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Mostrando postagens de novembro, 2015

Educação Artística: "Fresh Fruits For Rotting Vegetables" - Dead Kennedys (1980)

Q uando Marcelo Nova tocou algo da banda punk californiana  Dead Kennedys  no seu programa Rock Special , lá pelos idos de 81, na Aratu FM, de Salvador. o então radialista usou e abusou da sua peculiar esperteza musical. Selecionou as canções mais palatáveis do álbum, deixando de fora os hardcores e os punk-rocks 4x4, se fixando nos, por assim dizer, "hits" do disco. A sequencia das que foram apresentadas naquela quarta, no Rock Special, ficou na minha  memória afetiva durante anos: "Chemical Warfare", "California Uber Alles" e "Holiday In Cambodja". Marcelo Nova havia acertado quais eram as melhores do disco com precisão cirúrgica. D urante anos, até o disco, surpreendentemente, sair no Brasil, em 1986, pela gravadora Continental, com vinil colorido branco e poster-encarte gigante, os fãs dos Dead Kennedys que estavam longe demais das capitais, apenas podiam imaginar como seriam as outras músicas de Fresh Fruits For Rotting Vegetable

Tesouros da juventude: Widowmaker - "Too Late To Cry" (1977)

W idowmaker é um grupo inglês formado ainda na primeira metade dos anos 70 por integrantes secundários de grandes - ou nem tanto assim - bandas daquela época. Seu membro mais prestigiado era Luther Grosvenor , ex-guitarrista do Spooky Tooth e Mott The Hoople , também conhecido como Ariel Bender . Da formação que gravou o primeiro disco, ainda havia Huw Lloyd-Langhton , guitarrista egresso do Hawkwind , Bob Daisley , baixista do Uriah Heep e Paul Nichols , baterista do Lindsfarne . Nos vocais, Steve Ellis , que vinha de uma banda, o Love Affair , com um  hit mundial, "Everlasting Love". Esta formação gravou o primeiro disco, de 1976, sendo Ellis substituído pelo novato John Butler para a gravação do segundo disco. Q uando "Too Late To Cry", o segundo disco do Widowmaker , foi lançado, em fevereiro de 1977, a recepção do público surpreendeu a todos e o álbum foi direto para lista dos 200 mais vendidos nos Estados Unidos. Parecia que finalmente chegara a hora d

Dogmas tecnofascistas.

E m 1982, Marcelo Nova , o então cantor e letrista do grupo baiano Camisa de Vênus ,  previu, com mais de duas décadas de antecedência, o fenômeno das redes sociais, particularmente o facebook e o portento da dogmatização da frivolidade. A música se chama "Dogmas Tecnofascistas" e eu sempre a citava como uma das poucas músicas da banda com um texto que eu considerava menor, aparentemente incoerente e não segmentado, como não costumavam ser as letras do grupo no início da carreira. A canção, como o nome diz, trata de fascismo tecnológico, e ouvida hoje em dia, ganha um assombroso e insuspeito sentido. Percebam: "Entrou e ficou impressionado Com essa porcaria aí do seu lado Ela vai fazer sua vida completa O homem de sucesso atinge sua meta Tudo tão legal, de se admirar Tudo alto astral Acho que vou... vomitar! Novos dogmas são planejados Velhos anseios são adaptados O tecnofascista mostra o caminho "Siga a matilha ou vai morrer sozinho&quo

Um disco por ano de vida: Led Zeppelin - "Led Zeppelin IV" (1971) - Parte II

Q uando o Led Zeppelin se reuniu para gravar aquele que seria seu quarto disco estava fortemente pressionado pela gravadora para dar um nome ao próximo trabalho.  A banda, apesar d a boa recepção pelo publico, o que se refletia nas  vendagens altas e nos shows lotados, não teve a mesma  recepção junto á crítica. E um dos pontos em que a crítica especializada "pegava no pé" do grupo era justamente o fato de que seus três primeiros discos não haviam recebido título algum e eram parecidos demais uns com os outros. D e fato, o acréscimo dos algarismos romanos aos segundo e terceiro discos foi, literalmente, "arte" da gravadora. A depender da banda, todos os três discos se chamariam apenas "Led Zeppelin". Porém, a acusação de que seriam discos repetitivos definitivamente não procede.  Quando surgiu, o Led Zeppelin não passava de uma continuação rasteira da banda anterior de Page, os Yardbirds . Tanto que a ideia inicial para o nome era "New Yardb

