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Mostrando postagens de janeiro, 2021

AMOR NO SUPERMERCADO

Há quem acredite que o único  amor possível  é aquele que é sempre idealizado e que apenas  enxerga as virtudes e jamais vê os defeitos da pessoa amada. Que o único amor que vale a pena é o amor envenenado pelo beijo do príncipe redentor ou da princesinha desacordada no bosque . Nem sempre esta idealização é meramente platônica  e muitas vezes acaba avançando  pelo campo da atração física. Assim, o ser amado é também o herói ou a heroína sexual, capaz tanto de levar o amante ao máximo do prazer assim como enchê-lo de mimos e carinhos eternamente.  E tudo isto, diga-se de passagem, é culpa da arte, mais especificamente, em nosso tempo, da música popular e suas letras sonhadoras, cheias de devaneios e  completamente inverossímeis. No ideário da canção moderna, ou você está vivendo um grande amor, ou quer viver, ou já foi abandonado e quer voltar. Quase nenhum compositor canta as delícias da rotina, da repetição  e da banalidade. Até  porque não existe nada de delicioso em tudo isto. Mas

CARINHO E CONFORTO

Outro dia eu me dei conta de que não guardo um amplo registro fotográfico da minha vida em um rechonchudo álbum de fotografias para chamar de meu. Uma referência visual onde os que sobreviverem a mim pinçarão fotografias para serem expostas em meu funeral. As tais garantias que, sim, eu era uma boa pessoa e tive uma vida feliz.  Eu nunca tive, de fato, nem a vida assim tão feliz nem as tais fotografias que marcariam os grandes momentos da minha vida. Talvez eu estivesse tão ocupado vivendo os bons e os maus momentos que, simplesmente, esquecia de registrá-los.   Havia também a questão da infância pobre,  quando ainda não existiam máquinas portáteis ou eram caras demais,  onde tirar uma foto era um acontecimento tão raro que merecia fotógrafo profissional,  roupa nova e perfume no corpo. Mais tarde, com a popularização das maquininhas, fotos não foram um costume em minha casa e também, continuava a não  haver dinheiro para tais luxos. Assim, apareço muitas vezes borrado nas fotos tirada

ROSTOS E RODOVIÁRIAS.

Decerto que o grupo baiano de rock Camisa de Vênus não é nenhum exemplo de banda dada a divagações romântico-filosóficas mas há uma canção do grupo - canção esta que sequer gosto - que me chama a atenção pelo título "Rostos e Aeroportos". Não só ela, há a brilhante canção da banda inglesa The Motors chamada "Airport" (que, não contem para ninguém, guarda uma suspeita semelhança com a da banda baiana) e até um tema erótico-romântico da série de filmes Airport chamado "Airpot Love Theme", cheio de gemidos e sussurros. E se fuçar direitinho, encontraremos outras canções de amor cujo enredo se passa em  aeroportos. Mas o fato é que aeroportos são românticos na música como as estações de trem são românticas nas fotografias. Porém, as marcas de amor mais profundas sempre são deixadas no chão empoeirado e descuidado das rodoviárias. E rodoviárias, de fato, não são charmosas. Mas o amor desesperado, o sofrer pela distância futura ou separação inevitável o é? En