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Mostrando postagens de 2021

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XVIII (FINAL) - HERE TODAY, GONE TOMORROW.

E m 2006 meu casamento havia chegado ao fim, tinha feito um punhado de canções mais maduras e até mesmo mais melancólicas e nada do que eu escrevia parecia muito se encaixar no repertório da LP & Os Compactos. Por outro lado, a banda continuava sem baterista e agora também sem baixista, já que Stephen havia expressado firmemente o desejo de permanecer definitivamente com o seu outro instrumento, a guitarra. N esta época, finalmente cedemos ao pedido daquele a quem chamávamos de "Viúva Porcina" - o músico que desde o início da banda queria ter sido o baterista - e o testamos, mas o resultado não foi bom. Encontramos também um guitarrista de  heavy metal e Stephen retornou brevemente ao baixo, mas também não deu muito certo. Charge por Daniel Figueiredo E u, por outro lado, já estava cansado de tanto esforço em vão, sem ter o reconhecimento devido da mídia local, com pouca compensação financeira e com essa enorme dificuldade de encontrar músicos para tocar na única banda fe

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XVII - O AMOR É SURDO.

  A s gravações do segundo disco da LP & Os Compactos ocorreram em 12 de junho de 2015. Foram marcadas em um grande estúdio da cidade e foram financiadas pelo musico Beto Pitombo, tio do vocalista. Não houve nenhum pré-ensaio pois Douglas Cerqueira, o baterista menor de idade, estava proibido pela mãe de ensaiar ou tocar por ter tirado baixas notas na escola. Não adiantou apelar para o bom senso da sua genitora. Ela não permitiria que o filho tocasse e pronto. N ão me recordo do artifício utilizado para tirar o baterista de casa mas começamos as gravações com ele logo pela manhã. Passamos as 12 músicas para que ele gravasse a bateria e o levamos de volta para casa. Bateria gravada, era hora de gravar os outros instrumentos. Lá pelas uma da manhã do dia seguinte concluímos os trabalhos. O Amor é Surdo foi pensado para sedimentar a nossa evidente posição de melhor banda da cidade mas deu tudo relativamente errado. O problema com o baterista, uma mixagem equivocada, um candidato a pr

LEMBRANÇAS DE WILSON EMÍDIO.

E sta é uma história sobre rock e amizade. Não importa muito se você nunca ouviu falar de  Wilson Emídio.  Certamente, se você gosta das duas ou de uma das coisas - rock e fazer amigos - , você vai gostar do que vai ler aqui. E m 1984, eu tinha uma banda de rock chamada Censura Prévia. Ensaiávamos na sala de estar de minha casa, assim como os Talking Heads ensaiavam na sala de estar do David Byrne no início da carreira. Tanto que, ao ver aquelas fotos do disco duplo ao vivo da banda  nova-iorquina,  me remeto imediatamente àqueles tempos. E, por mais incrível que possa parecer, nós tínhamos duas fãs. Eram duas vizinhas que não perdiam um ensaio, sentadas no sofá enquanto se balançavam, fazendo coreografias, rindo muito e tomando refrigerante. Um dia elas resolveram criar  um fã-clube para o nosso conjunto amador. Na verdade, elas mandaram uma carta para a revista Rock Stars,   uma publicação de quinta categoria, mas baratinha e acessível aos quebrados  financeiramente como nós. D emoro

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XVI - GAROTO DE PLUTÃO

S e a primeira versão da LP e Os Compactos pendia mais para o rockabilly, a segunda - com o guitarrista Sidarta e o baterista Douglas  - estava muito mais para um combo punk/new wave. E foi com isso em mente que eu comecei a preparar as canções de "O Amor é Surdo", o disco. Ressuscitei uma canção de meu antigo grupo, Traidores do Movimento, chamada "Cinema de Arte" (já havia feito isso no primeiro disco com "Nasci Para Comer"), retirei uma frase que continha um palavrão ("Cinema de arte é coisa de viado" trocada por "Cinema de arte só de arte marcial") e acrescentei mais uns versos. " C inema de Arte" tem uma história curiosa: Foi feita para um amigo que só gostava de filme "cabeça" e criticava duramente o meu gosto cinematográfico. Fiz esta música em 1991, em homenagem a ele - quase como um insulto -  e ele, de fato, por pouco não se tornou meu inimigo por causa dela. Quando saiu o CD da LP , o amigo comprou seu exe

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XV - ROCK DA OVERDOSE.

Z é Mário estava verdadeiramente encantado com o que ele mesmo chamava de "minha melô", o  seu "Rock Da Overdose". Mas não deixou de aprontar. Convidou um amigo para assistir  um  ensaio - uma lendária figura do rock local - e disse para ele que eu tinha feito uma  música em sua homenagem. O artista foi para o ensaio, todo pimpão,  esperando uma letra que o enchesse de elogios e encontrou um texto ácido e irônico. Saiu do ensaio me xingando e querendo brigar comigo e eu, nem ao menos, sabia a razão. Quando a lenda viva do rock feirense se foi, o  nosso vocalista nos  contou, aos risos, que disse ao rocker que eu havia feito "Rock da Overdose" como uma homenagem a ele. M as não há nada ruim que não possa piorar. Pouco depois da visita dele eu resolvi incluir uma intro hard rock no tal rock da overdose. O show em que a música seria tocada pela primeira vez ocorreria na UEFS, a universidade estadual local, em uma apresentação conjunta justamente com a banda d

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XIV - PIOR SEM ELE.

