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Mostrando postagens de janeiro, 2015

PROTEJAM AS BOLAS, AQUI VÃO OS SEX PISTOLS.

N ão tem jeito. A história do rock não se divide em antes e depois do Led Zeppelin , por mais importante que o grupo de Plant e Page tenha sido. Muito menos em antes e depois de The Cure, The Clash , The isso ou The aquilo. O rock nunca mais foi o mesmo depois de 1977. E não adianta argumentar, com toda a razão, que os Sex Pistols eram uma pálida imitação dos Heartbreakers de Johnny Thunders ou dos New York Dolls do mesmo Thunders e de David Johansen . É isso aí mesmo. Os Pistols não devem ser julgados pela competência musical e sim pela revolução que os cinco delinquentes londrinos provocaram no cenário do rock inglês ou de qualquer outra parte do mundo.  M as vamos baixar um pouco a bola dos ingleses. O punk, ao contrário do que muita gente pensa, não começou com os Pistols. A palavra "punk", designando um estilo musical, surgiu quando "Handsome Dick Manitoba", guitarrista da banda nova-iorquina The Dictators , declarou que aquele som tosco que seu gru

O ENSINAMENTO DO PROFETA

O profeta Gentileza foi um homem que viveu no Rio de Janeiro entre as décadas de 70 e 80. Figura messiânica e bem peculiar, costumava escrever, com uma grafia bem típica, versículos sobre a necessidade de ser gentil. Seu caderno eram as paredes e muros da capital carioca. Recentemente tentaram cobrir seus escritos e a população se manifestou contra, um claro sinal de que o profeta não veio mesmo ao mundo a passeio. Dizem que nem sempre ele praticava o que pregava e, muitas vezes, Gentileza era  flagrado em atitudes nada gentis. Mas, dane-se. O profeta era humano e humanos nem sempre praticam o que dizem acreditar. Na maior parte do tempo, porém, Gentileza era mesmo, perdoem-me a forçada redundância, gentil. E m uma de minhas viagens à cidade maravilhosa, ainda adolescente, conheci Gentileza pessoalmente. Quer dizer, o vi pregando na praça, rodeado de gente, ali próximo aos Arcos da Lapa, cercanias da sede da Petrobrás. Poderia aqui dizer que parei e fiquei maravilhado, ouvin

OS PROPÓSITOS DE DEUS.

M uito se fala em propósitos de Deus, mas é difícil entender que propósitos seriam estes frente a grandes tragédias. Porém, a culpa não é Dele. Porque deveria ser simples entender que começamos a morrer assim que nascemos e que, a qualquer momento de nossas curtas e frágeis vidas, podemos ir embora.  Uns se vão com meses de vida, outros fecham seu ciclo em uma centena de anos, mas como entender a lógica celestial para administrar o fôlego de vida que recebemos? Ainda assim, ficamos consternados quando qualquer um dos nossos se vai. Qualquer um. P ouca coisa  pode soar tão absurda quanto ter  que enterrar um filho. Pessoas que passam por esta dolorosa experiência muitas vezes parecem inabaláveis e conformadas, mas por dentro estão destruídas, mutiladas, como se houvessem perdido uma perna ou um braço.  E como preferiam ter perdido um membro do corpo do que um filho... Elas continuam de pé,  firmes, ou se contorcem da dor da alma, não importa.  O sofrimento é mesmo imenso e inima

A ERA DIGITAL MATOU AS LENDAS.

A s câmeras digitais acabaram com todo o mistério que havia no sobrenatural. Antigamente, os gnomos, os elfos, as sereias e toda sorte de seres fantásticos apareciam garbosos e desfocados em fotografias rudimentares. Hoje,  com o advento de telefones com câmeras que conseguem fotografar até as crateras da lua, onde, afinal,  todas as criaturas sobrenaturais se meteram?  F antasmas, então, nem se fala. Se antes se intrometiam em fotos de família, bisbilhotavam por trás de janelas e apareciam de surpresa em seu próprio funeral, hoje em dia estão tímidos, acanhados, discretos, até parece que estão mortos! Os discos voadores também resolveram aterrissar, amartizar ou seja lá o que for,  e não aparecem mais em fotos como antigamente, desfocados, mal iluminados e distantes. Na verdade, nem aparecem mais, podem reparar! N as paragens tupiniquins temos uma fileira de seres surreais que poderiam se tornar subcelebridades instantâneas e até convidados para um BBB do além: O Boitatá, a Caip

O MUNDO É EM PRETO E BRANCO.

