Em 1980, o termo heavy-metal parecia ser um rótulo definitivamente fora de moda. Em meio a tantas novidades - deste e do outro lado do Atlântico - seria difícil imaginar que um gênero tão hermético quanto o metal pudesse, àquela altura, trazer qualquer novidade para um cenário onde grupos apareciam por minuto, com propostas extravagantes, onde a palavra de ordem era fusion. Foi quando uma banda esquisita, vestida com couro e camisas listradas, apareceu no programa da TV inglesa Top Of The Pops, um equivalente ao cafona nacional Globo de Ouro. A esquisita banda dublou uma canção inconfundivelmente metálica mas que, com sua batida tribal e suas riffs roubadas do punk-rock, soava surpreendemente moderna naqueles tempos modernos.
A canção era Running Free e o grupo era, é claro, o Iron Maiden. Com o lançamento do álbum epônimo, a banda trouxe à tona a existência de outros grupos, igualmente metálicos, mas todos inferiores e sem o brilho do Maiden. A imprensa, eternamente interessada em rotular, logo inventou a nova onda do heavy-metal inglês e os anos 80 e sua miríade de estilos, não ficariam sem sua dose de som pesado.
Mesmo com uma sonoridade que não fugia das regras do heavy metal, o Iron Maiden trazia uma percepção diferente para o gênero. Tanto que arrebanhou alguns punks entre seus primeiros fãs, o que deixava o líder, o baixista Steve Harris surpreso e preocupado:
-"Claro que me interesso por punk-rock e o estilo é até uma de nossas influências mas somos e seremos sempre uma banda de metal", dizia ele em entrevistas da época. Mas o que ele esperava? Em outra entrevista, o guitarrista Dennis Stratton afirmava que "o Maiden é um cruzamento de Ramones com Jethro Tull, ou seja, a viabilização do absurdo".
Mesmo com uma sonoridade que não fugia das regras do heavy metal, o Iron Maiden trazia uma percepção diferente para o gênero. Tanto que arrebanhou alguns punks entre seus primeiros fãs, o que deixava o líder, o baixista Steve Harris surpreso e preocupado:
-"Claro que me interesso por punk-rock e o estilo é até uma de nossas influências mas somos e seremos sempre uma banda de metal", dizia ele em entrevistas da época. Mas o que ele esperava? Em outra entrevista, o guitarrista Dennis Stratton afirmava que "o Maiden é um cruzamento de Ramones com Jethro Tull, ou seja, a viabilização do absurdo".
A verdade é que muito do som cru e direto presente nos dois primeiros discos do grupo se deve à real presença de dois estranhos no ninho, o já citado guitarrista Dennis Stratton, egresso de uma pub-band, movimento que foi o "berço" do punk rock na Inglaterra (inclusive até mesmo algumas destas bandas, como Stranglers e Dr. Feelgood, são até hoje chamadas de punk) e o polêmico Paul Di'Anno, punkster que, no Brasil, seria chamado de traidor do movimento, pela sua suspeitosíssima aproximação com músicos do metal.
Quando Killers, o segundo disco, saiu, em 81, foi recebido com uma certa decepção, pois apenas repetia fórmulas do primeiro disco, sem canções fortes como Prowler e Running Free. Mas o tempo se encarregou de provar, que apesar das deficiências, era também um grande álbum. A má recepção sofrida por Killers (com críticas ao antes elogiado desempenho vocal de Di'Anno) e as constantes bebedeiras do vocalista, fizeram Harris tomar uma decisão drástica e arriscada. Trocar de cantor naquele momento, em que a banda estava cada vez mais prestigiada dentro e fora do circuito metálico, poderia ser um erro do qual dificilmente eles se recuperariam. Sem contar que, se eles optassem por um outro vocalista "punk", o que nem sequer era um truque de marketing (a utilização de um vocalista de outro estilo musical) poderia passar a soar como uma trapaça. E ter, ou pelo menos parecer ter credibilidade, musicalmente falando, era crucial naqueles tempos pré-internet. Ao mesmo tempo, a presença de um vocalista convencional poderia transformar o Maiden em apenas mais uma banda de metal.
É por isso que Number Of The Beast, o terceiro da banda e o primeiro com o novo vocalista Bruce Dickinson, lançado em 82, soava tão hardcore. A primeira faixa do disco, Invaders, era um punk-metal antenado com o som casca-grossa do novíssimo movimento Punks Not Dead (de onde viriam bandas como Exploited e Cockney Rejects, fãs declarados do Maiden), mas a milhas de distância em matéria de competência musical. O efeito da mudança no Iron Maiden foi devastador. O fenômeno, até então restrito à terra da rainha, logo tomou conta dos Estados Unidos e em seguida, do mundo inteiro. Enquanto isso, o tal movimento da nova onda de metal, continuava dando seus frutos. Na Inglaterra, um monte de clones do Maiden, miseravelmente inferiores, surgiam por minuto. Nos Estados Unidos, que sempre parecem entender tudo de forma enviesada, estava inaugurado o assim chamado hair-metal, que daria ao mundo as piores bandas de (heavy) rock de todos os tempos.
O lançamento de Piece Of Mind, em 1983, trouxe uma novidade. O Maiden, até então identificado com o punk, parecia estar levando mesmo à sério aquela história de "new wave of heavy metal". O som agora estava mais "leve" e era possível entreouvir aqui e ali até uns corinhos pop, como na excelente "Die with your boots on". As letras, as melhores entre todos os discos do Maiden, soavam sarcásticas e o bom-humor permeava o álbum. Até porquê, como disseram à época do lançamento, eles não acreditavam no metal "como uma religião, um culto, um estilo fechado em si mesmo". Bem, os fãs não pensavam da mesma forma e Piece Of Mind se tornou o disco menos vendido do grupo até então.
Vendo seu prestígio e sua fonte de renda ameaçados, o Maiden, em seu quinto disco, Powerslave, de 1984, finalmente resolveu abdicar de qualquer ideal renovador e se tornar mais uma banda de heavy-metal. Perdeu muitos de seus fãs de fora do circuito metálico, mas se tornaria uma lenda do estilo com o decorrer dos anos. Por quatro anos, o Iron Maiden, assim como o Motorhead fez e faz em quase trinta anos de carreira, provou que o Metal não precisa ser igual para ser bom.
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