E u não me lembro bem de como foi e qual foi o último show com Ítalo mas lembro muito bem de como encontramos Douglas Cerqueira e vimos nele o baterista ideal para substituir o nosso Pete Best baiano.  Para variar, era mais um menino, que não tinha mais do que 14 anos na época. Stephen estava estudando em um colégio elitista da cidade e havia uma espécie de festival promovido pela instituição. Eu e Zé Mário fomos assistir ao festival  pois Stephen iria se apresentar. Eis que, quando aquele garoto com cara de invocado e camiseta dos Ramones começou a tocar, vislumbramos nele a solução de todos os nossos problemas percussivos. Ledo engano. Mas esta é uma história para mais adiante. Í talo continuava a faltar ensaios. Um dia, fomos em comitiva até a sua casa e o comunicamos da sua dispensa. Ele não recebeu a notícia muito bem e por muitos anos ficamos sem nos falar, ou, ao menos, com as relações estremecidas. Um dia, anos depois, Ítalo apareceu no meu trabalho. Andou de um lado da outra n

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XIII - OH YEAH.

A inda faríamos alguns grandes shows com Ítalo na bateria. Com o sucesso das apresentações no Antiquário, às quintas, fomos convidados por Eudes, dono do bar Jeca Total, .para um desafio ainda maior. O bar funcionava todos os dias exceto às segundas feiras, mas na quarta, Eudes abria o estabelecimento por abrir, apenas por não ter nada melhor a fazer em casa. Casa que, aliás, ficava localizada em seu próprio bar. Ou o bar ficava em sua casa, dependendo do ponto de vista. F oi então que tivemos a ideia de aproveitar o horário sem movimento e fazer, semanalmente e indefinidamente, um evento a que chamamos de Quartas Regressivas. O repertório do primeiro disco já havia enchido o nosso saco, ainda não havia nada do que viria a ser o set list do segundo e, no mais, adorávamos tocar  aquelas covers aprendidas para as apresentações no Antiquário. E, afinal, porque não levar um pouco mais de cultura para este povo? A ssim,  ensaiamos  novamente as canções dos Troggs e de todos aqueles artistas

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XII - VOCÊ MORREU PARA MIM.

A s vendas do nosso primeiro disco trouxeram algum caixa para a banda e o dinheiro era controlado por mim, inclusive por opção dos outros integrantes. Ítalo queria reformar a bateria, Stephen queria cordas melhores para o baixo, Zé Mário queria um som de voz melhor e eu achava que aquele dinheiro deveria ser investido em viagens para tocar nas cidades próximas e em um segundo disco, desta vez gravado em estúdio.  H ouve um momento em que brigamos por dinheiro. Mas não era, afinal, tanto dinheiro assim. E este foi um momento em que eu, por pouco, não me desliguei da LP. Aceitávamos qualquer convite para tocar e, geralmente, tocávamos de graça. Era a grana dos discos que fazia a roda girar. P ara tentar equalizar todas as demandas financeiras, resolvemos fazer uma série de apresentações mais baratas, sem PA, apenas com o equipamento básico, nas quintas-feiras, no bar Antiquário. As noites de quinta eram mornas no lugar e acertamos com o proprietário que faríamos shows intimistas, com um

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE XI - AGITO E USO.

O nosso primeiro disco - que, na verdade, não passava de uma demo mal gravada - foi imediatamente jogado por mim mesmo nos programas de compartilhamento internet afora. Por uma daquelas razões que até a razão desconhece, o disco acabou sendo bastante compartilhado, compartilhado de novo e recompartilhado. Como a gravação era tão precária que parecia ter sido feita em algum porão da década de 60, o disco foi imediatamente confundido com as gravações obscuras das zilhões de bandas que surgiram na esteira de Renato & Seus Blue Caps e que passaram a ser chamadas de "brazillian nuggets", em referência à famosa série de coletâneas de bandas sessentistas norte-americana. F oi assim que "Os Brotos também amam" ganhou o mundo. Confesso que arregimentei todos os meus amigos jornalistas que - alguns meio contra a vontade - resenharam e até elogiaram o disco. Havia o burburinho de que "aquele grupo era o grupo do Renato Arnun", já que a minha carreira anterior de

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE X - OS BROTOS TAMBÉM AMAM.

