Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2015

O suicídio de Lemmy.

W endy O. Williams , a lendária vocalista do grupo punk Plasmatics , se suicidou aos 48 anos, com um tiro de rifle na cabeça, em um canto do próprio quintal onde mantinha uma espécie de bosque. Ao contrário do que poderia supor quem se deixasse levar pela sua imagem pública, Wendy era uma ativista animal, budista, abstêmia e vegetariana. Longe dos palcos, era apenas uma mulher como outra qualquer. Isto não a impediu de tirar a própria vida e ainda deixar como legado para a humanidade um dos mais frios bilhetes de suicídio que já se teve notícia. Em suas palavras de despedida, Wendy afirmava que, ainda que não fizesse apologia ao ato nem quisesse incentivar ninguém a fazer o mesmo que ela, acreditava que tirar a própria vida fazia era um direito seu e parte das suas liberdades individuais. E, Wendy, sem dúvida, quis exercer este direito. A relação de Wendy Williams com o músico Lemmy Kilmister , falecido nesta última segunda-feira, era bastante próxima enquanto ela esteve viva.

Deixem Júpiter Maçã morrer em paz!

N em bem o cadáver do cantor, compositor e guitarrista gaúcho Flávio Basso esfriou no túmulo e já apareceram as primeiras manifestações proto-feministas de repúdio às letras sexistas da fase inicial da banda que o projetou, os Cascavelletes . Curiosamente, tais letras estão aí, rodando pela internet desde que a internet existe, já que são anteriores à própria web, e nunca, enquanto Júpiter Maçã (o outro nome artístico de Basso) esteve vivo, ninguém quis questionar o conteúdo delas. Mas o ativismo oportunista já percebeu que se trata de uma excelente chance de, mais uma vez, causar polêmica oca, e se prepara para o linchamento moral de uma pessoa que não está mais aqui para se defender. A s letras machistas da fase inicial dos Cascavelletes sequer chegaram a ser gravadas oficialmente. Figuram em um tape que sempre rodou de forma pirata pelas mãos dos fãs. À época, Flávio Basso e Nei Van Sória , respectivamente vocalista e guitarrista da banda TNT, saíram do grupo porque os out

Um disco por ano de vida: "Band On The Run" - Wings (1973) - Parte II

A capa de Band On The Run faz uma citação, aparentemente involuntária, à outra capa memorável, a do próprio Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band , dos Beatles , com a presença de seis personalidades do mundo artístico em carne e osso, acompanhando a "banda em fuga", pega de surpresa por um holofote de prisão. Com certeza, há uma outra referência, desta vez aos recentes problemas de Paul McCartney com porte de drogas. Icônica e profética, a capa retrata uma banda que parecia mesmo estar se esguiando do sucesso e do reconhecimento, oferecendo ao mundo um produto improvável, mas absolutamente poderoso. O resultado foi um disco que, apesar da recepção inicial ter sido um tanto fria e lenta, aos poucos foi alcançando excelentes níveis de vendagem, a ponto de se tornar o maior sucesso comercial da carreira solo do artista até então e um de seus álbuns mais vendidos e aclamados de todos os tempos. M as os problemas continuariam após o o disco sair. Tendo lançado a canção

Um disco por ano de vida: "Band On The Run" - Wings (1973) - Parte I

N a contramão do que muitos pensam a respeito da união de John Lennon e Yoko Ono , o sentimento que reinava entre os dois, em minha opinião, não passava de  mera obsessão. Obsessão mesmo, patologicamente falando. Lennon e Yoko maquiaram muito bem seu relacionamento doentio, para consumo da mídia e até mesmo deles próprios. Havia ali uma relação evidente de dominação, onde o dominado, claro, era Lennon . Y oko Ono sugou quase todo o ímpeto criativo de Lennon como um canibal cozinha e come um prisioneiro. O resultado prático do encontro, ocorrido em 9 de novembro de 1966 pode ser sentido, na prática, já no álbum dos Beatles do ano seguinte, o incensado Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band , gestado e parido quase que exclusivamente por Paul McCartney , frente à visível omissão de Lennon, mais interessado em bed-ins pela paz mundial. O resultado da união de Lennon e Ono para a carreira do beatle se viu durante os anos seguintes: O fim da banda, os discos solos irregulare

Todo santo dia de natal.

