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Mostrando postagens de setembro, 2021

PLUG LASER: A HISTÓRIA NÃO CONTADA - PARTE X

T odas as lojas de discos da cidade sofreram com o crescimento desenfreado da pirataria. Lembro até hoje quando um cliente chegou na Plug com uma cópia pirata de Calango, CD do Skank, adquirido no Paraguai, que a Sony havia acabado de lançar. Aquela versão pirata 1.0 ainda tinha uma capinha arrumada, tipo jewel box tradicional, encarte em offset e rótulo do cd pintado. Ainda que transparecesse um certo descuido no acabamento, passaria facilmente por original, muito diferente das outras versões de CDs piratas que viriam depois. H avia uma conversa fiada na época de que os CDs piratas estragavam os aparelhos, o que era, no mínimo, uma meia-verdade. CD-Rs eram gravados em 8x e os primeiros players suportavam discos prensados em 4x, que era - e ainda é -  a velocidade dos CDs prensados em fábricas . Então, quem tivesse um player mais antigo ainda em funcionamento poderia ter alguma dificuldade em tocar os discos gravados e, sim, a insistência em tocá-los poderia levar a um desgaste prematu

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE IV - BABY LOOK

P ara o segundo ensaio daquele protótipo de banda, eu resolvi que, antes, faria  uma espécie de pré-ensaio entre Zé Mário, o candidato a guitarrista Stephen e eu. Não faço muita ideia da razão mas escolhi para ensaiar Raindrops Keep Falling On My Head de Burt Bacharach, que fora sucesso na voz de B J Thomas. Muito provavelmente, por conta da versão do trio Ben Folds Five, que eu ouvia muito naquela época. Com o inglês um tanto canhestro que marcaria suas futuras interpretações na língua de Shakespeare, Zé foi acompanhado de um baixista que não conseguia tocar seu instrumento e de um menino de 14 anos que surrava desesperadamente o violão. Acabou saindo alguma coisa parecida com o Chiclete Com Banana tentando tocar um  funk. Nada que valesse a pena ser registrado. E não foi. N o ensaio de fato, no domingo, foi a vez de Wilton Vieira desistir de seguir com a banda. Enfim, agora éramos eu, Stephen e Zé, um baixo e uma guitarra sem caixas amplificadas. Foi a minha vez de pular fora. E eu

PLUG LASER: A HISTÓRIA NÃO CONTADA - PARTE IX

N a Plug Laser. sempre haviam causos e clientes marcantes. Um deles era um homenzarrão de mais de 1,80, malhado, policial, mas que só ouvia as canções mais românticas possíveis. Ganhou de nós o apelido de Sargento Glicose , ou simplesmente "Glicose", dado por um dos funcionários. Era saudado desta forma toda vez que entrava na loja, fingia um ar de repreensão para abrir um sorriso em seguida. Sid Teixeira, o "Sargento Glicose". O s funcionários ensaiavam para ele até uma  esquete de humor em que o Sargento Glicose dava um baculejo em algum meliante e o liberava após saber que o delinquente era fã de Bread e Air Supply. A vítima do bullying muitas vezes se entortava de tanto rir. O utro cliente sempre trazia a tiracolo a esposa esbelta, de corpo bem torneado e curvilíneo. A moça era, de fato, muito bonita, de rosto e de corpo. Chegava sempre de calça legging e já sabíamos o que iria acontecer. O marido pedia à esposa que pegasse um determinado disco na prateleira, 

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE III - EU NÃO QUERO.

N o domingo seguinte, Zé Mário apareceu em minha casa pela manhã acompanhado de meu antigo funcionário na Plug Laser,  Wilton Vieira , o "Pink Floyd", e seu amigo Renato Miranda, vulgo Renatinho. Traziam  nos braços baixo, bateria, caixas, cabos e microfones. A guitarra eu tinha, mas meu xará trouxe a dele.  Foram entrando e se acomodando em um amplo quarto nos fundos da casa em que hoje funciona o estúdio de Stephen. Montaram tudo, disseram "alô som" várias  vezes até que consideraram tudo pronto. E me acordaram para ensaiar.   T udo pronto como, Zé? Cadê o baixista? Os três apontaram para mim. Eu disse que eles só poderiam estar loucos, pois eu nunca havia sequer encostado em um contrabaixo, um instrumento praticamente alienígena para mim. Mas  Zé pediu com jeitinho e eu cedi. Fazer o que? Tudo pelo rock and roll. C om a primeiríssima formação constando de Zé nos vocais, Renato Miranda na guitarra, eu no baixo e Wilton "Pink Floyd" Vieira na bateria, dem