Um disco por ano de vida: Led Zeppelin - "Led Zeppelin IV" (1971) - Parte I

A minha relação com o disco Led Zepelin IV vem de longa data, de bem antes de quando eu comecei a gostar de rock. A primeira vez que ouvi a banda de Page e Plant foi no programa Rock In Concert , que passava nas tardes de sábado da TV Globo. Confesso que eu não gostava, nem do Led Zeppelin, muito menos do programa. Aliás, eu não gostava nem de rock. Naquela época, eu já era fã incondicional dos Jackson 5 e ter o maravilhoso seriado em desenho animado cancelado para ter que suportar aquele monte de cabeludos barulhentos na TV nas minhas tardes de sábado não contribuiu muito para que eu me tornasse o rocker'n'roller que sou hoje. M as, desde aqueles tempos, uma canção da banda arrebatou o meu coração: "Stairway to Heaven". Além de um exímio funqueiro - em um tempo que gostar de funk era gostar de James Brown e não de MC Brinquedo - , eu também era um fã incondicional de baladas. E foram as baladas roqueiras que acabaram descortinando o mundo do rock para aque

De cima do baú: Phantogram - "Voices" (2014)

E les se definem como artesãos de um "pop psicodélico" mas são, na verdade, exímios construtores de um delicado, porém resistente, artefato eletrônico onde estão guardadas melodias suaves e letras introspectivas como há muito não se via ou ouvia na música moderna. Antes se chamavam Charlie Everywhere , nome com o qual gravaram dois EPs. Hoje atendem por Phantogram e contam mais um álbum,  Eyelid Movies , o de estréia, lançado em 2009, antes deste Voices, seu último e melhor lançamento, de 2014. O riundos de Nova York , Josh Carter (guitarra e vocais) e Sarah Barthel (vocais e teclados) citam como influência artistas como David Bowie, Beatles, Yes e Cocteau Twins , mas é neste último e no obscuro grupo oitentista Strawberry Switchblade que é calcada a sua sonoridade. Calcada não é exatamente a palavra, pois o Phantogram não os copia e sim, os depura. A originalidade da dupla é evidente, ainda que nos remeta a coisas tão díspares quanto o Ministry e os Carpenters.

Dos arquivos empoeirados: Wall Of Voodoo - "Dark Continent" (1981)

N o que poderia dar uma mistura de rock "new wave", música eletrônica "low-fi" - feita com instrumentos vagabundos -  e  uma enorme influência de trilhas sonoras de western-spaghetti e/ou Ennio Morricone ? Bem, se você disse qualquer coisa que não seja Wall Of Voodoo , sinto muito, você errou feio. W all of Voodoo era para ser a banda de Stan Ridgeway , um compositor insatisfeito de trilhas sonoras para filmes obscuros e eventual cantor. Natural de Los Angeles, Ridgeway sempre acompanhou com muito interesse a cena punk da cidade e era frequentador assíduo do clube angeleno  The Masque , bem ao lado do escritório da sua empresa, a Acme Soundtracks. No entanto, Wall Of Voodoo f icaria mais conhecida pelo único hit , Mexican Radio, e pela troca de vocalista e figura principal no auge do sucesso. F oi no Masque que   Stan Ridgeway encontrou nos irmãos Marc e Bruce Moreland , os cúmplices ideais para a empreitada e, com a adição de membros originais da ban

O outro dia dos pais.

E u, hoje, tenho a exata idade que meu pai tinha quando ele morreu. Sendo mais específico , eu tenho, exatamente neste dia, a mesm íssima idade que ele tinha quando faleceu. Significa que hoje, às 11 :01 , e u terei um minuto de vida a mais que meu pai em toda a sua história. E stranho que ele parecesse tão velho para mim naquele seu momento final de vida. Eu o enxergava como um idoso , como alguém incrivelmente distante da minha realidade juvenil de vida. E ra como se eu jamais fosse alcançá-lo. Talvez por isto, me considere satisfeito com o que eu já vivi até aqui e acredite que, tudo  o que passar dos meus  50 anos, para mim, já será lucro. 49 anos, um mês e 16 dias. Isto foi tudo quanto durou a vida do meu pai.  Hoje eu completo exatamente o mesmo tempo de vida. Quando ele veio a falecer, estávamos estremecidos e afastados, mas ainda o encontrei com vida, no leito do hospital. Perguntei-lhe se estava bem, ele disse que sim, e não demorei muito naquela sala, pois não sup

Dos arquivos empoeirados: Wire - "Pink Flag" (1977)

O que é melhor? Ser detonado pela crítica especializada e ter um enorme sucesso de vendas como o Kiss ou se tornar o queridinho dos críticos e não receber nenhum tostão por isto? Evidentemente a primeira opção parece ser a melhor de todas. Dinheiro no bolso e o reconhecimento dos fãs parece sempre ser bem melhor do que agradar meia dúzia de jornalistas que adoram ser bajulados. M as, ainda que a maior parte dos artistas queridinhos da crítica não sejam tudo aquilo que os formadores de opinião dizem que são, alguns artistas foram profundamente injustiçados com vendas pífias de discos que se mostraram, com o passar do tempo, influenciadores de outros discos e artistas Estes outros sim, conseguiram algum alcance de vendas e equilíbrio entre sucesso popular e boa recepção por parte da imprensa especializada. Q uando Pink Flag saiu, em dezembro de 1977, o álbum de estreia da banda inglesa Wire parecia mesmo condenado a encalhar nas lojas. Contratados pela prestigiado selo Harvest