T odo santo dia, ao acordar, eu peço a Deus, apenas três coisas: Conseguir entendê-Lo melhor,  amá-Lo mais ardentemente e segui-Lo mais fielmente. Sei que, uma vez alcançado  este aparentemente tão modesto objetivo, terei compreendido melhor as pessoas à minha volta, as terei amado com mais ardor e transformado as relações conflituosas em passividade pacífica. E tudo isto, há de ser feito diariamente. D ia após dia, quando acordo, eu não peço ao Senhor riquezas materiais, conquistas financeiras ou outras coisas do tipo. Aliás, antes mesmo de pedir, eu agradeço. Agradeço, porque um dia estive perdido, cansado e sozinho. Sumido em trevas de abandono, curvei os joelhos em prantos e Lhe pedi direção. Pedi que me tirasse daquela letargia em que estava vivendo e do sofrimento em que havia me afundado. E, sim, Ele me atendeu. F oi então que o Senhor me amparou, abraçou e secou todas as minhas lágrimas. Me disse que o caminho à frente não seria fácil de ser trilhado e perguntou-me se

Sonhos de um palhaço

O ntem, como se anunciasse a iminência da sua morte, as canções do músico gaúcho Júpiter Maçã tocaram repetidamente no aleatório do meu player de mp3. À tarde, o cantor faleceu, aos 47 anos. Oficialmente, a causa foi uma queda sofrida em casa, que resultou em ferimentos na cabeça. Oficiosamente, sua morte se deu por múltipla falência dos órgãos. Júpiter, já há algum tempo, lutava contra uma cirrose adquirida em decorrência do intenso abuso de álcool e drogas. J úpiter Maçã é o nome artístico adotado pelo cantor, compositor e guitarrista Flávio Basso em sua carreira solo, após se desligar de sua antiga banda, os Cascavelletes. Muita gente o associa a outro músico, o inglês Syd Barrett , primeiro guitarrista do Pink Floyd, que também encerrou a carreira prematuramente devido aos mesmos abusos dos quais foi vítima o brasileiro. E a associação, de fato, não é nada gratuita. Júpiter Maçã sempre zelou cuidadosamente por passar a impressão de ser uma espécie de versão nacional do

Deus prefere os ateus.

N ão sou ateu. Até já pensei que era, mas não, realmente, eu não sou. Isto não me faz melhor ou pior do que ninguém, mas eu realmente acredito em um Deus Criador. Bem que eu tentei ser ateu, mas a minha fé inexplicável em alguma coisa transcendental nunca me permitiu sê-lo. Também não sou um religioso, eu sou apenas um crente, ainda que tal palavra remeta a um significado que se tornou bastante negativo com o passar do tempo. Q uando falo aqui em ateu não falo daqueles ateus empedernidos, que vivem vociferando contra Deus, confundindo-o de propósito com o sistema religioso que O diz representar. Estes são até mais religiosos que os próprios religiosos, ansiosos de que convencerem os outros, e a si mesmo, de que um Deus não existe. Quando menciono os ateus a quem o Divino prefere, eu me refiro àquele tipo de pessoa que não se importa muito se Deus existe ou não, mas, geralmente, são gentis, solícitos, generosos, éticos e muito mais honestos que muitos religiosos. E u bem que tent

Filmoteca Básica: "O Milagre de Anne Sullivan" (1962)

Por Oqueane Jessant e Renato Jorge Araujo P ara falar do filme "O milagre de Anne Sullivan" ("The Miracle Worker", 1979, EUA) é preciso antes citar um outro filme, "Tommy",  a ópera-rock dirigida por Ken Russel , inspirada em um disco homônimo da banda inglesa The Who .  Produzido dez anos antes, em 1969, Tommy conta a história de Tommy Walker , um menino que se torna cego, surdo e, consequentemente, mudo,  após presenciar o assassinato do próprio pai. O garoto se cura jogando Pinball , uma espécie de fliperama, avô dos games atuais. N o musical, a fantasia faz  com que o garoto Tommy se torne cego, surdo e mudo e reverta sua condição plenamente. No filme de 1979, uma história real, a garota Hellen Keller se transforma em adulta superando as suas enormes limitações, graças ao auxílio de uma preceptora que a acompanhará pelo resto da vida.  N o filme “O Milagre de Anne Sullivan”, uma história baseada em fatos reais, a garota Hellen Keller, c

Um disco por ano de vida: "Can't Buy a Thrill" - Steely Dan (1972)

O ficialmente, o primeiro disco dos anos 80 é Permanent Waves , do Rush, lançado estrategicamente em 01 de janeiro de 1980. No "mercado paralelo", o primeiro lançamento da nova década ocorreu ainda em novembro de 1972, quando Can't Buy a Thrill ,  o sensacional disco de estréia do duo californiano Steely Dan chegou às lojas. Quando "Do it again", uma canção esquisita, de longa introdução e levada latina, tocou no rádio pela primeira vez, os anos 80 estavam oficialmente inaugurados, ainda que levassem mais de oito anos para chegar de verdade. E squisito é um adjetivo sempre usado para definir este disco, mas há uma grande dose de injustiça nisto.  Aliás, a própria banda já recebeu o adjetivo algumas vezes. Porém, dentro da esquisitice da discografia do Steely Dan , este é um álbum particularmente esquisito, justamente por ser bastante convencional. É completamente diferente de qualquer coisa que a dupla viria a gravar nos anos seguintes, e, ainda assim, é