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Mostrando postagens de setembro, 2015

Um disco por ano de vida: The Beatles – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) – Parte II

O disco abre com um protótipo de hard rock , a faixa título, que desemboca na melhor canção já cantada pelo baterista Ringo Starr, nos Beatles, mas que ficaria eternizada mesmo na voz de Joe Cocker. Uma pena pois a versão de Ringo é impecável e uma das melhores canções já escritas pela banda. Na sequencia,  a lisérgica Lucy in The Sky With Diamonds”, cujas iniciais, LSD, causaram enormes debates à época. Apesar de Paul insistir que se tratava de uma música sobre uma menina que desenhava diamantes no céu, ninguém acreditou. G etting Better, pode-se dizer, foi a música que, efetivamente inaugurou o power pop , após as experimentações de Revolver, um ano antes. É a típica canção de Paul McCartney, com vocalizações pontuando aqui e ali e os refrões assobiáveis e para frente que marcaram a sua  obra  durante todos estes anos. Até o espírito conformista, tão criticado na new wave dez anos depois, já estava ali. Paul afirma na canção que tudo estava ficando cada vez melhor. O passar

Um disco por ano de vida: The Beatles – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) – Parte I

H á 28 anos atrás eu trabalhava em uma estatal, mais especificamente na assessoria de comunicação da empresa,  e uma das minhas  atribuições era auxiliar o jornalista responsável na confecção do pequeno meio que circulava internamente na insituição. “Pequeno meio”, para quem não é jornalista, é o popular jornalzinho da empresa. A contece que o jornalista responsável era um tanto quanto irresponsável, pois bebia muito no fim de semana e raramente aparecia na segunda para trabalhar. E foi em uma destas ocasiões que o fechamento do jornal, que já estava atrasado, caiu em minhas mãos. Havia uma matéria a ser escrita, um espaço a ser preenchido pelo diagramador e eu não tive dúvidas. Meu disco preferido estava completando 20 anos de existência naquela semana e , em dez minutos, no máximo, o texto estava datilografado e pronto para ser publicado. U m pulo no tempo e, dois anos depois, no dia 10 de maio de 1989, estou esperando a hora de levar a esposa ao hospital para o na

Quando a "ex" é terrorista.

E ntão, ela, a sua ex, reaparece do nada, muito mais bonita do que quando vocês namoravam. Você está casado, tranquilão, vivendo uma vida sem maiores sobressaltos. Cultivou uma discreta barriguinha e há muito deixou de ser aquele conquistador barato em cujo papo todas as menininhas caiam direitinho. Você só quer paz, curtir a família, dar banho no cachorro, enfim, quer ficar longe de toda e qualquer complicação que envolva mulheres, a não ser, claro, a sua santa esposa. S im, ela está de volta, aquela sua ex-namorada cujo relacionamento terminou de forma meio abrupta, como um coitus interruptus . E, falando em coito, ela vai se utilizar de todos os golpes baixos que puder usar para reconquistar você. Primeiro, ela irá lhe procurar se dizendo profundamente carente e fragilizada. Você, um homem de bom coração, sem maldade nem interesse, a confortará, certo que está exercendo o seu sagrado papel cristão de ex-namorado bacana. Mas, amigo, ela está com segundas, terceiras, quartas inte

Três pregos para John Lennon

Sem nem precisar usar o argumento de que era outro tempo, outra sociedade e outra cultura, basta afirmar que John Lennon, ao imitar alguém com deficiência mental em um show, estava, na verdade, ridicularizando o show business comparando a si mesmo com alguém que não tem completo domínio sobre si mesmo nem sobre seus atos. Da mesma forma, haters de rede social, que hoje são aceitáveis,  daqui a 50 anos podem representar comportamentos tão constrangedores quanto o de Lennon nos parece hoje. A vítima da vez dos exageros do politicamente correto chama-se John Winston Lennon e não é um homônimo, trata-se dele mesmo, John Lennon , músico, ex-guitarrista dos Beatles , brutalmente assassinado no final de 1980 por Mark Chapman. Nas redes sociais, os "haters" de plantão, aquelas pessoas com sérios problemas psicológicos que se dedicam a massacrar quem quer que seja para satisfazer as suas carências afetivas, já elevaram o assassino de Lennon à condição de "meu herói&qu

Pequeno tratado sobre a incondicionalidade amorosa.

