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Mostrando postagens de junho, 2015

O DIA DE SÃO RAUL.

R aul Seixas voltará. Voltará e guiará a todos os seus seguidores para o valhalla prometido, onde fica a Sociedade Alternativa, o éden sagrado nos céus, e onde descansaremos todos em sua mais santa paz. Estaremos preparados, esperando o messias em uma roda, em volta de uma fogueira, tocando violão, fumando alguma coisa verde e fingindo que somos estes seres elevados que pensamos que realmente somos. E quando São Raul voltar, voltará em toda a sua glória, separando os que o aceitaram daqueles que ainda insistem em o renegar. T odos aqueles que um dia, ou melhor, uma noite, em um show qualquer, seja de uma banda de forró eletrônico, seja de punk hardcore, pediram, aliás, exigiram, que o santo som do Senhor Raul fosse tocado, todos estes serão compulsoriamente salvos e libertos. Toca Raul! R aul nasceu na Bahia. Na terra do axé, no lugar mais anti-rock and roll do universo inteiro. Não, não importa que o rock and roll seja tão negro quanto o axé. Faz de conta que ele nasceu

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA: THE SMITHREENS E THE TURTLES.

S MITHREENS: A BANDA CERTA NO LUGAR ERRADO -  O ano era 79 e a cidade era Carteret , New Jersey . Um grupo de amigos de bar, fanáticos por blues, nuggets e folk-rock, que ouviram atentamente os discos dos Byrds e  The Band, além de toda a psicodelia americana do final dos anos 60, formaram uma banda que não iria mudar absolutamente nada no rock mundial. Por muito pouco. Apesar de emularem um rock vigoroso e competente, o grupo foi vítima de uma espécie de  azar : Logo após o seu surgimento, um outro cnjunto se apropriou de parte do nome e do conceito. Em seguida, do outro lado do oceano, outro grupo, também de som similar, alcançaria enorme sucesso. O estrago estava feito. Q uando lançaram o literalmente irado  Beauty And Sadness , em 83, o grupo assustou o mundo pop com um disco que parecia, e estava mesmo, fora de contexto. O EP trazia faixas pesadas, entupidas de distorção sessentista. Em 86, sai seu primeiro disco, sintomaticamente chamado "Specially For You", mai

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - PERMISSION TO LAND (THE DARKNESS) E VIVE LE ROCK (ADAM ANT).

T HE DARKNESS - Permission To Land (2004) -  O tempo passa e a impressão que fica é que a imprensa musical mundial - brasileira incluída - ou age de má fé com as bandas de que não gosta, ou se tornou burra, desconhecedora do passado relativamente recente da música pop. Um excelente exemplo é a banda inglesa  The Darkness , que foi a sensação de um breve momento em 2004. N ão era, absolutamente, uma banda para os críticos gostarem. Pelo menos, os críticos tradicionais. Também não era uma banda para puristas de nenhum estilo. Os que sacralizam o rock ( rock  enquanto conceito, bem explicado) como uma espécie de deus que não pode ser violado por pagãos em busca de diversão, detestaram. Chamaram de armação oportunista, como se uma banda (embora uma banda  excelente ) como os  Strokes  não fizessem a mesmíssima coisa com o som da Nova York setentista. O s fãs "fanáticos" de hard-rock desconfiaram das "boas intenções" dos garotos ingleses, achando que eles só escol

O LENHADOR.

Mulher, E screvo estas mal traçadas linhas fazendo questão de inicia-las com um termo tão  antiquado quanto “mal traçadas linhas” para que você perceba o quanto eu posso ser perfeito em minha imperfeição. Não sou, de forma alguma, o príncipe encantado que você gostaria  que eu fosse. "O lenhador", de Hodler. N ão sou e, diga-se de passagem, não quero e nem pretendo ser. Aliás, eu deveria te dizer que você não precisa de um príncipe encantado. E não precisa porque, simplesmente, você não é nenhuma princesa. Só as princesas, as absolutamente perfeitas, as que não defecam nem flatulam, as que não precisam de um banho ao final do dia, as que jamais menstruam, as que não acordam com a cara amassada de travesseiro babado, estas sim, só estas, necessitam de um príncipe. E u também cometo todos estes atos naturais, o que me desabilita automaticamente a qualquer tipo de majestade encantada. E ainda tenho um bônus que é o de, definitivamente, não querer sê-lo. Também n

