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Mostrando postagens de maio, 2015

NOS TEMPOS DA BRILHANTINA.

      T em filme que envelhece bem, permanecendo um clássico muito tempo após ser lançado, ainda que seja, ao menos a princípio, datado. Um exemplo é o filme Blues Brothers ("Os Irmãos Cara-de-Pau").  Lançado para capitalizar o sucesso do quadro de Jim Belushi e Dan Akroyd no programa Saturday Night Live , a película acabou alcançando dimensões muito maiores do que a originalmente planejada, se tornando um sucesso mundial e provocando um renascimento (ou surgimento) do interesse pelo rhythm and blues e pela soul music entre os jovens e apreciadores de música em geral. O utros são tão oportunistas - ou aparentam ser - que, desde o lançamento, são considerados lixo,  trash-movies . Muito criticados no momento em que ganharam as telas dos cinemas, adquirem respeito e alguma condescendência com o passar dos anos. O exemplo ideal deste tipo de filme seria Saturday Night Fever , o nosso "Embalos de sábado à noite". Revisto hoje em dia, seu simplismo e aparênc

TUTORIAL: COMO EXORCIZAR A PRIMEIRA NAMORADA.

Q uase todo homem tem uma estranha fixação pela primeira namorada.  Ou melhor, não exatamente pela primeira namorada,  mas pela primeira mulher pela qual se apaixonou. E eu digo “quase” apenas porque sei que nem todos os homens assumirão que isto acontece. Ou já aconteceu  com eles.  Enquanto a mulher se recupera e ganha experiência para seguir adiante,  boa parte dos homens transforma este primeiro amor  em exemplo de mulher ideal,  perfeita e  intangível,  ainda que ela esteja, eventualmente, bem ali do lado. Porque, de certa forma, o homem “congela”  o seu objeto de amor naquele exato momento em que deixou de ser apaixonado por ela.                 A moça muda,  afinal,  todos mudam. Inclusive ele mesmo também mudou,  mas continua a lembrar , empiricamente,  daquela que,   em sua cabeça,  deveria ter sido a mãe de seus filhos.  Enquanto esta fixação toma apenas alguns dos dias após o término do romance,  pode até ser considerado absolutamente normal. É até bastante recomendáv

EU GOSTO DA SEGUNDA-FEIRA.

      E m um destes momentos de profundo tédio que me toma de assalto em alguns momentos do fim de semana, eu resolvi fazer um destes "quizes" de aplicativos ligados ao facebook. Não me lembro o que de fato eu deveria saber sobre mim mesmo mas uma das questões que respondi me chamou a atenção para um detalhe: Ao me perguntar qual o meu dia preferido da semana, só haviam ali seis opções. Ora, uma semana tem sete dias, e, obviamente, um deles ficou de fora. Não demorou e eu percebi que excluíram justamente o meu dia preferido da semana, a segunda-feira.     P ois é, segunda é, e sempre foi, o meu dia preferido da semana. O pior deles, fora a quinta, e explico mais adiante porque, para mim, é o domingo. Talvez por conta de algum tipo de herança semita incrustada em meus genes, no domingo não gosto de fazer absolutamente nada. P asso o dia basicamente deitado, fuçando a internet e conversando com a esposa sobre os destinos da humanidade, enquanto ela tem um domingo típico d

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - THE 4 SKINS & THE BAND OF HOLY JOY.

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA   é o nome de uma coluna que mantive durante alguns anos em um jornal. Nele eu resenhava discos que não eram obviedades nem lançamentos. A coluna era lida (e elogiada) por alguns nomes do rock nacional. The Band Of Holy Joy - Manic Magic, Majestic (1989) -  Havia um anjo na gravadora Stiletto , famosa na segunda metade dos anos 80 por lançar por estas plagas, discos de grupos que, de outra forma, nunca teriam seus trabalhos lançados por aqui.   E não foram poucos.  Nomes como The Fall , Felt, Nick Cave e A Certain Ratio  foram apenas alguns com que a gravadora Stilleto nos brindou, com o que estava sendo feito de melhor na música naquele momento.  E se como só lançá-los não fosse suficiente, ainda nos presenteava com capas que chegavam a ser mais luxuosas que as originais (caso do disco "Force" do A Certain Ratio ), algo nunca visto em um país acostumado a lançamentos mutilados e/ou pouco cuidados. C omo o que é bom sempre dura muito pouco, a St

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - BOA NOITE, RINGO STARR.

RINGO STARR - Goodnight Vienna (1974) - Por ser a própria personificação do  clown  em sua antiga banda,  a carreira solo do ex-baterista dos Beatles nunca foi levada muito a sério,  o que realmente é  e foi uma pena.  Os discos de Ringo Starr  sempre foram citados de forma jocosa e acintosa, como se fossem extremamente inferiores aos trabalhos de seus outros companheiros de banda.  Sem nenhum dogma a ser mantido, nem reputação a ser preservada,   Starr gravou o que quis e quando quis,  produzindo álbuns despretensiosos,  recheados do melhor rock and roll e boogie-woogie.              E m 1974, Ringo saboreava o surpreendente sucesso de seu lp do ano anterior,  um disquinho de rock and roll,  vendido em uma embalagem luxuosíssima, chamado simplesmente de "Ringo" .  O sucesso mundial de sua "Oh My My" ,  pela primeira vez,  o pôs em uma situação incomum:  A responsabilidade de preparar o sucessor de seu primeiro best-seller           E nquanto isto, John Len

CUIDADO COM O LOUCO.

