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Mostrando postagens de agosto, 2015

Dos discos de cabeceira: CCR - "Mardi Gras" (1972)

C ríticos de rock existem desde que existe rock. E críticos de rock erram desde que resolveram deixar de ser fãs e se tornarem  'críticos'. Assim, trabalhos medianos ou 'sérios', 'de pesquisa', de bandas famosas ou não, se tornam 'clássicos' da noite para o dia. E vice-versa: trabalhos inovadores, ousados e que apontam para uma outra direção se tornam porcarias ao sabor da tinta lançada pelas atormentadas penas dos críticos. E xemplos não faltam: o grupo Queen ao lançar o injustiçado 'Hot Space', foi massacrado pela crítica dita 'especializada' que julgou o disco à revelia. Canções pop, funks, música eletrônica, nada salvou o LP da ira dos donos da verdade. O resultado foi que a própria banda passou a exorcizar o trabalho, convencida que o disco era mesmo ruim. Certo que era muito mais um disco de Deacon e Mercury do que de May e Taylor, mas, ainda assim, há muita qualidade ali. E o que o Creedence Clearwater Revival , a vir

Filhos são arte inacabada...ao menos para os pais!

Q uase todo pai é um artista. Eu digo "quase" porque alguns são desleixados de suas próprias obras e não conservam o que criaram, em um momento muitas vezes tênue, de inspiração. Mas, por graça divina sim, a imensa maioria dos pais são artistas que vivem retocando suas obras e nunca se dão por convencidos de que sua arte agora é arte-final, pronta e acabada. B ons pais, ao voltar os olhos para o passado, sempre se acham insatisfeitos em relação à forma como criaram seus filhos. Mudariam isto ou aquilo, fariam aquela coisa de outra forma, teriam tomado outras decisões, ainda que tudo isto pouco importasse, ou pouco modificasse, a obra de arte finalizada. S e eu pudesse voltar no tempo, voltaria àquela quase madrugada de maio de 1989, o momento em que o menino magrinho veio ao mundo, chorando muito e já despertando em mim o insitnto protetor de pai. Teria feito a mãe desistir logo cedo da amamentação, que ele definitivamente recusou, e a convencido a partir para

Leite de Rosas

O som do telefone veio me encontrar distraído, perdido em meus inconfessáveis pensamentos, afogado em tua visão imaginária, gravada na tela apagada da televisão. Finjo para mim mesmo que não, eu não estou ansioso pela sua presença. O corpo dá sinais de tensão que contrariam a minha improvável calma, esperando a hora de você finalmente entrar por aquela porta, sorrir e me abraçar. Atendo a tua ligação e sua voz tão doce me informa que já está subindo. Me pergunta se estou chateado pelo seu atraso. Como eu poderia estar? Você está chegando, daqui a pouco adentrará meu apartamento e seu semblante vai novamente iluminar minha sala de estar. Q uando você finalmente cruzar aquela porta e vier ao meu encontro, eu desviarei o curso de toda a minha vida, esquecendo de todos os problemas e das obrigações. Faremos movimentos ensaiados como em um balé, apenas para que o fluir do nosso cio nos banhe em um lago represado e nos deixe imersos em nosso amor. A cama estará enfeitada c

Educação Artística - Bons discos para aumentar a sua cultura musical.

J unior Senior -  "D-d-d-don't stop the beat" (2003) -  Quem tem mais de 30 anos certamente se lembra de um clip que começou a veicular em 1982 com imagens de desenho animado embaladas por um som contagiante, mistura de funk e pop. A música era  Genius Of Love   e a banda, suspeitosíssima de ser uma armação já que os artistas sequer se davam ao trabalho de aparecer na tela, era uma tal de   Tom Tom Club . Na era da desinformação pré-internet e pré-tudo mais do início da década de 80, demorou algum tempo até sabermos que se tratava de um projeto paralelo de integrantes do visceral grupo novaiorquino Talking Heads . M as, até isso acontecer, o estrago já estava feito e muito roqueiro metido a brabo já havia se rendido ao óbvio, que a música era boa mesmo e estávamos conversados. Mas "Genius Of Love" era, sem dúvida, um ótimo single e apenas isso. O lp que continha a pequena maravilha ficava a eras de distância de sua piece de resistance . O clip de  M

O plágio e Raul Seixas: Uma relação broxante.