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA: REVOLVER - THE BEATLES

N ão tenho absoluta certeza se Revolver foi o primeiro disco de carreira que comprei dos Beatles.  Antes disto, já havia adquirido a coletânea dupla  Rock And Roll Music e, salvo engano, também o fantástico disco de estreia, o  Please Please Me .  Mas foi, sem dúvida, Revolver   e toda aquela psicodelia pop na medida certa, o disco que me fez, definitivamente, me apaixonar pelo quarteto de Liverpool. P rovavelmente, Revolver é o primeiro disco de power pop da história. Marca definitivamente o rompimento dos Beatles com a sonoridade mersey beat  (com larga influência da Motown) do início dos anos 60 e mostra caminhos para o que seria feito na música pop nas décadas seguintes. Abre brilhantemente com a canção Taxman , cujo riff seria citado mais tarde em canções do The Jam, Ira! e Paul Collins Beat.  Segue com o maravilhoso arranjo de cordas de Eleagnor Rigby , “truque” que também seria repetido “ad infinitum” pelas bandas de rock dos anos 80. A faixa seguinte é I’m Only S

O DESACORDO ORTOTRÁGICO.

S e eu fosse português provavelmente eu detestaria brasileiros.  Imaginem como eu me sentiria, habitante de um pequeno  pais, encravado lá na península ibérica,  vendo o minúsculo território onde vivo sendo invadido por uma horda de estrangeiros completamente descomprometidos com a história de minha nação,  a não ser pelo fato de que, um dia,  seu país já foi colônia do meu. C omo eu reagiria à óbvia constatação de que meu país havia se tornado apenas uma porta dos fundos para brasileiros poliglotas entrarem na Europa e monoglotas se acomodarem em seu território?  Sim, eu certamente detestaria brasileiros. E ntão não serei eu a condenar nenhum português que não goste de nós, porém louvo os que, apesar de tudo,  nos suportam ou chegam até a nos amar. Porque somos mesmo uma gente casca grossa.  Não pisamos de mansinho na terra dos outros, pelo contrário, pisamos forte.  Somos cosmopolitas na terra alheia, queremos deixar nossa marca onde formos.  Temos sangue de conquistadores,

A MINHA MENINA RUIVA.

R eligiosamente, todo mês, ela pintava seu cabelo desde que começara a trabalhar e veio, enfim, a sua independência financeira.  Na infância sofria bullying,  como toda criança sofre bullying por qualquer coisa que faça ou seja.  Ser ruiva, ou “enferrujada”, como os colegas a chamavam, era uma coisa que a incomodava profundamente. C om seu primeiro salário nas mãos, ainda quase uma adolescente,  foi ao salão de beleza e pintou seu cabelo de preto pela primeira vez.  Queria ser uma “brunette”,  na contramão de todas as outras mulheres,  que avermelhavam seus cabelos em tons artificiais na esperança de, ao menos, parecerem ruivas. P or anos pintou seu cabelo,  ora de preto,  ora de castanho escuro.  Tanto que a antiga identidade ruiva por pouco não foi completamente apagada de sua memória.  Não descuidava nunca.  Todo mês estava no salão,  pagando seu dízimo à beleza e à sua nova e feliz identidade.  Dali em diante, nunca mais ninguém desconfiaria do cabelo de fogo soterrado por aqu

DISCOS SÃO MELHORES QUE ARTISTAS.

E u não me dou a luxo de ter discos que não gosto, ainda que sejam de artistas que eu admiro.  Acho um enorme desperdício de tempo e dinheiro.   Abro uma única exceção aos Beatles .  Não gosto do Álbum Branco , nem do Abbey Road e, muito menos, o Let It Be .  Talvez, não por acaso, os discos que eles gravaram após terem deixado de ser um grupo. Enfim, o fato é que eu poderia muito bem não ter estes três discos, mas, os tenho.  E os Beatles acabam sendo a única banda que eu realmente amo apenas por serem uma banda.  Porque as outras, mesmo tendo ocasionalmente a discografia  completa,  gosto mesmo é dos discos em si, não necessariamente dos artistas. A rtistas, geralmente, não passam de completos idiotas.  Chamam a si mesmos de gênios por terem parido discos memoráveis,  sem se dar  conta que os discos ganharam vida própria e não pertencem mais a eles desde o momento em que vieram ao mundo. É por conta disto que, dificilmente, o melhor disco de um artista é o quinto ou o sexto.  N

OS DOIS SAPATINHOS.

E u hoje comprei dois presentes, um para cada filho.  São presentes que nenhum dos dois irá usar. Nada menos que dois sapatinhos infantis. Bati os olhos nos dois pares, achei que um par deles combinava com um e o outro par com o outro filho. E os comprei, a despeito de que eles nunca poderão usá-los, pois já não são mais crianças e seus pés não cabem mais neles.       D izem que os filhos são nossa verdadeira riqueza.  Eu diria que são a única.  Filhos não fazem a mínima ideia do que realmente significam até que eles mesmos se tornem pais.  Aí se dão conta do que são na vida daqueles que os criaram. E ntão, que guardem o presente que lhes dei para quando forem pais e calçarem eles mesmos os sapatinhos ofertados por mim nos pés de seus filhos.  Porque é isto mesmo que nós, os pais, fazemos: Calçamos seus pés e dizemos para darem seus passos a frente. E fingimos que não nos importamos, que não iremos ampará-los se caírem, mas, na verdade, estamos ali, com as mãos no ar, prontos par

O DIA DOS NAMORADOS.

