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Mostrando postagens de março, 2015

A BANDA DE ROCK QUE OUSOU PEITAR FIDEL.

T alvez você nunca tenha ouvido falar na banda de rock cubana Porno Para Ricardo . E se não ouviu falar, é sinal de que o regime castrista, mais uma vez, conseguiu limpar a sujeira para baixo do tapete. Não exatamente para baixo do tapete, é verdade, e sim, para dentro do presídio conhecido como “5 quilos e meio”, uma das prisões onde “El comandante” trancafia quem ousa se opor a ele e a sua “revolución”. A lias, “El comandante” é o título de uma das canções mais conhecidas da Porno Para Ricardo, onde seu vocalista Gorki Áquila vomita impropérios contra aquele barbudo com um charuto na boca. No clip, disponível no You Tube, feito de forma precária, não é bem um charuto que Fidel leva à boca. Em uma outra canção, eles ensinam “como foder a um comunista”. Não deu outra e Áquila, o cantor e autor de tamanho insulto, já passou duas temporadas na cadeia por representar “perigo social” para o governo cubano. É bom saber que, pelo menos em Cuba, o rock ainda não está dom

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - AC-DC, BANANARAMA E ELTON JOHN.

'74 JAILBREAK - AC/DC (1980) -  As confusões e diferenças na discografia australiana do AC/DC e a dos discos lançados nos Estados Unidos e, consequentemente, no resto do mundo, só se comparam à dos Beatles no início da carreira. A lambança fez com que os três primeiros discos originais da banda virassem dois na terra de Tio Sam. O gênio que compilou os discos deixou cinco dos melhores rocks do grupo de fora dos álbuns e um pirateiro, sempre eles, não perdeu tempo e lançou nos EUA o primeiro (e único, acredito eu) EP pirata da história, o disco '74  Jailbreak . N a real, as músicas foram excluídas por, segundo Ted Jensen, que remasterizou os discos australianos do AC/DC, "não apresentarem condições técnicas suficientes". Pode até ser que Jensen tenha razão. Mas, como deixar Jailbreak, a música, de fora? E a alucinante cover de " Baby, Please Don't Go" , do Them? '74 Jailbreak vai para a galeria de discos que os piratas descobriram p

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - ADAM & THE ANTS / THE ADVERTS

PRINCE CHARMING - Adam & The Ants (1983) -  Desde que contratou o Adam & The Ants, ainda em 1976, a gravadora Epic vinha estudando uma maneira adequada de vender o que ela julgava ser um excelente produto: a imagem pública do vocalista Adam Ant . Talvez o fracasso no mercado norte-americano se deva justamente ao fato da Epic ter se esquecido que o principal ingrediente era o que estava gravado na bolacha preta, não importa quão exótico os integrantes do grupo se vestissem ou parecessem. C omo diz na própria capa do disco, Prince Charming ("príncipe encantado" e não "charme de príncipe", como traduziu, à época, uma certa revista de circulação nacional) é o terceiro (e último, pelo menos com o nome de Adam & The Ants) disco da banda. Após um hermético álbum de estreia e um barulhento segundo trabalho, foi pedido (leia-se imposto) ao grupo que "amaciasse" o som, deixando-o mais radiofônico e palatável para as massas. M as

DISCOS DE VINIL E ESCOVAS DE DENTES USADAS.

U ma escova de dentes é um objeto verdadeiramente pessoal e intransferível. Certos itens de uma coleção de discos também. Da mesma forma que não há ninguém maluco o suficiente para compartilhar uma escova (ou há?), quem coleciona discos sempre terá algumas ‘escovas usadas” entre seus títulos. O colecionador passa anos garimpando item a item, comemorando cada título raro adquirido, sonhando que seus filhos herdarão e cuidarão da sua pequena ou grande coletânea, mas, no fim, sua coleção não passa de um amontoado de escovas de dentes usadas. C laro que não estou falando das coleções de discos que ultrapassam o senso estético e descambam para a comercialidade pura e simples. Há coleções e coleções. Não falo aqui dos ajuntamentos em que os colecionadores adquirem itens raros, discos fora-de-catalogo ou edições limitadas. Me refiro aos colecionadores verdadeiramente apaixonados, que amontoam nas prateleiras apenas o que gostam. Estes sim, colecionam algumas escovas de de

MUZAK - UMA LOJA DE DISCOS EM ALTA INFIDELIDADE - PARTE II DE II.