O plágio só não é mais antigo que a criação. Até porque, se surgisse antes da criação, a própria criação já seria, por si só, um plágio. Não entendeu? Acostume-se. Na música pop, o plágio – e por plágio, aqui, entenda-se qualquer intenção de copiar qualquer parte de uma canção – é quase uma obrigação. Então, não estou aqui a me fazer de moralista, defensor da criação totalmente original, até porque ela, a criação pura, simplesmente não existe. E u mesmo, em minhas composições musicais, já surrupiei trechos de outras canções para  fazer uma terceira, novinha em folha. E, provavelmente, de quem eu “roubei”, este já havia igualmente roubado de outro compositor.  A música pop é assim, derivativa por natureza, ou seja, nela, uma coisa deriva da outra, e foi este processo natural de antropofagia cultural é que a fez sobreviver estes anos todos. M as existe um limite, aliás, existem dois, para determinar o que pode ser chamado de uso natural de trechos de uma canção para se fazer o

Faz parte do seu show.

N ão me lembro da passagem de um outro artista ter me deixado tão triste. Talvez George Harrison tenha me deixado com uma sensação parecida de angústia, de falta, de perda, por alguém que sequer conhecia. Mas aí está o ponto: Eu conhecia o grande artista que faleceu ante-ontem. Conhecia virtualmente, através das redes sociais em que o adicionei. Não éramos íntimos, nem poderíamos, mas éramos amigos sim, na medida do possível. E u sou fã de sua banda mais bem sucedida, o Herva Doce, desde a adolescência. Quando era mais jovem, queria ser como o baixista, Roberto Lly , magro, esguio e com a cara de Keith Richards, mas a genética me fazia me sentir mais parecido com Renato Ladeira. Gordinho assim como ele, ainda calhava de termos o mesmo nome.  E Renato era a voz do Herva Doce . Era da boca de Renato que saiam as palavras que influenciaram a minha forma de escrever música. E sim, haviam as palavras. Muito além de Amante Profissional, uma canção comercial feita na medida para toc

Dos discos de cabeceira: "Plasticland" - Plasticland (1984)

H á uma velha – e muito boa – canção que se chama “What made Milwaukee famous”. A canção traz como subtítulo “Has made a loser out of me” e fala de cerveja, porém, o que fez a cidade de Milwaukee , no esquecido estado norte-americano do Wiscousin, se tornar famosa para mim – e, sem dúvida isto, de alguma forma, é responsável pela minha parte “loser” que ainda existe hoje em dia - foi a banda local Plasticland . P lasticland é um combo neo-psicodélico surgido na segunda metade dos anos 80, saídos de alguma máquina do tempo diretamente dos anos 60 para aquela década.  Lançaram seu primeiro LP, Collor Apreciation , em 1984, na França, pelo selo Lollita Records , e só um ano depois, conseguiram um contrato nos Estados Unidos, com a Enigma Records . A Enigma nada mais fez do que lançar o mesmo álbum europeu com alterações na ordem das músicas. Foi esta edição, epônima , que trazia como título do disco o próprio nome da banda, que acabou aportando no Brasil em um improvável pacote de

Dias de luta.

S ó hoje, depois de muito tempo, 26 anos depois que ele se foi, é que fui entender, de fato, aquele homem que morreu com os mesmos 49 anos que estou prestes a completar daqui a quase um mês. O hiato de experiências nunca vividas, a relação de pai e filho que nunca tivemos plenamente, isto ainda é um buraco emocional em minha vida, ainda que o tempo tenha se encarregado de tapá-lo com o cimento da minha própria experiência adquirida com todos os erros que eu poderia não ter cometido. B astava que aquele homem ainda estivesse aqui, com os cabelos brancos que não chegou a ter, para que minha vida tivesse sido tão mais fácil de ser vivida. Que falta faz um pai presente, senão para nos falar de seus sucessos, ao menos para nos prevenir de seus fracassos...Sem um pai ao lado, vivemos às cegas, erramos e acertamos por nós mesmos. Se um dia o visse novamente eu lhe diria que não poderia ter ido embora tão cedo e me deixado aqui sozinho, sem rumo, sem regras, sem direção. Sinto a falta d

