Eles se definem como artesãos de um "pop psicodélico" mas são, na verdade, exímios construtores de um delicado, porém resistente, artefato eletrônico onde estão guardadas melodias suaves e letras introspectivas como há muito não se via ou ouvia na música moderna. Antes se chamavam Charlie Everywhere, nome com o qual gravaram dois EPs. Hoje atendem por Phantogram e contam mais um álbum, Eyelid Movies, o de estréia, lançado em 2009, antes deste Voices, seu último e melhor lançamento, de 2014.
Oriundos de Nova York, Josh Carter (guitarra e vocais) e Sarah Barthel (vocais e teclados) citam como influência artistas como David Bowie, Beatles, Yes e Cocteau Twins, mas é neste último e no obscuro grupo oitentista Strawberry Switchblade que é calcada a sua sonoridade. Calcada não é exatamente a palavra, pois o Phantogram não os copia e sim, os depura. A originalidade da dupla é evidente, ainda que nos remeta a coisas tão díspares quanto o Ministry e os Carpenters.
Nothing But Troubles, a música que abre "Voices", de fato, não foi a melhor escolha para ser a primeira do disco. Imagino que funcione magnificamente como início de um show, mas, ao menos no álbum, ela poderia figurar lá pelo meio do lado B. Ainda assim, pega o ouvinte pelo ouvido com seus grooves e seus ruídos, mas não representa, nem de longe, o que está por ouvir.
O papel de música de abertura bem serviria para a magnífica (e radiofônica) Black Out Days, com sua melodia sinuosa e refrão imponente. Fall In Love já descortina a miríade de melodias e climas que ainda se ouvirá ao longo do disco. Uma excelente canção para dias frios e chuvosos, Never Going Home, cantada pelo guitarrista Josh carter, remete ao Genesis de Phil Collins e é, disparado, a melhor do disco, ainda que a voz de Sarah Bartel jamais comprometa qualquer outra canção do CD.
The Day You Died entrega as influências pós-punk da dupla, enquanto Howling At The Moon é onde fica mais evidente o lado Cocteau Twins do duo. Bad Dreams é um momento mais fraco do disco, logo compensado pela curiosa e impressionante Bill Murray, uma tocante citação ao comediante. I Blame You, também é cantada por Carter, mas é apenas correta. Celebrating Nothing é pungente e My Only Friend é uma excelente canção para fechar um disco perfeito, até mesmo em suas imperfeições.
Aos ouvidos mais tradicionalistas, Phantogram talvez pareça eletrônico demais. Aos ouvidos mais modernos, excessivamente pop. Mas, ainda assim, segue sendo uma das coisas mais interessantes do cenário musical atual que, dizem alguns, anda cansativo, insignificante e sem importância. Não é, de forma alguma, o caso deste grupo norte-americano.
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