A  mecânica da crença na incondicionalidade amorosa é muito parecida  com  a do acreditar em Deus. É preciso, antes de mais nada, que se tenha fé, e muita fé por sinal, para acreditar que o amor pode ser mesmo uma fortaleza que resistirá aos mais duros golpes disparados através dos canhões da decepção com o objeto de amor e, ainda assim, permanecerá intacto.  De fato, eu acredito em Deus. Acredito da minha forma, mas acredito. Já do amor incondicional, deste eu sou completamente ateu. U ma mãe amorosa, dedicada, presente na vida do filho, sempre receberá mais amor do que uma mãe seca, relapsa ou pouco interessada. Só esta gritante verdade já destrói um dos maiores mitos da incondicionalidade amorosa: De que "amor, só de mãe". Ora, todas as mães, antes de serem mães, são seres humanos, e mães podem sim, gostar mais de um filho do que do outro, ou, até mesmo, simplesmente não gostar de nenhum deles. Ou de todos. O que causa a ilusão de que determinados amores podem

Em Feira de Santana ou em Paris.

Que mordam-se de raiva e que comam brioches os detratores de Feira de Santana, mas um estudo feito pela revista Istoé, da Editora Três, aponta a cidade de Feira de Santana como uma das 50 melhores cidades do Brasil. É a quinta cidade com melhores indicadores sociais, a 42ª em sustentabilidade financeira e 32ª com os melhores indicadores sociais na saúde. Por outro lado, uma leitura destes dados pode muito bem indicar que não foi Feira que melhorou e sim, o país que piorou como um todo. Mas, ainda assim, saber que a Princesa do Sertão não seguiu a onda, rolando barranco e ladeira abaixo, também pode ser uma boa notícia. Mas , de qualquer forma, o importante é ser feliz, estando você em Feira de Santana ou em Paris. A lgumas vezes, em determinados momentos da minha vida, eu estive bastante insatisfeito de viver na cidade em que cresci. Daí, então, parti, na esperança e na ilusão de que outras terras me acolhessem com o mesmo calor e a mesma intensidade com que esta terra sempre me tra

O meu primeiro ano de vida.

O número 48 é múltiplo de 4, isto qualquer um com o mínimo conhecimento em matemática sabe muito bem. E que, 48 dividido por 4 dá 12, isto não é também nenhuma novidade. Acontece que 48 é a minha idade atual, pelo menos, até as 19:30 de hoje, dia 20 de setembro,  quando o calendário vira para mim e completo 49 anos de idade. Foto: Anne Jessant E ntão não vou resistir à tentação de dividir estes 48 anos de idade por 12 e transformar cada 4 anos de minha vida em um mês de um ano fictício, tal como naqueles calendários que afirmam que, se toda a história do Planeta Terra pudesse ser resumida a um único ano, os seres humanos surgiriam no último minuto da última hora do dia 31 de dezembro. Assim, esquecendo das quatro semanas a mais que um ano tem, peço a licença poética de transformar cada ano de minha vida em uma semana. N as primeiras quatro semanas de meu Janeiro, fui um menino feliz, inocente como são todas as crianças até os quatro anos de idade. Sobrevivente de um proble

A ex-mulher e o psicólogo argentino.

