SMITHREENS: A BANDA CERTA NO LUGAR ERRADO - O ano era 79 e a cidade era Carteret, New Jersey. Um grupo de amigos de bar, fanáticos por blues, nuggets e folk-rock, que ouviram atentamente os discos dos Byrds e The Band, além de toda a psicodelia americana do final dos anos 60, formaram uma banda que não iria mudar absolutamente nada no rock mundial. Por muito pouco. Apesar de emularem um rock vigoroso e competente, o grupo foi vítima de uma espécie de azar: Logo após o seu surgimento, um outro cnjunto se apropriou de parte do nome e do conceito. Em seguida, do outro lado do oceano, outro grupo, também de som similar, alcançaria enorme sucesso. O estrago estava feito.
Quando lançaram o literalmente irado Beauty And Sadness, em 83, o grupo assustou o mundo pop com um disco que parecia, e estava mesmo, fora de contexto. O EP trazia faixas pesadas, entupidas de distorção sessentista. Em 86, sai seu primeiro disco, sintomaticamente chamado "Specially For You", mais melódico mas ainda com um pé enorme no guitar sound dos anos 60. Só em 88, com o lançamento do excelente "Green Toughts", os Smithreens assumiriam sua vocação de guitar band de linhagem pop, com um resultado quase unânime entre os fãs: o grupo parira sua obra-prima.
"Eleven", de 89, mais voltado pro rock, fechava um ciclo. Nos anos 90, a banda lançaria bons discos, embora sem a energia e o brilho dos títulos dos anos 80. Em 2000, após 20 anos de estrada, sem conseguir o sucesso que merecia, o grupo encerrava suas atividades. Como uma boa bar band, os Smithreens se reúnem eventualmente para tocar em botecos de sua cidade natal. Sorte de seus conterrâneos, azar dos que sabem distinguir os bons dos falsamente incensados.
THE TURTLES: FELIZES JUNTOS - Conta a lenda que Bob Dylan chorou quando ouviu a versão que aquela banda esquisita do meio oeste americano, apadrinhada por Gene Clark, dos Byrds, fizera de sua famosa canção de desamor It Ain't Me Babe. Uma mentira evidente porque Bob Dylan não chora e detesta as regravações de suas músicas. A balada já havia sido gravada maravilhosamente pelo próprio Dylan e pelos Byrds, que eram considerados os "intérpretes oficiais" de Mr. Zimmerman, mas a superioridade da versão dos Turtles é quase uma unanimidade no meio musical.
Em 1965, quando o primeiro compacto foi lançado, o grupo não era exatamente um iniciante. Em sua primeira encarnação, eles eram ninguém menos que a banda de surf-music The Crossfires e tinha alguns integrantes em comum com os lendários Surfaris. Quando a onda da surf-music mostrou seus primeiros sinais de cansaço, eles acharam que era hora de dar uma guinada na carreira e trocaram de nome para The Six Pack, uma referência aos pacotes de seis cervejas , muito populares nos Estados Unidos. O problema é que o nome definitivamente não combinava com o som que o grupo passara a fazer. Além do mais, eles agora eram cinco e pacotes de cinco cervejas certamente não eram tão populares quanto os de seis (se é que existiam). A paixão pelos Byrds (algo como "páçaros", em uma tradução tão livre quanto bizarra) e o apelo dos Beatles (também um trocadilho com nome de bicho, no caso, besouros) fez com que mudassem definitivamente de nome para The Turtles. Lançaram dois singles, quase que simultaneamente. O já citado It Ain`t Me Babe e o seguinte, Let Me Be, estouram nas paradas ianques, elevando as tartarugas à condição de celebridades em menos de dois meses.
As apresentações na TV do novo grupo encantaram os Estados Unidos. Primeiro porque Howard Kaplan era um cantor de verdade, uma autêntico lead-singer, mal comparando, algo como Dinho Ouro Preto a frente do Capital Inicial em sua primeira fase, ainda nos anos 80. Mesmo com toda a classe do mundo, Howard sabia ser agressivo quando necessário e seus vocais acabariam influenciando muitos vocalistas dos anos 80, como Glenn Rehze, do Plasticland. Além da presença cênica de Kaplan, a banda contava com uma outra presença, esta cínica, de Mark Volman, um freak gordinho, simpaticíssimo, que fazia backin' vocals enquanto fingia que tocava um trompete. O bom humor de suas apresentações televisivas rendeu-lhes uma popularidade instantânea que preparou terreno para voos mais altos. Se bem que mesmo naqueles anos chapados, tartarugas não voavam. Digamos que dariam passos mais largos.
O sucesso dos singles Eve Of Destruction, Happy Together e Eleanore consolidou a imagem de bons meninos junto à conservadora família norte-americana, enquanto conquistavam respeito da crítica e credibilidade entre os fãs. Em meados de 1970, a banda melancolicamente se desfaz em meio à acusações mútuas de desvio de dinheiro, por conta de empresários inidôneos. Kaplan e Volman, porém, continuam amigos e planejam voltar à cena musical como uma dupla. Em entrevista, à época, Howard Kaplan afirmava ter entrado em depressão e lamentava o fim da "Happy Turtles Family". O grupo original só se reconciliaria em 85.
Quando Frank Zappa estava tentando reagrupar os lendários Mothers Of Invention resolveu convidar a dupla (na verdade, mesmo, eles se ofereceram) para fazer os vocais de fundo. Dois incidentes bastante conhecidos da carreira de Frank Zappa, o incêndio em um teatro causado por um fã mais exaltado, que atiraria um rojão no palco (relatado divertidamente no clássico Smoke On The Water, do Deep Purple) e o empurrão que o guitarrista sofreria de outro fã, quase o levando à morte e mudando definitivamente o tom de sua voz (Zappa cairia sobre o pescoço, sendo considerado um milagre sua sobrevivência), fariam com que os Mothers dessem uma parada. Volman e Kaplan, que, por razões contratuais, não poderiam usar os próprios nomes em qualquer projeto musical antes da dissolução oficial da antiga banda, adotaram os pseudônimos de Flo And Eddie e seguiram com a banda de Zappa fazendo shows revivalistas com o repertório dos Turtles e algumas canções do repertório dos Mothers. Zappa só os perdoaria pelo atrevimento anos depois.
Em 85, Flo & Eddie reúnem a banda para uma mega turnê dos Turtles junto com outros grupos dos anos 60. Após o fim dos shows, os integrantes originais preferiram não seguir adiante, liberando a dupla para usar o nome Turtles. Hoje, 20 anos depois, as tartarugas continuam vasculhando todo o território americano. Claro que não têm mais o impacto e a pischedelia dos sixties, mas continuam sendo perfeitos showmen, entretendo gerações com suas melodias desconcertantes e um certo charme underground que conseguiram manter até hoje. Long live to Flo And Eddie, happy together.
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