O ser humano conheceu  o planeta em que vive  enxergando apenas duas cores e, diga-se de passagem, duas cores nada atrativas: o azul fosco e o vermelho desbotado. Tudo que podíamos ver eram apenas estas duas tonalidades, sem sequer haver muita variação entre elas. Foi a mudança de hábitos alimentares, ainda lá na pré-história, quando deixamos de ser apenas caçadores para sermos também agricultores, que determinou a mudança em nossa percepção. Passamos, então,  a enxergar três cores primárias: o azul, verde e amarelo, e também a perceber diferenças e variações entre elas. N ão sei se você já se deu conta disto e se isto irá soar como uma má notícia para você, mas as cores, rigorosamente, não existem. O mundo é, na realidade, em preto, um pouquinho de branco e muitos tons de cinza. O que você percebe como sendo as cores nada mais são que as ondas de luz branca provenientes do sol refletindo-se na superfície da Terra. O que determina como você perceberá as cores são os tamanhos desta

SAI DO CHÃO.

O rock se acha muito importante. Aliás, eu também acho o rock muito importante. Tanto que começo um texto sobre os  30 anos da axé-music , fenômeno pop-musical dos anos 80 na Bahia, falando de seu principal opositor, o rock. Aliás o rock se opõe a tudo que julga inferior a ele mesmo e bajula tudo que lhe é sabidamente superior. Assim, lá fora, o rock paquerou  o jazz, a música erudita  e até mesmo o country e tratou o hip-hop e o rap como  sonoridades quase  irrelevantes.  Aqui no Brasil o rock cortejou a MPB e controverteu toda a música que conseguiu mais espaço que esse estilo na mídia. N a Bahia, o rock sempre se manteve como um feudo de gente fina, elegante e insincera, que sempre tratou a produção musical do estado - que não fosse rock -  com desdém e desprezo. E foi assim, em um ambiente de “guerra cultural”, que surgiu a axé-music ,  em 1985. O que existia antes - e justamente era o motivo de repulsa pelas hordas roqueiras baianas -  costumava ser chamado desdenhosamente

OS MENINOS QUE VENDIAM DOCES.

H oje eu me dei conta que aqueles meninos que  saiam pelas ruas da cidade vendendo doces andam sumidos.  Sempre apareciam em meu trabalho desfilando simpatia, me chamando de tio e pedindo para ajudá-los comprando suas balas e chicletes.  E eu comprava sempre que podia, mesmo que nem precisasse ou quisesse.  Nunca gostei de dar esmolas, sempre preferi comprar algo de quem vendia alguma coisa, sempre coerente com meu espírito liberal.  Assim, já me enchi de mini-calculadoras chinesas, chicletes, doces, cofrinhos toscos feitos a mão, flanelas, pastas de limpeza que não limpavam direito, tudo em nome da livre iniciativa jovem e popular. E, hoje em dia, os  meninos,  simplesmente, sumiram. P ercebido o sumiço, resta imaginar onde os meninos podem estar:  Nas escolas, por força das exigências do Bolsa-Família, que condiciona o recebimento do benefício à matrícula dos filhos na rede escolar? Ou foram recrutados pelo  tráfico, que cresce nas grandes cidades com o ritmo da recessão e da c

EU E O DOIDO.

