Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2016

O pregador e a autoridade.

R ecentemente, começou a circular um vídeo na internet onde um pregador evangélico é proibido de continuar pregando, aos gritos, em uma estação rodoferroviária do metrô de Salvador. Transtornado e visivelmente alterado, o religioso insistia que todos ali deveriam ser evangelizados, ainda que forçadamente e que só deixaria aquele local preso. Foto: Aratu Notícias N ada mais contrário à própria doutrina da religião que ele afirma seguir. Ainda que, em Marcos 16:16 haja o mandamento de "ir e pregar o evangelho ao mundo todo", em Mateus 10:10 há a ressalva de que "se alguém não vos receber, nem der ouvidos às vossas palavras, assim que sairdes daquela casa ou cidade, sacudi a poeira dos vossos pés." . Ainda, em Romanos 13:1-2 , a afirmação é clara : " Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus". Q uando disse que, dali, só sairia preso, o religioso desobedeceu claramente o que lhe

Um disco por ano de vida: "Ramones" - Ramones (1976) - Parte II

Q uem quiser mesmo ter uma "experiência acústica", que vá ouvir o "Dark Side Of The Moon" do Pink Floyd . No disco de estreia dos Ramones , só há espaço para o barulho, a provocação e a velocidade. São faixas curtíssimas, praticamente emendadas umas às outras, todas muito rápidas e sem firulas.  N ão há espaço aqui para floreios de baixo ou solos de guitarra. O álbum chegou a estar entre os 120 discos mais vendidos no mês de lançamento e só. Dali em diante, Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy  inciariam uma "conquista da América" que nunca acabou acontecendo de verdade. Mas inventaram, para sempre, o tal do punk rock. O lado A começa com a clássica "Blitzkrieg Bop", que lançou o famoso grito de guerra "Hey! Ho! Let's Go!".  Dois minutos e quatorze segundos depois é a vez de "Beat On The Brat", um pouquinho de nada mais longa e igualmente acelerada. "Judy Is a Punk" tem apenas 1:32 de duração e mantém o pique

Um disco por ano de vida: "Ramones" - Ramones (1976) - Parte I

A primeira vez em que eu ouvi falar dos Ramones foi em uma resenha da revista Veja para o disco End Of The Century , que havia acabado de ser lançado no Brasil. A revista comemorava o primeiro lançamento nacional da banda e os rotulava como "punks de histórias em quadrinhos", rasgando-se em elogios. Eu fiquei fascinado, do "baixo" dos meus 13 anos, e louco para ouvir aquilo. Não havia You Tube, Soulseek ou facebook e eu tive que esperar mais um pouco. F oi no Rock Special , o lendário programa de Marcelo Nova na Aratu FM , que eu, finalmente, pude, também, ouvir os Ramones . Nova tocou Chinese Rocks, Let´s Go e Do You Remember Rock And Roll Radio , exatamente nesta ordem. Em uma das minhas viagens a Salvador , passeando pela Barra , me deparei com o disco exposto em uma pequena loja. Voltei em casa, infernizei minha mãe para me dar o dinheiro e, finalmente, eu tinha um disco dos Ramones para chamar de meu. N a casa de um amigo, ouvi o P

Evangelho ou proselitismo.

U ma busca pela Wikipedia e encontramos a seguinte definição sobre o que é proselitismo: "O proselitismo é o intento, zelo, diligência, empenho ativista de converter uma ou várias pessoas a uma determinada causa, ideia ou religião". Buscando por evangelização, encontramos: "Evangelismo ou Evangelização é a pregação do Evangelho Cristão e, por extensão, qualquer forma de pregação e proselitismo, com fins de adquirir adeptos, produzir conversão ou mudanças de hábitos, crenças e valores". Percebe-se uma clara confusão entre os dois conceitos: Evangelizar e fazer prosélitos, como se fossem sinônimos. Não são. A inda na Wikipédia, encontramos uma outra definição para evangelizar: "É fazer a Palavra de Deus chegar ao conhecimento do povo". Mas para fazer a Palavra de Deus chegar ao conhecimento do povo é preciso mesmo converter alguém a alguma religião? Afinal, a qual religião Jesus convertia as pessoas em suas pregações sobre o Pai? Quem acredita na Bíb

