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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - DIRE STRAITS E THE WOODENTOPS.

DIRE STRAITS "Dire Straits"  (1978) - Afirmar que o dinossauro chato e tedioso em que se transformou o Dire Straits, já foi um dia uma eficiente, econômica e inovadora cult-band, geralmente associada à explosão da new wave no Reino Unido, no final dos anos 80, pode parecer delírio aos ouvidos de quem tem menos de 40 anos de idade. Gente que se habituou à ver a silhueta de Mark Knopfler na capa da coletânea Money For Nothing e associá-la a canções modorrentas e pretensiosas e até mesmo a Sultans Of Swing, presente neste disco e tocada à exaustão desde o seu lançamento no Brasil.

Quando surgiu, em 1978, o grupo se afinava muito com o panorama musical da Inglaterra na pós explosão do punk, apesar de não trazer em seu som nenhuma influência óbvia do movimento. Pelo contrário, apesar de simples, seu som já era muito sofisticado para o padrão da maioria das bandas da época. Influenciados por gente como Eric Clapton e Dr. John e com o toque de conjunto de pub a la Dr. Feelgood, o Dire Straits cometeu um disco cru, impressionantemente bem gravado, com canções densas e curtas, sem refrães, pontuadas, é claro, pela guitarra de Knopfler. Nem por isso, se trata de um disco de guitarrista. O baixo de John Isley impressiona pela precisão, tendo espaço para escalas bem trabalhadas, e parece se fundir com a bateria eficiente e na medida certa de Pick Withers. David Knopfler, irmão de Mark, responsável pela guitarra-base é apenas correto, fazendo a cama para os passeios do guitarrista principal.

O disco só estourou no Brasil no final de 79, quando o Dire Straits já havia lançado lá fora o segundo disco, Communiqué, uma espécie de continuação do primeiro, com o resto das canções que eles costumavam apresentar nos bares de Londres, antes da fama. Os novos fãs tupiniquins podiam, assim, adquirir simultaneamente dois trabalhos da banda. Algumas curiosidades: Dire Straits só viria a realmente fazer sucesso nos EUA em 1986 com o single Money For Nothing, quando já era nosso velho conhecido. A versão do single de "Sultans Of Swing" é levemente diferente da versão do LP, sendo um outro take da música, o que muito pouca gente percebe. Desista de ouvir esse disco em CD. O baixo foi destroçado nas versões digitais do álbum. O LP tem nove faixas e foi lançado no Brasil pela Polygram. Maior Momento do Disco:"Wild West End", "Sultans Of Swing". Destaques:"Down To The Waterline","Water Of Love","In The Gallery". Momento fraco:"Lions".Outras Músicas:"Setting Me Up","Six Blade Knife","Southbound Again".

"Wild West End" é uma balada folk com toques de soul que se destaca da maçaroca de blues-rock do resto do disco, assim como a própria "Sultans Of Swing", uma ode a New Orleans com toques sonoridade típica desta cidade. "Lions" se destaca também por ser diferente, mas é mais pop e não acrescenta nada ao disco. Não por acaso é a última faixa do LP.


THE WOODENTOPS "Giant" (1986) - The Woodentops surgiram ainda nos primeiros anos da década de 80, quando a primeira leva da assim chamada segunda invasão do british rock alcançava o seu auge. The Smiths haviam se tornado a mais respeitada banda de rock da Europa e elevado seu selo, a independente Rough Trade à condição de avalista de qualidade dos grupos que lançava. O sucesso dos Woodentops, egressos de Northhampton, Inglaterra, foi imediato em seu país natal e não demorou muito para que eles fossem aclamados com os usuais epítetos: "salvação do rock", "maior banda do momento", etc.

O som do grupo em Giant era uma espécie de folk-punk muito bem tocado com pitadas de música country, jazz e psicodelia. Os arranjos eram extremamente criativos e as melodias irresistíveis. O próprio Morrissey, vocalista dos Smiths se disse influenciado pelo som do grupo na composição de seu sucesso "Ask". Em seu single de 1987, "Friends", Adam Ant brincava com o extremo prestígio do grupo, citando-os como pessoas de quem era up ser amigo.

Curiosamente a banda nunca fez muito sucesso fora da Europa, nem mesmo no Brasil, que sempre manteve um gosto musical independente de Tio Sam (vide Roxette, A-ha, Duran Duran fase anos 80, quase que perfeitos desconhecidos na terra de Bush), embora todos os seus discos fossem lançados à época em vinil. Mas nunca é tarde para descobrir a música bela e ao mesmo tempo energética e delicada da banda, que, sim, poderia ter sido...gigante.

São 12 canções na edição importada lançada pela Sony nos EUA com capa diferente da do Lp original (que está reproduzida acima). Momento alto do disco:"History","Last Time" Destaques:"Good Thing","Love Train","Hear Me James", "Love Affair With Everyday Living","So Good Today","Shout" Momento fraco:"Everything Breaks". As outras canções:"Get It On","Give It Time","Travelling Man".

"History" e "Last Time" poderiam entrar facilmente em uma lista das mais assobiáveis canções do pop inglês. O clima vaudeville de "Last Time" foi assumidamente surrupiado pela banda feirense LP & Os Compactos, em seu cult-hit Segundo. "Everything Breaks", a bem localizada última música do disco, apesar de boa, é a única derrapada do grupo, numa faixa lenta e messiânica, lembrando curiosamente o U2 fase Rattle And Hum de alguns anos depois.










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