P erto de onde eu moro vive um doido. “Doido” é como chamamos genericamente, aqui na minha cidade, os moradores de rua. Aqueles que, de tanto que os vemos, se tornam parte inevitável da paisagem, como uma árvore ou um poste de eletricidade. A comparação com seres inanimados é proposital. De fato, preferimos fazer de conta que não os enxergamos, como se fossem seres tão distantes de nós, de outra espécie ou gênero. O doido que mora perto de minha casa, “mora” na frente de um bar abandonado, em uma esquina.  A paisagem é devastadora:  Lixo, restos de trapos de roupas que o doido veste, restos de alimentos que as pessoas dão ao doido, e o próprio doido.  Uma certa vez,  uma amiga que trabalhou com moradores de rua me relevou o universo dos que abandonam tudo para sair pelo mundo: Se desfazem de tudo que têm, rasgam os documentos, se tornam invisíveis aos olhos da família, da sociedade e somem. Não querem ser achados, querem ser  absolutamente esquecidos. O bservo o doido em sua doidi

UM PROGRAMA SOBRE O NADA.

E vem aí mais um BBB. BBB, se você viveu os últimos quinze anos de sua vida em outro planeta e ainda não sabe, são as iniciais pelas quais o programa Big Brother Brasil , da TV Globo, é conhecido. E junto com a chegada da nova edição do programa, a décima-quinta quando escrevo estas linhas, as redes sociais sofrerão uma enxurrada de citações à atração, a maioria desairosas, reclamando até mesmo da simples existência do programa. H á quem assista o BBB, o acompanhe e o discuta, e só este motivo já é suficiente para este ou qualquer outro programa existir. Não adianta aquele papo de que as pessoas assistem o BBB porque não passam programas “culturais”  no horário. Fosse assim, as TVs estatais e sua enxurrada de “cultura” seriam campeões  de audiência. E u também não sou fã do BBB ou de reality-shows . Na verdade, até  acho que o formato já cansou faz muito tempo e o Big Brother só é mantido no ar por ser barato e eficiente no merchandising agressivo dos tempos de controle remot

A SELFIE DE SALOMÉ.

J oão Baptista era uma espécie de profeta temporão e underground , pra lá de alternativo, que viveu nos tempos de Jesus . Era o vidente favorito de Herodes Antipas , governador da Galiléia daqueles tempos, que nada  fazia sem antes  lhe consultar.  Tal preferência  acabou lhe custando a cabeça, pedida por Salomé , sobrinha  do governante.   T ardio demais para estar entre os principais profetas do judaísmo, esquisito demais para se adequar aos códigos rígidos do farisaísmo , João Baptista era um esquisitão. Costumava dizer que era a ele a quem o profeta Elias se referia quando falava da  "voz que clama no deserto". João seria "aquele que falaria as verdades e a quem ninguém daria ouvidos".  N ão que eu esteja me arvorando a profeta de coisa alguma, mas sei que todos concordarão plenamente com o que direi a seguir, mas poucos mudarão o seu comportamento. Por isto, me comparo aqui com João, o Batizador . Não por ser um profeta da modernidade, mas, com c

O BEATLE TIM NO REINO DA JOVEM GUARDA - PARTE II.

E u, ao mesmo tempo, odeio e amo Lulu Santos . Antes que alguém questione uma suposta bipolaridade minha, eu explico: Gosto da música feita pelo artista, mas tenho uma profunda antipatia pela pessoa  de Luís Maurício dos Santos , o homem por trás do músico. Muitos artistas são antipáticos mas talentosos artistas. Assim como alguns artistas acabam favorecidos por terem simpatia demais e talento de menos. Assim é a vida como ela é, diria Nélson Rodrigues.  Da mesma forma, amo muito e odeio um pouquinho o cidadão Sebastião Rodrigues Maia , conhecido no meio artístico pelo epíteto de Tim Maia . T im esteve no olho do furacão nos últimos dias, nos jornais e na internet, por conta da polêmica exibição de uma minissérie baseada no filme sobre a sua vida, recentemente exibida  pela TV Globo.  Aqui mesmo neste blog, já escrevi sobre o assunto. Volto a escrever por conta da lembrança feita por alguns blogueiros e jornalistas, do episódio envolvendo os cantores Ritchie e Roberto Carlos , um

CAFÉ COM HIPOCRISIA.