A pós este segundo show no Antiquário, passamos a tocar em todos os lugares em que era possível tocar na cidade. Bares, festivais, festivais em bares e bares em festivais. Os pais de Josias, para meu absoluto espanto, não se importavam com o fato do filho estar no meio de dois adultos de "reputação libada" e dois garotos com fama de maus. De qualquer forma, eu estava ali em uma banda com meu filho também para vigiar seus passos, já que eu conheço muito bem o meio musical, e aproveitava para vigiar também os passos de Josias, por quem eu julgava responsável. Não que isso fosse muito necessário. Josias, loiro e branco que nem leite, era o perfeito exemplo do WASP, o  menino branco, careta e conservador. Além de, evidentemente, parecer uma criança. Mas, na verdade, nem Stephen nem Josias me deram o menor trabalho enquanto estivemos juntos na mesma banda. A fiados e com o repertório na ponta da língua e dos dedos, resolvemos gravar uma demo. Escolhemos um domingo, dia 26 de setem

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE IX - RUA AUGUSTA

F oi em um destes primeiros shows nas casas dos amigos que conhecemos Gutão. Gutão - ou Guta - era um cinquentão ainda bonito porém muito castigado pelo tempo e pelos excessos. Ainda mantinha um certo ar de "menino do Rio", com jeito de garotão com 50 anos de praia, cheio de tic-tic nervosos adquiridos pelo abuso de drogas ao longo de muitos anos.  Gutão foi, literalmente, um capítulo à parte na história da LP & Os Compactos. Guitarrista de mão cheia - reza a lenda -  tocou no primeiro compacto do Camisa de Vênus no lugar de Karl Hummel, que estava muito nervoso e não conseguiu gravar. T ambém fora  roadie do Camisa de Vênus, tendo excursionado com o Capital Inicial, com os quais compôs a canção "Gritos", presente no primeiro disco da banda de Brasília. Trabalhou com o Legião Urbana, com Cazuza, Luís Melodia e com outros artistas do primeiro time do rock nacional e da MPB. Suas histórias desta época renderiam um livro - que ele nunca escreveu - de tão pitoresca

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE VIII - SE VOCÊ FICAR

A o malfadado primeiro show na varanda do quarto dos fundos de nossa casa, seguiram-se outras apresentações na casa de Josias e na casa da irmã do vocalista Zé Mário. Todas meio mambembes, ainda com a lendária bateria eletrônica do teclado Cássio do pequeno guitarrista. Todas, porém, chegaram ao fim e, em uma delas, a então namorada de Zé fez "várias queixas" a respeito do seu comportamento:  - Z é bebe demais, corre demais quando está dirigindo, sai sem mim... E foi desfiando um corolário de contrariedades e aborrecimentos.  Eu não tive dúvidas e transformei tudo isto em uma letra de música. Foi assim que surgiu "Se Você Ficar", que viria a se tornar nosso "maior sucesso", a nossa canção mais elogiada, embora, nem de longe fosse a minha preferida. "S e Você Ficar" foi também a primeira música que escrevi sobre a vida de outra pessoa. Apesar da parte da letra onde eu seria obrigado a ouvir Julio Iglesias remeter a uma colega que tive no ginásio e

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE VII - ADRIANA NA PISCINA

O s amigos já sabiam da existência da Zero AA Esquerda e estavam verdadeiramente ansiosos para o aguardado primeiro show da banda. Na verdade, não seria exatamente um show, já que ainda nem tínhamos baterista. Era mais uma apresentação-teste onde iríamos tocar e ver o que acontecia fora do palco. Ensaiamos arduamente para aquele dia e aquilo foi um verdadeiro evento. Vieram mãe, tia, primo, irmã, sobrinho e namorada do vocalista. Os pais e a irmã de Josias também compareceram. Meus irmãos, os tios por parte de mãe de meu filho, amigos dos integrantes da banda e algumas meninas do bairro vizinho. No dia, o quintal da casa de meu filho ficou surpreendentemente lotado, já que os amigos trouxeram seus amigos também. Já completamente dentro do espírito empreendedor e capitalista da banda, franqueamos a entrada mas cobramos pela cerveja, água e refrigerante. A o todo, sem medo de errar, ali estavam umas 100 pessoas. Todos acotovelados em um quintal, onde usamos a varanda como palco. O som e

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE VI - O ADIVINHÃO

Q uando eu era menino, sempre assistia ao meio dia, logo ao chegar da escola, um capítulo da minha série preferida, o Agente 86. E um dos meus capítulos favoritos era  aquele em que Maxwell Smart e a Agente 99 investigavam o "Guru Legal", um DJ vilão que hipnotizava a garotada com um som sacolejante feito por uma banda sem baterista chamada "Vacas Sagradas". A imagem da agente 99 e de Max dançando ao som do grupo  jamais saiu de minha cabeça. Muito menos a imagem da tal banda. E m um tempo de muito psicodelismo, as "Vacas Sagradas" se vestiam com batas multicoloridas e chapéus com chifres. Eu sempre achei aquele nome e aquele visual  absolutamente fantásticos e sempre tentei batizar uma banda da qual fizesse parte com este nome. Jamais consegui.  P orém, finalmente, era chegada a hora. Aquele grupo tão disforme, também sem baterista, que estava sendo construído de maneira tão incomum, tinha que se chamar "Vacas Sagradas".  Todo mundo de acordo? N