A lgumas pessoas que eu conheço hoje se lembram muito bem de mim os atendendo na Muzak mas eu, sinceramente, não me lembro delas indo lá. Afinal, eram muitos clientes e alguns entravam mudos e saiam calados, o que dificultava a memorização. Os atendentes da loja conheciam um pouco do que estavam vendendo e tinham aquela arrogância típica dos vendedores especializados, então, não era raro que, volta e meia, algum cliente fosse vítima da mais dissimulada trollagem ou zoação , como se diz hoje. N as horas vagas, éramos especialista em colocar apelidos em alguns clientes. Alguns exemplos: Um deles, costumava ir à loja maquiado como aqueles músicos de death metal. Não deu outra, passou a ser conhecido como “King Diamond”. Havia uma dupla de clientes que só iam à loja juntos. Um era todo entusiasmado, falador, sorridente, enquanto  o outro, mais calado, parecia estar sempre meio triste e emburrado. Ganharam o apelido de “Lippy & Hardy”, em referência à hiena e o leão dos quad

MUZAK - UMA LOJA DE DISCOS EM ALTA INFIDELIDADE - PARTE I DE II.

A minha vocação para o comércio veio dos tempos da pré-puberdade. Um certo dia encontrei pela rua uma caixa de madeira que embalaria uma peça muito grande, provavelmente um motor de caminhão. Levei para casa, fiz algumas adaptações e transformei em uma banca de doces. Montei o meu pequeno negócio na garagem de casa e, para desespero de minha mãe, a coisa só fazia progredir. C hegava da escola, tomava um banho, almoçava, assistia o Agente 86 na TV e, em seguida, abria a minha banca, indo até 8 da noite. Vendia doces, revistas usadas, jornais do dia e muitos etcéteras. Levava também um pequeno estoque, na pasta, para a escola, vendendo doces para os colegas por preços mais baratos que os da cantina. Um belo dia, minha mãe, vendo que meu ímpeto comercial não iria arrefecer, me fez uma proposta literalmente irrecusável: Compraria o meu estoque pelo dobro do preço, mas eu teria que abdicar do meu pequeno comércio. E deixou bem claro: Era isto ou isto mesmo. Se eu não desistisse po

NA BARBEARIA MUSICAL.

PELICAN WEST - Haircut 100 (1982) -  M inha história com este disco é bem curiosa. Quando eu tinha quinze anos (e todo mundo já teve quinze anos e, se não teve, ainda terá) posava perante um amigo o qual havia "catequizado" para o rock, de profundo conhecedor do assunto. Assim sendo, e como se isto fosse verdadeiramente possível, mesmo naquela época, eu me passava, como belo falsário, de "expert" em rock and roll. Era só dizer a banda. Claro que eu já conhecia. Foi assim que eu me dei mal, e justo com o grupo inglês Haircut 100. U m belo dia, visitando como de costume as "igrejas" da cidade (leia-se lojas de discos), eis que me deparo com este disco de bela capa, apesar de povoado por marmanjos. Dei uma boa olhada na arte e, vivendo em 1982, você não apostaria que esta banda faria um som bem "new wave"? Atentem para o look "niueive" do (depois eu saberia) lendário baixista Les Nemes, com direito a gravatinha amarela e

O CABO DE GUERRA DO BEATLE PAUL

TUG OF WAR - Paul McCartney (1982) -  Era muito comum nos anos 70 que os fãs idolatrassem merecidamente os Beatles enquanto Paul McCartney - o responsável por pelo menos 50% do sucesso e da qualidade do quarteto inglês - era tratado como uma figura menor, sem tanto talento, em detrimento de Lennon, aquele que seria "a verdadeira alma dos quatro de Liverpool". Nem tanto ao céu nem tanto à terra. E eu nem quero saber quem seria o que. Se os Beatles sem Lennon nunca teriam aquele charme rebelde de canções como Revolution, sem McCartney ficariam sem a beleza de canções como For No One e Here, There And Anywhere, além de desperdiçar experimentações pop como a "negra" Eleagnor Rigby. E isso só para ficar em um único álbum, no caso o Revolver , de 1966, que é considerado um disco mais de Lennon e Harrison do que de McCartney. J ohn Lennon lançou pelo menos um álbum solo "clássico", Imagine , de 1971. Até o simpático e leve Double Fantasy , de 19

AUTOMAT - AUTOMAT (1978)

Automat - Automat (1978) -  Sabe aquela velha história da música que só fez sucesso no Brasil e é praticamente ignorada no país de origem e no resto do mundo?  Talvez o melhor exemplo seja a canção "Droid" do grupo italiano Automat. Canção é maneira de falar. "Droid" é um tema eletrônico que, por capricho de algum sonoplasta da Globo, conseguiu o feito de ser o tema de abertura de dois jornais da emissora.  O sucesso foi tanto que foi lançado um compacto com a música, algo que não chegou a acontecer sequer na Itália. O mais curioso é que Automat, o álbum, foi planejado apenas como um disco de teste. Músicos de um grupo pop experimentalista chamado Botegga D'el Arte inventaram um sintetizador e o batizaram de MCS70 .   P ara servir como disco de demonstração das possibilidades do equipamento, criaram uma espécie de peça sinfônico-eletrônica em quatro "movimentos". O equipamento não fez o sucesso esperado e o disco muito menos. Até

TOLO DE AMOR.