U m dia, faltou açúcar em casa e havia um bule de café quentinho recém-feito esperando para ser esvaziado. Não pensei duas vezes: Enchi uma xícara de café amargo imaginando que só mesmo o vício em cafeína faria alguém tomar uma  medida tão drástica assim. Passada a estranheza do primeiro contato com o amargor da bebida, fui percebendo o aroma que se escondia por detrás dos cristais de cana que adoçavam o meu café. E percebi que, sem açúcar, o café era uma bebida muito mais interessante. A relação entre o cheiro e o gosto era muito mais intensa. Cheguei à conclusão que o doce estragava o paladar da bebida e que, dali em diante, nunca mais tomaria café adoçado. A resolução durou o exato tempo em que alguém foi ao mercado e voltou com um quilo de açúcar. Até que tentei continuar tomando café amargo mas, em um dado momento, declinei e voltei a tomar a bebida contaminada com o gosto da cana. Apesar dos odores, dos aromas, da experiência fantástica de degustação pela qual passei, simple

UM TIJOLO POR DIA.

M e lembro bem do dia em que, ainda adolescente, resolvi abraçar uma religião. Tinha entre 13 e 14 anos, os cabelos davam nos ombros e não passava de um menino e spinhudo e com aquele aspecto típico de nerd . Aliás, o filme “A Vingança dos Nerds” bombava nos cinemas e eu e minha turma éramos a quase perfeita tradução baiana dos protagonistas daquela película. D a nossa turma, apenas eu e um amigo costumávamos proferir blasfêmias a respeito de Deus e da religião, com aquele ar rebelde e transgressor de quem fala baixo para desabafar sem agredir o vizinho. Não deu outra: Pouco tempo depois, lá estávamos sentados nas cadeiras de uma Igreja Batista, com uma Bíblia na mão e tentando  entender o  que estava se passando ali. Logo começamos a frequentar a escola dominical da instituição, nos preparando para sermos batizados e nos tornarmos membros da Igreja. E m um destes domingos, o preceptor foi bem claro: - “Quem ouve rock jamais irá para o reino dos céus”. E apontando para mim

O BEATLE TIM NO REINO DA JOVEM GUARDA.

A ntes de serem descobertos  pelo empresário Brian Epstein e contratados pela tradicional gravadora Parlophone , os Beatles não passavam de uma sofrível banda de guitarras.  Uma audição atenta e imparcial dos hoje famosos Decca Tapes , gravação pirata encontrada em qualquer programa de troca de arquivos de áudio, e somos obrigados a concordar com John Lennon: A única coisa que se salva daquela gravação é a entusiasmada interpretação de George Harrison para o standard “Sheik Of Araby”.  C erto que eram curiosas e criativas as “versões rock and roll” de coisas escritas décadas antes, mas aí é que estava o problema: O esquema “recriação de canção antiga no novo ritmo jovem” já havia mesmo se esgotado no Reino Unido. Nem a insólita versão de Besame Mucho , cantada por Paul, salvou a pátria. Os Beatles foram solenemente recusados pela Decca Records com a justificativa mais correta do mundo em 1962: A de que bandas como a deles estavam mesmo saindo de moda. O s Beatles que seriam contra

BEM VINDO AO PLANETA VIRGEM.

T odo virginiano que eu conheço é meio maluquinho, um tanto paranoico e muito, mas muito sistemático.  Ainda não conheci um sequer que fugisse a esta regra. Eu mesmo, sou um típico ser de virgem e a prova viva do que estou afirmando. Claro que sempre haverá algum virginiano enrustido, inconformado, que afirmará de pés juntos que não se enquadra neste perfil. Mas até nisto ele é virginiano: alguém deste signo que se preze jamais aceitará que lhe analisem  e imponham rótulos, que lhe encaixem em qualquer medida pré-determinada. C omo um bom agnóstico, não acredito nem desacredito em absolutamente nada cuja existência não possa ser comprovada ou não provada. Mas a influência dos astros sobre o comportamento humano, por mais absurdo que possa parecer, é confirmada  pelas semelhanças entre pessoas  que conheço – e não se conhecem – que, nascidas no mesmo mês astral, guardam enormes similaridades entre si. B em, o virginiano costuma conseguir feitos que a maioria das pessoas de outros