      H oje, excepcionalmente, o texto diário do blog Impaciente e Indeciso não foi escrito por mim. Tive a honra de ser homenageado pela amiga Ana Nejar, jornalista gaúcha, que passou boa parte da sua infância e adolescência morando em Feira de Santana e veio a ser, senão a primeira namorada, o primeiro amor de verdade que vim a ter.       I mpaciente e Indeciso é um blog autoral, íntimo e pessoal. Portanto, ter uma escritora convidada é algo que não se repetirá muitas vezes. Muito obrigado, Ana, por tudo e pelas palavras carinhosas dedicadas a mim. Espero poder sempre ser digno da sua amizade e do seu carinho. Um dia eu espero escrever tão bem assim. Bem, vamos ao texto: " E screvia as cartas à mão. Desenhava as folhas depois de deixar o rascunho amontoado em bolas que em seguida seriam esmigalhadas para evitar que os irmãos vissem. Eram umas quatro páginas de papel almaço, frente e verso, uma delicadeza que só quem ama não dispensa. O primeiro amor. Quando ouço falar no Dia

FIM DE NAMORO.

F oram três anos e meio de relacionamento intenso, onde me sentia bastante confortável ao teu lado. Eu te tinha ali, aos meus pés, e sentia que dava passos firmes em sua companhia. Não foi fácil assumir você. O preconceito contra o nosso relacionamento era, e ainda é, enorme. As pessoas me criticavam, diziam que você era muito feia, que não foi feita para mim e que era até surpreendente que eu andasse para cima e para baixo com você.       N o início tudo era novidade e você trouxe uma perspectiva nova em minha vida.  Passávamos 24 horas juntos, íamos para todos os lugares sem medo do que as pessoas pudessem pensar de nós.  Você me dava tudo que um homem poderia querer de você e eu me sentia realmente muito feliz convivendo contigo. V ocê me acompanhava em bares, festas, no trabalho, no shopping e em minhas caminhadas diárias. Eu não sabia mais onde eu terminava e começava você. Os amigos tiravam sarro de nossa relação. Eu apenas seguia em frente ao teu lado.  Eu te amava muito. E

A TODAS AS GAROTAS QUE JÁ AMEI UM DIA.

S e existem dois artistas no mundo pelos quais nutro uma profunda antipatia, são o espanhol Julio Iglesias e o norte-americano Willie Nelson .  Minha antipatia pelo latino até já foi citada na música “Se você ficar” , de minha autoria e do repertório de uma certa banda baiana de rock.  Na canção eu reclamo dos “discos de Julio Iglesias que você me faz ouvir”. Curiosamente, apesar da letra tratar de um relacionamento amoroso, a inspiração para citar o cantor romântico veio de um episódio real envolvendo uma colega de sala. No ginásio, volta e meia, eu era escalado por ela para lhe auxiliar nas matérias em que tinha dificuldade.  Acontece que ela morava perto da escola e eu bem longe. Então eu acabava almoçando sempre em sua casa nestas ocasiões. Após o almoço, antes dos estudos,  ela descansava um pouco e estes momentos eram sempre passados ao som das lamúrias de Julio Iglesias . Um dia, me revoltei e impus como condição para continuar lhe ajudando nos estudos que meus ouvidos f

O GRITO QUE SAI DOS SUBÚRBIOS.

O ano era 1982 e a Blitz ainda era uma  ideia  na cabeça de Evandro Mesquita quando Fábio Sampaio, proprietário de um cafofo com ares de loja alternativa chamado  Punk Rock Discos , na famosa Galeria do Rock paulista, lançou um dos primeiros discos do que viria a ser o "rock nacional dos anos 80".  N ão era exatamente um disco entupido de sintetizadores emulando um roquinho meio vagabundo, de letras paupérrimas, como viria a se tornar comum na cena roqueira brasileira, nos anos seguintes.  Muito pelo contrário, os defeitos levariam Fábio a deixar claro na capa do disco: "Gravação sem qualidade".  Como ele estava enganado. O riginalmente, um disco de vinil de 12 faixas, "Grito Suburbano" foi anabolizado em sua versão digital com mais 22 sons, todos ao vivo,  gravados na festa de lançamento do álbum,  em um longínquo São João de 82.  A gravação original de estúdio reúne os grupos Cólera, Inocentes e Olho Seco,  uma espécie de punkíssima trindade , que