D eus é um grande brincalhão, eu não canso de observar isto, pelo menos em minha vida. Quando eu me separei, e como todo recém-separado, estava triste, deprimido e, ainda por cima, em pé de guerra com a minha ex-mulher. Eis que Ele me envia um mensageiro na forma de um psicólogo argentino . Ora, quem me conhece sabe que não confio muito em psicólogos - ainda que minha atual mulher, outra piada de Deus, seja psicóloga -  e, sinto muito mesmo pelo rasgo repentino de xenofobia, muito menos confio cegamente em argentinos. Então, um psicólogo argentino, aparecendo do nada para me dar conselhos matrimoniais, só podia mesmo ser coisa de Deus, este eterno fanfarrão. U m belo dia, este tal hermano psicólogo , que afirmou morar em Feira há muitos anos e eu desconfio que nunca tenha realmente existido, apareceu em meu estúdio para transpor alguns lps para o formato CD.  Do nada, me contou que fora casado por vinte anos com a mãe de seus filhos e que estava digitalizando aqueles lps para

A parábola do cordão umbilical.

Esta é uma história real com um toque de fantasia, mas que bem poderia ser contada como uma parábola de Jesus de Nazaré. Ela começa assim: U ma certa noite, há muitos anos atrás, um anjo veio aos pés da cama de uma jovem mulher, a acordou e soprou em seu ouvido: Deus havia dado uma grande missão para ela. O nome da mulher era Mônica e era uma moça sonhadora, bonita, inteligente e bem nascida, com toda uma vida de grandes alegrias e pequenas futilidades pela frente. Laura e Mônica E ntão, o anjo tomou Mônica pelas mãos e mostrou-lhe o que poderia ser o seu futuro:  Se casaria ainda muito jovem e se tornaria mãe logo em seguida. Daria  luz a uma menina, a quem chamaria Laura,  da qual jamais teria o cordão umbilical, que as uniu  na gestação, completamente cortado. Laura nasceria com paralisia cerebral, o que a tornaria completamente dependente de sua mãe e cujos cuidados lhe roubariam longos  anos de juventude. Cuidar de Laura a tornaria completamente refém das necessidades

DJ é músico.

E u nem acho que DJ seja músico ou deva ser tratado como tal. Mas gosto de dizer que DJ é músico sim, apenas para tirar do sério gente metida a besta que acha que tocar um instrumento é uma espécie de sacerdócio que os torna especiais aos olhos do resto da humanidade. C erta vez, quando ainda fazia parte de uma banda, fomos contratados para tocar em um evento e, antes de nós, acontecia a apresentação de um famoso DJ da minha cidade, o DJ Agenor . Enquanto Agenor executava brilhantemente o seu trabalho, fomos obrigados a passar o som bem ao lado dele, atrapalhando o seu set. Aquilo me deixou profundamente aborrecido, porque, em qualquer atividade, respeito é fundamental. Após nossa apresentação pedi desculpas ao DJ, que conheço de longas datas, por mim e pela minha banda. Agenor sorriu e me disse que não era nada, que já estava acostumado com aquilo. N o caso, fomos pressionados a passar os instrumentos pelo técnico de som, dono do equipamento alugado, que queria ir

Dos discos de cabeceira: The Psychedelic Furs - "Mirror Moves" (1984)

S er punk , ou ter uma banda punk, nos idos de 1977, parecia representar o completo desprezo pelo que se chama 'comercialismo', que vem a ser a arte de fazer concessões musicais em busca do sucesso. Todo grupo que se dizia punk naquele período era um manifesto vivo à contra-cultura e à industria formal do disco. Foi esta atitude que acabou detonando a onda de selos independentes nos anos 80, todos eles (os viáveis, é claro) encampados posteriormente pelos grandes labels . Um exemplo deste desprezo é a clássica relação entre os Sex Pistols e as diversas gravadoras pelas quais o grupo passou. O grupo inglês The Psychedelic Furs (um inteligentíssimo trocadilho que significa 'peles psicodélicas' mas que ao ser pronunciado entende-se 'os quatro psicodélicos') tem sua maior ironia justamente no fato de que a psicodelia era um dos alvos preferidos de ataque da geração 77. Não eram psicodélicos e sim raivosos garotos de subúrbio, que praticavam um punk rock i