T olo. Muito tolo mesmo você que sofre por sentir amor por quem não dá a mínima para você. Que tipo de ser humano você pensa que é? Por onde anda o seu amor próprio? Por acaso você se acha mesmo tão miserável e desprezível a ponto de ter que mendigar o amor e outra pessoa? S im, eu sei muito bem o que é amar uma outra pessoa. Sei também o que é sofrer por amar quem não nos quer. Sei o que é ter que se desconectar dela após meses, anos, décadas de convivência. Mas, e daí? Você vai mesmo alimentar o seu sofrimento por alguém que agora pode muito bem estar se divertindo com outra pessoa enquanto você chora? E m primeiro lugar, vá lavar esse rosto de choro. Você está realmente com um péssimo aspecto. Lavou? Muito bem. Agora, vamos avaliar algumas questões sobre este seu relacionamento: Você mereceu ser abandonado? Suponhamos que sim. Então, é hora de se reavaliar a sério. Senão, logo você vai encarar uma nova relação com a velha cabeça que detonou seu relacionamento an

EPITÁFIO.

         Q uero ver o sol se pôr todos os dias até o último pôr do sol da minha vida. Todos os dias fazer minha caminhada vespertina, sair de casa ainda com o dia claro e a mornidão do sol de fim de tarde batendo no meu rosto. Retornar para casa já com a noite caindo e a brisa do vento noturno refrescando meus pensamentos. Quero que me acompanhe o meu velho telefone, com munição de mais de mil canções para compor a trilha sonora da hora mais agradável do meu dia. Andar só, cantar junto, refletir, ponderar, me acalmar. Voltar para casa como se tivesse feito uma hora de análise. E de graça.           A menos de 18 meses de completar 50 primaveras resolvi ajustar algumas coisas na minha vida. Tenho tentado descomplicar ao máximo possível as minhas relações pessoais. Perceber melhor as fraquezas e vicissitudes dos que andam ao meu lado, não para atingi-los e sim, para ampará-los. Tenho me aventurado a entender os amigos que se afastaram e, ainda assim, continuar a amá-los,

COMO É BOM SERGUEI

O k, façam aquela velha piada com o nome de Serguei . Pronto, fizeram? Agora podem a continuar a ler.  Sérgio Augusto Bustamante é um senhor de mais de 80 anos de idade e uma figura ímpar na história da música brasileira. Não existiu nem existirá ninguém igual a ele no rock brazuca . Aos desavisados que ainda não perceberam, estou falando dele, o homem que copula com árvores, exilado em Saquarema , no litoral norte do estado do Rio, onde recentemente se candidatou a vereador e teve parcos nove votos. Ficou muito feliz porque nove "é um número cabalístico". Mas os fãs do artista são muito mais numerosos e poderiam ser ainda mais, caso a "obra" do ex-ficante de Janis Joplin e Jim Morrison pudesse ser mais conhecida entre aqueles que são seu público-alvo. P ara quem ainda não sacou, estou falando dele mesmo, de  Serguei , a lenda-montada do rock brasilis e eterno maldito da MPB. E para quem nunca ouviu o artista, ou quer ter um resumo muito decente

A VIDA É BOA

H oje, quando um grupo atual tem um disco lançado no Brasil, graças às facilidades da Internet, já estamos cansados de conhecê-lo.  Um exemplo é o grupo holandês Travoltas . Tem até clipe rodando na tv, mas disco que é bom, nem sinal. Mas, pensando bem, pra quê? Os discos da banda estão tão ao alcance de nossos dedos... Mas em 1988 não era bem assim. Graças à então recém lançada revista Bizz e à veterana  Roll, ainda podíamos acompanhar a trajetória de algumas bandas em tempo quase real. A internet daquele tempo eram as publicações importadas, mas não havia dinheiro nem fluência em inglês o suficiente para a maioria dos fãs.            . E ntão, muitas vezes,  comprávamos os discos muito mais pela capa, tendo a surpresa absoluta de encontrá-lo na prateleira da loja exposto como a última novidade. Foi assim que eu tomei conhecimento da existência de bandas como Love & Rockets e os Modern Lovers de Jonathan Richman . E foi assim que eu adquiri um dos melhores dis

SOBRE SHOWS DE ABERTURA E BANDAS PRINCIPAIS.

