TALK TALK - It´s My Life (1986) - O assim chamado movimento technopop, com suas bandas de nomes duplos, futuristas ou onomatopaicos, praticamente todas vindas da ilha britânica em meados dos anos 80, sempre foi tratado de forma jocosa e/ou preconceituosa pela imprensa musical. Trazendo no bojo a clara influência da eletrônica dos alemães do Kraftwerk e do pop progressivo de outros alemães como o Can e o Tangerine Dream, os integrantes da coldwave (outra denominação comum a estes grupos) adicionavam pitadas do pop do Roxy Music e do experimentalismo de David Bowie. Tudo coberto com creme crocante e chocolate Nestlé. Ou seja, pop music de primeira qualidade.
Foi justamente por tanta afinidade com a música “fácil” e/ou “comercial” que alguns deste grupos passaram para a eternidade como produtos presumidamente descartáveis. Um deles, a esquisita banda Talk Talk. Apesar de ter três maravilhosos discos em seu currículo, a banda inglesa nunca conseguiu (pelo menos no Brasil) escapar da pecha de banda de um hit só. Tudo culpa da exposição maciça aqui e no resto do mundo de seu segundo single, “It´s My Life” , que os catapultou ao olimpo pop e os derrubou tão rapidamente quanto subiram.
O grupo, que não era uma dupla e sim um trio, criou em seu primeiro disco um conjunto de pepitas como poucos artistas conseguiram em seus discos de estreia. “It´s My Life” , o disco, é confessional e triste, maduro e adolescente, pesado e lírico, doce e amargo, um manifesto doloroso e perfeitamente injustiçado. A simplicidade da música contrasta com o detalhismo dos arranjos e...surpresa! Em boa parte das faixas o teclado ganha tanto destaque quanto outros instrumentos, vide o riff de guitarra desesperador que pontua a magnífica “Tomorrow Started”.
A inconfundível voz de Mark Ellis, anasalada, triste, quase monocórdica, uma espécie de Brian Ferry em estado terminal, e suas letras soturnas e poéticas, precisam ser redescobertas principalmente hoje, quando se costuma olhar para trás com tanta condescendência. São nove faixas no CD importado, em edição norte-americana. Momentos altos do disco: ”Such a Shame” , “It´s My Life”.
Outros destaques: “Dum Dum Girl” , “Renée” , “Tomorrow Started”. Momento Fraco: “It´s You” Canções Restantes: “The Last Time”, “Call In The Night Boy”, “Does Caroline Know?”. “Such a Shame” tem um clima depressivo que ilustra bem a tônica do disco, “It´s My Life” é o clássico das pistas dos anos 80. “It´s You” nem de longe é uma música ruim mas entrega de cara a que veio, ser uma repetição do sucesso de “It´s My Life”. Acontece que um raio (quase) nunca cai no mesmo lugar.
TELEVISION - "Marquee Moon" (1977) - Quando este disco foi lançado no Brasil, a edição em vinil trazia impressa na capa o aviso que se tratava de um disco de "Punk Rock". Muita gente foi levada a comprá-lo apenas por esta referência e geralmente se decepcionava ao ouvir o art-rock econômico da banda de Tom Verlaine. Não sei se o funcionário da WEA responsável pela brilhante ideia sabia o que estava fazendo, mas este realmente era um álbum de punk rock. Não o punk sujo e mal tocado forjado por Malcom McLaren na Inglaterra, mas o punk original, o movimento que reunia bandas díspares como o Blondie, os Talking Heads, Ramones e Patti Smith Band na Nova Iorque da década de 70, em torno do ideal de trazer o formato pop de 3 minutos de volta ao rock.
Com exceção de See No Evil, um rock energético, o disco é pontuado pelas guitarras metidas-a-besta de Tom Verlaine e Richard Lloyd em canções lentas e contraditoriamente densas, a despeito da enorme simplicidade e até mesmo das limitações técnicas dos músicos. Como em algumas bandas da época, as letras são o ponto forte de várias músicas como a machista "Prove It", que inspirou, junto com "Sorrow" do The McCoys, o criativo Marcelo Nova na confecção de sua "Silvía", mas as letras nunca foram editadas nem no vinil nem em CD. Não, pelo menos, nas edições que eu tive.
Por muitos anos o Television foi rotulado como uma banda chata e pretensiosa, até que começou a ser citado como influência por gente como The Cure, Siouxie And The Banshees e The Smiths. O que se seguiu foi uma interessante mudança de postura em relação ao grupo. O que antes era chato, agora era cult. O que não resultou em aumento de vendagens para a banda. Até 1999, seus dois únicos discos para a Elektra, haviam vendido juntos, no mundo inteiro, reedições em cd inclusas, a bagatela de 800 mil cópias. Quatro delas foram adquiridas por mim.
Curiosidade: em 1979, a banda foi dispensada de sua gravadora. A dificuldade de comunicação com Tom Verlaine se somou à chegada de uma outra banda, mais comercial, que era praticamente idêntica ao Television. Se chamavam "The Cars" e vinham de Boston, que estava para Nova Iorque, assim como Niterói está para o Rio de Janeiro. A edição americana em CD tem as mesmas oito faixas do LP. Momentos altos do disco: "See No Evil", "Prove It", "Torn Curtain". Destaques: "Friction","Guiding Light". Momento fraco:"Marquee Moon". Outras Canções:"Venus","Elevation".
Muita gente irá me crucificar por considerar Marquee Moon ponto fraco do CD. Acho que Marquee Moon, o disco, é quase perfeito. O ponto destoante é justamente a faixa-título, que é boa, mas é grande demais, pretensiosa demais, tomando o espaço de uma hipotética nona música.
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