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Mostrando postagens de dezembro, 2020

OS DREADLOCKS DO ANCIÃO.

Eu tenho um amigo muito querido a quem costumo saudar sempre que o encontro. Ele é completamente diferente de mim mas nossa sinergia é de muito tempo atrás, quando ele se encantou com uma música que eu havia tocado em uma mesa de bar. Nos tornamos amigos até hoje. Ele é negro, eu sou branco. Ele é bem mais velho que eu. Ele é magro, no estilo natureba. Eu sou gordinho tipo químico industrializado. E, sim, ele cultiva longos dreadlocks, hoje grisalhos, enquanto eu raspo, dia sim, dia não, a  minha lustrosa careca. Eu costumo passar despercebido pela rua, ele não. E não é porque ele é negro, não é porque ele é muito magro. A estranheza que ele causa nas pessoas é por conta do estilo de cabelo que escolheu para usar,  aliado à sua idade avançada. Ele é diferente, ele sabe que é diferente e certamente sente um prazer quase que orgástico ao afrontar a sociedade com a sua aparência incomum. Ele não quer ser aceito, ele não quer ser igual a ninguém. O que ele quer, de fato, é incomodar quem o

DESABAFE E DEIXE DESABAFAR.

 Quando alguém desabafar perto de você, apenas ouça. Não faça juízo de valor, não a interrompa, não minimize a sua queixa e, principalmente, não tente mudar de assunto ou se mostrar incomodado. Principalmente se aquela pessoa for próxima de você. Não dê conselhos a não ser que a pessoa que desabafa os peça. Se solidarize com ela, mesmo que seja com seu silêncio. Fique calado se não quiser dar uma opinião concordante ou ainda se discordar dela. Desabafar é bom, é saudável, limpa a alma de nossos rancores e mágoas. E se percebemos que alguém, ao menos, nos ouve, o efeito ainda é melhor. Portanto, quando alguém desabafar perto de você, seja solidário e demonstre empatia. Se a pessoa estiver errada deixe para repreendê-la algum tempo após o desabafo. Lembre que você é humano e, algumas vezes, também desabafa ou precisa desabafar. Aja como você gostaria que agissem com você.

RESPOSTA A UM AMIGO SOBRE FRANK ZAPPA.

Arrigo Barnabé e, aliás, toda a vanguarda paulistana, é muito influenciado por Frank Zappa. Na verdade, é mais fácil dizer qual músico não é influenciado por ele do que dizer quem não é. E os frutos de Zappa estão todos aí. O Sgt Peppers (que ele influenciou), os Monkees (que ele ajudou a produzir), o jazz rock, o punk rock (filosoficamente falando), o loop, os sintetizadores, os álbuns duplos e triplos, as técnicas de gravação, a inspiração para o clássico Smoke On The Water, o psicodelismo, as inovações na guitarra, o rock progressivo, o disco independente e se eu não parar de escrever, a lista não irá terminar nunca.  Agora, se lembrarmos que se tratava de um inimigo declarado da indústria musical, é fácil de entender porque ele não é tão popular quanto poderia e são os músicos os seus maiores fãs e reprodutores de suas invencionices. Steve Vai recentemente classificou o álbum Freak Out , lançado em 1966, como o maior disco de todos os tempos para ele.  Lembrando também na particip

CARTA AOS MILLENNIALS (SEM OFENSAS)

Queria evitar usar aqui a palavra millennial no seu sentido pejorativo mas é quase impossível. Millennial deveria ser apenas o adjetivo pelo qual chamamos aqueles nascidos entre o fim da década de 80 até a atualidade, mas passou a significar também aqueles que detêm - ou simplesmente toleram - um tenebroso comportamento. E mais, não se resume apenas aos nascidos de uns tempos para cá. A "millennialidade" tomou conta do planeta, agregou jovens senhores e senhores idosos, e com ela foi embora o bom senso, o diálogo, a convivência de ideias e ideais diferentes e sobrou apenas o  confronto, a intolerância, o radicalismo. O que Luther King chamou magnificamente de "o silêncio dos bons". E são a estes "bons" que eu me dirijo agora, porque os radicais, sinceramente,  já estão perdidos. Em junho deste ano eu ganhei um neto aos 53 anos de idade. Amigos fizeram muitas brincadeiras como se eu tivesse alguma dificuldade em assumir o papel de avô e eu até mesmo fiz a

A FANDEMIA.

Talvez você não saiba - e esta informação certamente não mudará nada em sua vida -  mas 90% da humanidade peida em Lá. Sim, na nota Lá. Menos de 10% dos humanos peidam em Si e uma parcela ínfima dos povos do planeta Terra têm a manha de peidar em Lá e Si. Mas só exemplares raríssimos dos homossapiens conseguem reproduzir ambas as notas em um único flato. Não me pergunte como e porque os cientistas chegaram a esta conclusão mas isto me lembra muito aquela frase que diz que "fã que é fã curte até o peido do seu artista preferido".  E, certamente, há muito de verdade neste enunciado. Os primeiros fãs que ganhamos, ainda na primeiríssima infância, são nossos avós. Acham tudo que fazemos absolutamente maravilhoso e sim, somos seres especiais pois arrotamos, golfamos, balbuciamos e engatinhamos de maneira totalmente diferente de nossos iguais, os bebês de nossa idade. Quando crescemos mais um pouco são os pais, ou melhor, um deles, que assume o lugar de nosso admirador incondiciona

AQUELAS PESSOAS PESADAS.

U m dos primeiros discos que comprei na vida foi o The Kick Inside , o sensacional álbum de estreia da cantora Kate Bush, produzido pelo então guitarrista do Pink Floyd,  David Gilmour.  E, curiosamente, não foi por causa do mega hit Wuthering Heights , canção que, aliás,  segue sendo, ao longo de todos estes anos, uma das que menos me agrada do repertório da artista. O disco The Kick Inside já foi até objeto de resenha neste mesmo blog,  portanto não é dele que eu quero falar e sim de uma canção específica contida nele chamada Them Heavy People . Na verdade, nem é mesmo dela e sim da mensagem que ela contém. Them Heavy People significa, literalmente, "aquelas pessoas pesadas". Pesadas no sentido da convivência difícil, intranquila e pouco prazerosa. Pesadas no sentido da extrema negatividade que estas pessoas, às vezes, expressam. E a belíssima canção,  um reggae estilizado, uma absoluta novidade em 1977, quando foi composta durante uma visita de Bush á casa dos pais,  tra