Mudança de comportamento - As bandas que mudaram de estilo - Parte II

I maginem um grupo de música negra, de funk e famoso, como por exemplo, o  Kool & The Gang,   que resolve mudar a direção musical  sei lá, para a bossa-nova ou para o reggae. Ou um grupo de reggae se transmutando, quem sabe,  em uma banda de funk. Pois é, é quase impossível que algo assim aconteça. A não ser que a banda em questão seja uma banda de rock.  Aí, tudo é possível e só o céu é o limite para tanta indecisão. Sou  gótico  ou sou  headbanger ? Punk ou  bossa-novista ? Sou  new-waver  ou  salseiro de quinta ? É sobre as mudanças "inacreditáveis" que algumas de nossas mais prestigiosas bandas já passaram , que vamos tratar aqui. HOT SPACE - Queen (1982) - O Queen era a banda mais previsível do mundo em seus primeiros discos. Em um certo momento, resolveu misturar seu hard rock semi-progressivo com ópera até que no alvorecer da década de 80, lançou o primoroso e pop The Game , com funk ( Another One Bites The Dust , com uma levada clássica de baixo que inspi

Dos arquivos empoeirados: Starz, a banda que fundiu o metal ao powerpop.

H á alguma coisa de muito estranha na água do estado norte-americano de New Jersey , vizinho à cidade de Nova Iorque, que faz com que as bandas de lá, por mais pop que eventualmente queiram parecer, sempre descambam, de alguma forma, para o metal. Skid Row, Bon Jovi, Overkill. Trixter, Monster Magnet e muitas outras surgiram naquele que é o estado mais urbanizado dos Estados Unidos. E m 1972, New Jersey dava ao país um hit single que chegou facilmente ao primeiro lugar das paradas. Quem ligasse a TV sem volume e se deparasse com aqueles cinco cabeludos, jamais poderia imaginar que o que estava saindo dos altos falantes era uma melodiosa canção pop. A banda era o Looking Glass e o tal hit era a canção "Brandy (You're a Fine Girl"). A faixa, apesar do sucesso local, não valia mesmo muita coisa e a banda, que valia ainda menos, acabou com a saída do vocalista Elliot Lurie. O s três membros restantes, Larry Gonsky, Pieter Sweval e Joe X recrutaram o vocalista

A melhor pizzaria nem sempre faz a melhor pizza.

S ábado passado, saímos para comemorar o aniversário de minha filha, completados no dia anterior. O fizemos de maneira modesta, como convém à população de um país em profunda crise. De qualquer forma, resolvemos que iríamos comemorar na melhor - e, consequentemente, mais cara - pizzaria da cidade. Ao chegarmos no local, que se encontrava lotado apesar das adversidades econômicas, fomos recebidos por uma espécie de "maitre", colocado à frente de uma enorme porta de madeira ao lado de um tapete estendido na calçada. M e surpreendi com o tamanho gigantesco do lugar, dividido em duas alas, ambas climatizadas e muito, mas muito luxuosas. Minha esposa costuma frequentar o lugar nas comemorações de fim de ano da empresa em que trabalha e já havia me falado que ali se servia "a melhor pizza da cidade".  S omos clientes fiéis de uma humilde cantina a poucos metros de nossa casa. Lá, não há luxos, mas a pizza sai rápido e está sempre saborosa e quente. O atendimento t

Acabou o carnaval.

F eliz ano novo a todos! Agora sim, quando passa o carnaval, finalmente, podemos nos felicitar pra valer e o ano, afinal, começará de verdade. Sim, porque, no Brasil, o calendário anual tem apenas 10 meses e termina pouco antes do natal só recomeçando quando o carnaval acaba. Minto. Só reinicia mesmo na primeira segunda-feira após o fim da festa da carne. D urante os cerca de 50 dias que separam as vésperas do natal da primeira segunda-feira após a quarta de cinzas, vivemos em uma espécie de limbo. Aliás, um falso limbo, onde o país literalmente para para descansar. É o maior feriadão da história da humanidade e não me recordo, ou não tenho conhecimento, de que algo parecido aconteça em outro país senão o nosso. O preço deste descanso exagerado pagamos com subdesenvolvimento, com péssimo gerenciamento de nossos impostos, com o nosso país não sendo levado a sério por ninguém no resto do mundo. Mas, o que importa? Importa mesmo é que relaxamos durante 50 dias seguidos. E, mui

