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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - RICHARD HELL & JONATHAN RICHMAN


RICHARD HELL & THE VOIDOIDS - "Blank Generation" (1977) - Nada mais difícil do que tecer qualquer comentário que não seja óbvio sobre um clássico absoluto. São 12 canções em 40 dos melhores minutos que o rock possa um dia ter presenciado. Desde a abertura, com uma faixa muito bem intitulada "Love Comes In Spurs" (O amor usa esporas), até o final, com uma trôpega versão de "All The Way", de ninguém menos que Frank Sinatra, "Blank Generation" é muito mais do que a coletânea de polaroids de uma época, que realmente é. É um álbum conciso, sem nenhuma indulgência, onde nenhuma nota é supérflua.

Com uma qualidade de som fenomenal para as condições em que foi gravado, o disco contém clássicos como "New Pleasure", presente em qualquer set list ao vivo de toda banda punk daquela safra, e "The Plan", desaconselhável para aqueles que insistem em achar que os Strokes tiraram aquele som todo de nenhum lugar. O CD "Blank Generation", além da faixa-título, traz todas as canções que fazem parte da famosa demo gravada pelo Television para a Elektra, ainda com Hell no baixo. Uma curiosidade é a chupação de Malcom McLaren, que, na ânsia de imitar o artista, obrigou Sid Vicious a também regravar uma canção de Sinatra, que é - óbvio - "My Way".


JONATHAN RICHMAN - "Her Mistery Not Of High Heels And Eye Shadow" (2001) - 
Jonathan Richman é um músico que surpreende sempre sendo absolutamente igual. "Her Mistery..." não traz nenhuma novidade para quem conhece e admira o artista. Estão lá o chantilly naive que costuma dar cobertura ao recheio pop-fifties de músicas ultramelodiosas que descrevem profundamente as mazelas e alegrias de relacionamentos de tal forma que não há como não nos identificarmos com o que ele canta em seus brilhantes versos. 

As tradicionais versões em um corretíssimo espanhol de suas músicas já gravadas em inglês e a banda econômica de sempre (violão de cordas de nylon, baixolão, bateria de duas peças e sax) também estão lá. Ainda assim, seu disco mais recente, que é apresentado como um "disco sobre relacionamentos", soa diferente, com cheiro de clássico, e com uma sonoridade mais densa e robusta. A faixa-título, que abre o disco, é uma contundente reflexão sobre o universo feminino onde Richman solta pérolas como "Well she laughs when she wants like you do when you're five years old / she loves the faded colours of the dark just like I do" não se rendendo ao óbvio para descrever os mistérios de como uma mulher seduz um homem quando quer.

"Springtime In New York" é uma daquelas faixas que podem ser citadas como exemplo típico da musicalidade sedutora de Jonathan. Entre as vertidas para o espanhol, a belíssima "Yo Tengo Una Novia" e a curiosa "El Jovon Se Estremece" são os destaques. O clássico "Vampire Girl" ganha aqui uma versão em espanhol, "Vampiresa Mujer", que faz o que já era ótimo ficar ainda melhor. Forte candidato a melhor da década, pelo menos entre os fãs do artista.







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