Dr. Montrose e Mr. Halen

M uita gente boa nunca conseguiu entender porquê  Sammy Hagar , logo ele, foi escalado como vocalista substituto de David Lee Roth , quando este saiu do Van Halen em 1985. Parecia que apenas o fato de que os dois vocalistas não conseguiriam permanecer no mesmo ambiente por mais de cinco minutos foi o único fator que pesou na escolha feita pessoalmente por Eddie Van Halen . Afinal Lee Roth e Eddie estavam literalmente em pé de guerra quando David saiu da banda. Mas não é bem assim. S er o clone de um outro grupo, no universo do rock, não é, e nunca foi, nada demais. Os Beatles , eles mesmos, copiavam descaradamente um grupo conterrâneo,  Gerry And The Pacemakers , no início da carreira. O  Van Halen , e seu auto denominado  big rock , sempre foi uma versão mais apurada de um dos grupos mais injustiçados do rock, o  Montrose . As semelhanças são, digamos, " montruosas"  (desculpem o imperdoável trocadilho). Em primeiríssimo lugar, o nome. Antes do guitarrista Ronnie

Keith Richards, Sgt. Pepper’s e uma imprensa cada vez mais “rubbish”.

A imprensa mundial vive de polêmicas tolas e não deveria ser assim. O papel do jornalismo na sociedade moderna é, para além de relevante, essencial, e a velha estratégia de manipular informações, distorcer falas de entrevistados, apenas para  vender jornal (e, hoje em dia, ganhar views nos sites)  anda cada vez mais fácil de ser desmascarada. A lgum tempo atrás questionaram a cantora Sandy se ela achava possível sentir prazer anal. A pergunta já pareceria descabida sendo feita a uma artista que nunca abusou da sensualidade, aliás, nunca mesmo a usou. Filha do cantor Xororó, da dupla Chitãozinho e Xororó, Sandy saiu de uma carreira infanto-juvenil ao lado do irmão, para cair em um casamento tão convencional que seu esposo era integrante de um grupo musical caseiro chamado “Família Lima”. Mas Sandy, até pela ingenuidade e despreparo, respondeu a pergunta sem constrangimento algum e disse que sim, era possível sentir prazer anal. Foi o suficiente para a revista estampar em sua cap

Dos discos de cabeceira: New Order - "Get Ready"

N ew Order - "Get Ready" (2001) - Talvez seja mesmo uma velha mania, que sempre tive, de ser eternamente  do contra . Por outro lado, o que é esta mania senão a essência do velho espírito punk? Aliás, senão, pra que punk? E sem punk, como haveria o pós-punk?  A verdade é que sempre achei e sempre acharei o New Order um agrupamento muito superior em todos os sentidos ao Joy Division . O que eu posso fazer? Não dá para deixar de notar a qualidade das melodias simples mas eficientíssimas de Bernard Sumner , que substituíram muito bem as atonalidades febris de Ian Curtis .  I sto sem falar do clima hipnótico das canções e dos teclados etéreos de Gillian Gilbert. ..uau! Apesar de manter em minha modesta coleção de discos os dois exemplares seminais da banda de Ian Curtis (tem horas que nada cai melhor do que a voz soturna do nosso suicida preferido discernindo sobre a dor de viver). O problema é que, a beira dos quarenta anos de idade, estas horas vão ficando cada

Dos discos de cabeceira: The Brazilian Bitles - "É onda!"

T he Brazilian Bitles - "É Onda!" (1967) - Ele ainda está lá. Catalogado na letra B, entre os discos de vinil de minha mãe, que sempre foi colecionadora de LPs (e também de compactos). Oficialmente é meu. Oficiosamente, é dela. Mas meu nome está lá em uma singela dedicatória. Foi meu presente de aniversário de um ano de idade, em 20 de setembro de 1967. De vez em sempre o sequestro, mas sempre sou obrigado a devolvê-lo. Mas que tipo de mãe é essa, que ao invés de dar um monociclo , um boneco do topo-gigio ou um brinquedo qualquer, presenteia o filho, ainda bebê, com um disco de rock? Certamente uma mãe viciada em boa música e que passou o vício para o filho. E xcentricidades à parte, devo confessar que ela acertou na mosca. Cresci ouvindo este disco e sei de cor todas as letras. Até o surgimento da internet e o estreitamento das informações disponíveis, os Brazilian Bitles eram, para mim, um segredo muito bem guardado. Quem eram aqueles caras? De onde eram e que fim l