Um disco por ano de vida: "History: America's Greatest Hits" - America (1975) - Parte II

N o Brasil, a banda foi imediatamente adotada por fãs de  Sá, Rodrix e Guarabira  e do "rock rural". "A Horse With No Name", originalmente de 1971, entrou em trilha de novela e se tornou uma das internacionais mais tocadas de 1976. Anos depois, ainda presente no imaginário brasileiro, voltaria a aparecer em uma novela, curiosamente chamada "América". A dquiri a minha cópia de "History" ao final dos anos 80. Para variar, em um saldo e, para variar, também, às cegas, sem ter a mínima ideia do que estava levando para casa. Hoje é um dos 800 discos que eu levaria para uma ilha deserta. O  lado A começa com a já citada "A Horse With No Name", uma canção épica, digna de abrir um disco como este. "I Need You" é uma balada açucarada cheia de sutilezas nos arranjos, cuja estrutura lembra a de um rio que navega calmamente até desaguar na cachoeira de um refrão. "Sandman" flerta com o rock progressivo, enquanto "

Um disco por ano de vida: "History: America's Greatest Hits" - America (1975) - Parte I - "As boas coletâneas de 75".

1 975 não representou exatamente um grande momento para o rock. Naquele ano, praticamente todos os grandes artistas lançaram álbuns menores de sua  discografia: Led Zeppelin com seu álbum duplo recheado de sobras, o Pshycal Graffiti; o Deep Purple com Come Taste The Band , John Lennon com Rock And Roll e David Bowie com Young Americans . Também foi o ano em que Lou Reed descansou e lançou um disco ao vivo e o curioso "Metal Machine Music", um álbum duplo contendo apenas camadas e camadas de microfonia. M as 75 também não foi, de forma alguma, um "ano perdido". Foi neste ano que o Aerosmith lançou seu terceiro álbum, "Toys In The Attic", que catapultaria a banda definitivamente ao estrelato, e Bruce Springsteen e Patti Smith estreariam, respectivamente, com "Born To Run" e "Horses". Também foi um ano de coletâneas caprichadas, que o tempo se encarregaria de tornar clássicas, quase tão importantes quanto os discos de carr

Os caprichosos da folia.

E ste ano a escola de samba carioca Caprichosos de Pilares teve como tema de seu enredo, "todos os grin gos do samba", representado s pel o jogador de futebol sérvio Petkovic. A escolha do tema é reveladora: Se antes exportávamos jogadores para o mundo, hoje mais os acolhemos.  Pet , como é carinhosamente chamado pelos seus admiradores, também fez uma declaração curiosa a respeito da homenagem que recebeu. Se disse encantado com a escolha de seu nome e afirmou estar perfeitamente adaptado ao país, porque, assim como os sérvios, "o brasileiro também não gosta de trabalhar". A afirmação do jogador também é reveladora. O desfile da Caprichosos de Pilares foi considerado pelos especialis tas um completo desastre. Sem dinheiro, a escola entregou fantasias incompletas, carros alegóricos inacabados, deu calote nos funcionários encarregados de puxar os veículos e ultrapassou em 4 minutos o prazo máximo para passar pela Marques de Sapucaí. A escola de samba, a

Dos discos improváveis: Grupo Gera - "Gera Samba" (1994)

C orria a segunda metade dos anos 80 e um grupo de amigos se reunia nas tardes de domingo no bairro praiano da Ribeira para batucar nas mesas e cantarolar cançonetas repetitivas de "samba duro" que aprenderam com seus pais. O samba duro está para o samba de roda assim como o hard rock está para o rock . D e dois, três amigos, o grupo foi crescendo e logo chegaram outras pessoas com instrumentos de corda. Alguém resolveu gravar aquele caos sonoro o mais próximo da forma como acontecia nas tardes do ensolarado bairro da periferia da Salvador. E assim era lançado, de forma totalmente independente, o primeiro disco do Grupo Gera, que ficou restrito aos frequentadores daquela domingueira .  Com a gravação de um segundo e mais produzido lp, que trouxe o hit local "A  cordinha", o Gera entrou na mira das grandes gravadoras. F oi com a gravação de "Gera Samba", terceiro lp, de 1994, que a saga da banda de Beto Jamaica e Compadre Washington se tornou p