobiáveis, canções radiofônicas e um imenso conformismo nas letras. Aquele som dominou a terra de Tio Sam por quase toda a década de 70.
Com o Starz não seria diferente. Emulando uma mistura muito peculiar do frescor do power-pop com o peso do heavy-metal, a banda soltou um disco de estréia pesado, chamado simplesmente "Starz", que flertava com a sonoridade do Kiss, a banda que os apadrinhou. O disco foi muito mal recebido pela crítica de rock, que andava com os três pés atrás com bandas do que eles chamavam de "rock de arena". Uma injustiça, pois já em seu primeiro disco, o Starz trazia o mix de música pesada e melodias grudentas que faria a sua fama nos anos seguintes. Ainda assim, teve um desempenho bem interessante junto ao público, tendo sido lançado até mesmo no Brasil.
No ano seguinte, em 1977, o grupo solta "Violation", bem mais resolvido conceitualmente e com a vertente pop do grupo mais evidente. O hit Cherry Baby chega aos primeiros lugares das paradas americanas transformando Starz instantaneamente na mais nova paixão nacional. Mais um single, "Sing It, Shout It" e eles se credenciam para um novo disco ao final do ano.
"Attention Shoppers", com sua capa hilária, ("Atenção, compradores!") uma piada com as acusações de "vendidos" que a banda passou a sofrer, mostra que eles estavam preparados para a guinada comercial que dariam a partir do terceiro disco, com mais ênfase ainda no lado pop da banda e deixando o hard-rock cada vez mais de lado. Este disco é uma coleção de de canções mais maduras e denota um pulo de qualidade evidente em relação aos dois anteriores."She", "Hold On To The Night", "Johnny All Alone" e a divertida "Good Ale We Seek" estão entre as grandes canções produzidas pelo power-pop ianque em todos os tempos.
Em 1978, repetem a dose com "Coliseum Rock", que traz o mega-hit "So Young So Bad". Porém, com a queda nas vendagens, a Capitol não renova o contrato com a banda, que se desfaz em 1979, voltando a se reagrupar em 1996 e permanecendo na ativa até hoje.
Obviamente, Starz não alcançou a relevância que mereciam, mas acabaram sendo citados como influência de 11 de cada dez bandas de hair-metal surgidas nos anos 80. O que é outra injustiça, afinal o trabalho do grupo, ao menos nos quatro primeiros LPs, era de uma consistência infinitamente maior que o dos grupos que supostamente inspiraram.
No ano 2000, saiu, pela gravadora Renaissance, a excelente coletãnea "Brightest Starz", trazendo todas as canções essenciais da primeira faze do grupo. Starz é completamente recomendável para fãs de metal que curtem rock tradicional ou fãs de power-pop que gostem de som pesado na linha do Cheap Trick. Estão para o crossover de power-pop e metal como o Motorhead está para o metal e o punk. Uma banda para verdadeiros apreciadores, Starz merecia, sem dúvida, um lugar de muito mais destaque na história do rock and roll.
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