PLUG LASER: A HISTÓRIA NÃO CONTADA - PARTE VIII

Ap esar de não parecer, por algumas histórias que estou relatando aqui, o clima na Plug Lase r era de muito respeito e profissionalismo quando era necessário haver respeito e profissionalismo mas também de muita descontração em boa parte do tempo. É bom lembrar que tudo isto - as brincadeiras e as gozações - aconteciam nas horas em que não havia cliente na loja. O trabalho em si era levado muito a sério. Nenhum cliente jamais sofreu qualquer tipo de comentário galhofeiro sem que soubesse que estava sendo gozado. E até mesmo entrasse na gozação, o que costumava acontecer 100% das vezes. O s apelidos jocosos eram dados uns  aos outros entre os funcionários em tom de gozação e ninguém que trabalhava na loja costumava se zangar com isto. Eram apelidos que flertavam com o bullying explícito mas ninguém ali estava preocupado com outra coisa além de zoar de volta o colega de trabalho. C omo não sei  se os ex-funcionários da loja querem ter seus apelidos revelados, vou apenas listar algumas da

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE II - SOLUÇÃO ORAL.

D esde que abri a primeira loja de discos, a Muzak , os clientes mais jovens me tomaram por uma espécie de "guru" musical sem terem antes combinado comigo. Como guru transcendental do rock and roll eu causei muito mais decepções do que alegrias. Eu sempre fui este iconoclasta de carteirinha, que não respeita ídolos nem bandas sagradas, das quais não se pode falar absolutamente nada, eventualmente que são uma merda. E foi assim que fiz muitos desafetos, alguns que duram até hoje, por ter dito coisas heréticas como o Kiss ser melhor que o Joy Division. U m destes discípulos acidentais era um garoto cabeçudo, com cara de adulto em um corpo de criança. Tinha 12 para 13 anos e era frequentador da minha outra loja, a Plug Laser . A sua família era toda minha cliente, do pai à mãe passando pelas irmãs, cunhados e adjacentes. Ele gosta de contar de como desistiu de comprar um disco na minha loja por me ver e ouvir detonar a banda. E olha que a banda em questão era o Legião Urbana. O

PLUG LASER: A HISTÓRIA NÃO CONTADA - PARTE VII

E u nunca tive o (mau) hábito de fazer acepção de pessoas e acredito que transmiti muito bem esta premissa para os funcionários da Plug Laser . Ninguém ali, nenhum cliente, jamais foi discriminado na loja fosse porque motivo fosse. Por ser homossexual, heterossexual, homem, mulher, pobre, rico, negro ou branco, bonito ou feio. Acredito que, na verdade, nem precisei passar estas noções para os funcionários que trabalhavam comigo porque eles mesmos já tinham esta concepção vinda de berço. Não foi a toa que sempre foram escolhidos a dedo. Aliás, esta expressão, "escolhidos a dedo", renderia uma série de gozações e deboches no ambiente interno da loja porque não éramos preconceituosos mas jamais perdíamos uma piada por mais politicamente incorreta que fosse. D aí que o bullying corria solto entre os funcionários, antes mesmo que esta palavra virasse moda. Eu fazia vistas grossas às brincadeiras entre eles, dava risadas e pedia apenas que não me envolvessem nelas. Se houvesse algu

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE I - PET MUSIC.

E u já escrevi neste blog, ainda que de forma bem resumida, sobre as bandas que tive antes da LP & os Compactos, e isto pode ser conferido  aqui . Portanto, quem quiser entender o que aconteceu antes, basta clicar no link.    O que vai ser contado a partir daqui é a história, de fato e de direito, da banda com a qual realizei o meu sonho de ser reconhecido como um compositor de qualidade. Não usarei de falsa modéstia no que irei relatar, mas também não dourarei nenhuma pílula. Tudo que será contado, será contado de forma crua e desapaixonada, mas sem abdicar de exercer o direito de reconhecer que a LP & Os Compactos foi a banda mais relevante que já surgiu em Feira de Santana, pelo menos, até o escrever destas linhas. F omos citados pelo crítico musical Jamari França como uma das promessas do rock nacional em 2005. Tivemos três matérias em revistas musicais de âmbito nacional, chegamos a entrar em uma parada independente de rockabilly no Japão e nomes do rock nacional - alguns