O disco abre com um protótipo de hard rock, a faixa título, que desemboca
na melhor canção já cantada pelo baterista Ringo Starr, nos Beatles, mas que
ficaria eternizada mesmo na voz de Joe Cocker. Uma pena pois a versão de Ringo
é impecável e uma das melhores canções já escritas pela banda. Na sequencia, a lisérgica
Lucy in The Sky With Diamonds”, cujas iniciais, LSD, causaram enormes debates à
época. Apesar de Paul insistir que se tratava de uma música sobre uma menina
que desenhava diamantes no céu, ninguém acreditou.
Getting
Better, pode-se
dizer, foi a música que, efetivamente inaugurou o power pop, após as experimentações de Revolver, um ano antes. É a típica
canção de Paul McCartney, com vocalizações pontuando aqui e ali e os refrões
assobiáveis e para frente que marcaram a sua
obra durante todos estes anos.
Até o espírito conformista, tão criticado na new wave dez anos depois, já
estava ali. Paul afirma na canção que tudo estava ficando cada vez melhor. O
passar dos anos mostraria que não, infelizmente, não estava.
Talvez por isto mesmo a música seguinte
se chamava exatamente “tapando um buraco” (Fixing
a hole). A esta altura, o disco já chegava quase ao fim do lado A – isto, claro, em um
tempo em que os discos tinham lado A e lado B – e nada de nenhuma participação
do companheiro Lennon. O disco se encerra com “She’s Leaving Home”, outra das
mais bonitas canções de McCartney. Com uma ambientação de um quarteto de
cordas, é nela que finalmente podemos ouvir, pela primeira vez, a voz de
Lennon, fazendo um discreto contracanto no refrão.
John
Lennon retorna para
abrir o lado B com a psicodélica “Being for the Benefit of Mr. Kite”. A música
não faz muitas voltas para falar mal do empresário Allan Klein e de como a banda foi descaradamente roubada por ele. O
clima circense da canção não é a toa. Indicado por Lennon e
rechaçado inicialmente por McCartney, que deseja ver seu sogro como
empresário, Allan Klein é considerado até hoje um dos pivôs da separação da
banda, que acabaria acontecendo alguns anos depois.
É também no lado B que encontramos mais uma daquelas experimentações com música indiana feitas por George Harrison. Nada contra a canção, que é excelente, mas a mera repetição de “Love You To”, do disco anterior, não contribuiu para abrilhantar a excelência de Sgt Peppers, embora não o prejudicasse. Ainda que Harrison tenha tentado, a canção mais estranha e diferente do disco é a seguinte, “When I’m 64” que, em um arranjo burlesco, fala de como McCartney esperava estar aos 64. Hoje o músico está com 75 e é curioso perceber como era a expectativa de vida naquela época, pois, hoje, com 11 anos a mais, McCartney passa longe da acomodação do personagem de sua letra.
Lovely
Rita, outra canção
legitimamente power pop de McCartney,
reacende a chama e se transforma em um dos grandes, senão o melhor, momento do disco. Não é a melhor canção apenas
por conta da excelência da peça que encerra o disco, mas, com certeza, é a mais
bem resolvida harmonicamente em um lp quase irrepreensível.
Sinceramente, “Good Morning, good
morning” e a reprise de de “Sgt. Peppers” soam muito mais com uma “encheção de
lingüiça” para que o álbum tivesse os 50 minutos que tem, do que, provavelmente,
fossem relevantes para a ideia geral do disco. Porém, como nada aqui, não compromete
o resultado final. Lennon retorna para a
épica “A Day In The Life”, esta sim o grande momento não só do disco, como de
toda a carreira do conjunto.
As mais fantasiosas línguas afirmam que
“A Day In The Life” descreve com detalhes o acidente de automóvel que teria
vitimado Paul McCartney no ano
anterior. Se você viveu no planeta Terra nos últimos cinquenta anos, deve saber
que, naquela época, corria solto um
boato de que Paul teria morrido e um impostor tomado o seu lugar. Acontece que se isto realmente aconteceu – e
é óbvio que não aconteceu – o “novo” Paul McCartney seria infinitamente superior ao McCartney “morto”. Afinal, é justamente entre “Revolver” e
“Sgt. Peppers” que acontece a explosão de criatividade que sedimentaria
definitivamente o artista como o grande compositor que é e o afastaria
definitivamente de sua parceria com Lennon.
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