N ão tenho mesmo muita paciência para shows ao vivo. Na época em que eu tocava e me apresentava com bandas só não faltava aos meus próprios shows por pura impossibilidade técnica. Um primeiro grande problema, enquanto telespectador, é o desconforto. Passar mais de quarenta minutos em pé olhando para cima – ou para nucas, quando o palco é a nível do chão - não é exatamente o meu ideal de diversão. Há ainda a interação não consentida com os outros espectadores, porque, além de estar em pé, você vai estar em contato direto com gente bêbada, inconveniente, chata e, algumas vezes, violenta. P ela mesma razão, detesto ir ao cinema. Ver um filme é uma experiência para ser compartilhada, no máximo, com a família ou amigos muito queridos. Não em um local onde haverá pessoas falando, rindo, celulares ligados, pessoas falando em celulares ligados, conversas paralelas, mastigares de comida e tudo aquilo de que os fãs das salas de cinema costumam reclamar. M as o que falta mesmo em

CANÇÃO DO ENGATE PARTE II - A HISTÓRIA DE ANTÓNIO VARIAÇÕES.

M esmo para quem não é familiarizado com a música portuguesa, é difícil passar despercebido pela pequena pérola que é “Canção do Engate”, provavelmente a música mais conhecida do cantor e compositor lusitano António Variações : “Vem que amor Não é o tempo Nem é o tempo Que o faz Vem que amor É o momento Em que eu me dou Em que te dás...” A letra, uma ode ao amor imediato, intenso, se aproxima muito do que se poderia chamar de um poema. A harmonia e o arranjo nos remete imediatamente a uma banda que, em 1984, ano do lançamento de “Canção do Engate”, ainda estava mal saída de algum berçário garagista de Manchester, os Smiths . Q uando “Canção do Engate” chegou às rádios portuguesas, seu interprete já se encontrava gravemente doente em um hospital de Coimbra , vítima de broncopneumonia, provavelmente causada pela AIDS. António Variações , que era homossexual assumido, seria o primeiro artista português a morrer acometido pela síndrome. P orém, o artista, ao mesmo temp

CANÇÃO DO ENGATE - FLERTANDO COM O ROCK PORTUGUÊS - PARTE I

O Brasil desconhece homericamente a cultura de Portugal. É realmente uma pena, porque Portugal conhece muito bem o Brasil. E nesta falta de reciprocidade cultural, quem perde somos nós, porque o bojo cultural português é muito mais robusto que o nosso. Principalmente na música, o nosso ponto fraco e forte, Portugal teria muito a nos acrescentar. Não que Portugal também não tenha a sua música de “baixo (es)calão”. Tem sim, e é tão ruim ou até pior que a nossa. H á quem, no Brasil, reclame do sotaque português. Bobagem. O Brasil é uma plêiade de sotaques distintos, que vão das vogais acentuadas nordestinas aos erres reverberantes do gaúcho. É estranho que um país tão habituado à pluralidade linguística de seu próprio território venha alegar justamente o estranhamento a um sotaque para evitar um determinado tipo de contato com a cultura de outro povo.   Xutos e Pontapés T ambém há quem reclame, desta vez até com uma certa razão, das dificuldades de entender o que um portu

MORRISSEY E A BALA QUE MATOU KENNEDY.

S ó mesmo um fã muito radical dos The Smiths não concorda que a banda rendia muito mais em estúdio do que ao vivo. A prova 'viva' é justamente o único disco gravado "em directo" oficial da banda, que deixa escapar a sua enorme fragilidade em apresentações para o público. Talvez foi pensando neste detalhe que, ao seguir carreira solo, o vocalista Morrissey procurou obstinadamente uma banda que tivesse punch suficiente para apresentações ao vivo. Ele só iria encontrar a formação ideal ao assistir uma apresentação da banda revivalista de rockabilly The Polecats . O grupo havia sofrido uma debandada geral, restando apenas o guitarrista Boz Boorer, que estava remontando-a com outro guitarrista, Alan Whyte e novos integrantes, mas sem o mesmo entusiasmo de antes. F oi quando Moz os "descobriu" e propôs que eles se tornassem sua banda de apoio, no que prontamente aceitaram. Isto foi em 1992 e o resultado desta inusitada parceria, é que o grupo co