E u sempre te dizia para tomar  cuidado com o louco. Eu vivia falando: - Cuidado com o louco, cuidado com ele!. Mas você nunca me dava ouvidos.   O louco morava perto de nossa casa. Tinha uma aparência absolutamente normal,  era até simpático, boa praça, sempre bem humorado, eu poderia até dizer que era carismático. Mas era louco.  Absurdamente louco.  Algumas vezes, o louco parecia um sabão. Em um momento era louco de pedra,  em outros, louco de pó.  Assim como no romance clássico de  Robert Louis Stevenson, O estranho caso de Dr. Jeckyll & Mr Hyde ,  conviviam dentro  do louco duas pessoas completamente diferentes.   Uma te amava, te admirava, queria ardentemente ser como você era.  E  a outra pessoa que vivia dentro do louco te detestava justamente por isto. O louco tinha a alma completamente vazia.  Não tinha espírito, era só carcaça. Era como um livro em branco esperando para ser escrito.  Ou, ainda,  uma mídia virgem esperando para ser gravada. E isto incomodava

IAN CURTIS: UM MÉTODO PARA O ATO FINAL.

E m 18 de maio de 1980, um domingo,  no final da tarde, o músico e poeta inglês Ian Curtis , vocalista da banda Joy Division ,  era encontrado morto na  cozinha de sua casa.  Na vitrola, a agulha ia e vinha se debatendo contra o rótulo do disco. O disco era The Idiot , primeiro álbum solo do roqueiro norte-americano Iggy Pop .  No vídeo cassete, o filme Stroszek ,  do cineasta Werner Herzog , encontrava-se para fora do aparelho e sem rebobinar.  Strozek contava a história de um homem que preferiu se matar a ter que escolher entre duas mulheres.  Aparentemente foram estes o último filme e o último disco que Ian Curtis viu e ouviu antes de morrer. S ua banda havia acabado de lançar um segundo disco, de ares ainda mais sombrios que o primeiro, com o título revelador de “Closer” (mais perto).  Para a capa do LP, o artista gráfico Peter Saville havia fotografado túmulos, a  pedido do cantor.  Havia uma tournée norte-americana marcada para os próximos dias e sairia  um single inédito

MCCARTNEY II: O MELHOR DISCO RUIM DO MUNDO.

McCartney II não é,  nem de longe,  o melhor disco de  Paul McCartney .  Ao contrário,  é um verdadeiro teste de resistência para qualquer  fã do ex-beatle.  Se o fã conseguir passar incólume  pelas 12 faixas do álbum, sem pular nenhuma, parabéns  a  ele, este é um verdadeiro “McCartneymaníaco”. N ão é que o disco seja  ruim, porque não é ruim mesmo.  A questão é que é experimental e pessoal demais.   Paul McCartney   gravou o disco ainda aborrecido com a má recepção de seu último lançamento com os Wings , o excelente Back To The Egg e   a prisão no Japão por porte de “MacConha”.  Completamente sozinho,  no estúdio que mantinha em sua casa, Paul tocou todos os instrumentos e, fora alguns backing vocals aqui e ali da sua musa Linda, trata-se de um disco quase esquizofrênico (vide a conversa com ele mesmo no início do blues On The Way ). McCartney II foi lançado em 16 de maio de 1980, há exatos 35 anos  atrás, precedido por um single docinho com um hit fácil,  grudento,  que,  

UM REBELDE SEM ALÇA.

Q uem  é você na fila do pão?  Na "padoca" e em outras fileiras, Humberto Finatti é Humberto Finatti e isto faz toda a diferença.   Finatti, nascido em 62, como naquela  canção do Ira!,  é um  conhecido jornalista musical paulistano. Na verdade, não é apenas um jornalista musical.  “Finas”, como o chamam carinhosamente seus amigos,  é quase um popstar da escrita.  Para desespero de alguns de seus colegas de profissão,  invejosos do seu status de ícone cult, Humberto Finatti transcende ao que escreve.  Não raro, as resenhas de Humberto são bem mais interessantes do que o artista resenhado. M as,  enquanto jornalistas musicais insistem em fazer valer a máxima que não passam de músicos frustrados,  Humberto Finatti nunca foi  músico.  Pelo contrário,  já foi até decantado em verso e verso em uma canção de  Ayrton Mugnaini Jr. chamada “Rebelde sem alça”.  Mugnaini é outra figura ímpar e o mais próximo que Frank Zappa pôde se aproximar de um compositor brasileiro.  Mas, enfim

A HORA E A VEZ DAS GORDINHAS GOSTOSAS.

D a noite para o dia,  as paradas musicais dos Estados Unidos foram tomadas de assalto por uma nova voz.  A canção, pop e pegajosa como toda boa canção pop deve ser, rapidamente chegou ao primeiro lugar, sendo a mais tocada em todo o país ainda  na semana de lançamento. “(I’m) All  about that bass”,  que,  em uma tradução muito  livre, significaria algo   como “sou mesmo uma gordinha gostosa” , trata de um assunto bastante pertinente para as mulheres na atualidade:  De como uma mulher pode ser gordinha  e ser desejada justamente por ser assim. A música faz um trocadilho com as ondas sonoras graves (“bass”), que são, digamos, “gordinhas”, e as ondas agudas que ela rejeita (“no treble”).  Uma riff de contrabaixo (também “bass” em inglês) segura a canção, enquanto a cantora afirma que é “all about the bass”. Então, não dá mesmo para fazer uma tradução literal do título. Mas a ideia que ela quer passar é mesmo a de que não vale se sacrificar para emagrecer se os próprios garotos prefer