Pular para o conteúdo principal

A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE VII - ADRIANA NA PISCINA

Os amigos já sabiam da existência da Zero AA Esquerda e estavam verdadeiramente ansiosos para o aguardado primeiro show da banda. Na verdade, não seria exatamente um show, já que ainda nem tínhamos baterista. Era mais uma apresentação-teste onde iríamos tocar e ver o que acontecia fora do palco. Ensaiamos arduamente para aquele dia e aquilo foi um verdadeiro evento. Vieram mãe, tia, primo, irmã, sobrinho e namorada do vocalista. Os pais e a irmã de Josias também compareceram. Meus irmãos, os tios por parte de mãe de meu filho, amigos dos integrantes da banda e algumas meninas do bairro vizinho. No dia, o quintal da casa de meu filho ficou surpreendentemente lotado, já que os amigos trouxeram seus amigos também. Já completamente dentro do espírito empreendedor e capitalista da banda, franqueamos a entrada mas cobramos pela cerveja, água e refrigerante.

Ao todo, sem medo de errar, ali estavam umas 100 pessoas. Todos acotovelados em um quintal, onde usamos a varanda como palco. O som era uma lástima e eu lembro de Eudes, dono do bar Jeca Total, lendário reduto de doidões onde tocaríamos muitas vezes em um futuro próximo, dizer que "as letras parecem ser boas, só faltou mesmo entender".

O que foi tocado neste primeiro show foi,  basicamente, o repertório que veio a compor o nosso primeiro disco, "Os Brotos também Amam", já como LP & Os Compactos. Abrimos a apresentação com um instrumental chamado Pet Music, em que eu fazia alguns arpejos marotos e que seria nosso número de abertura por quase toda a história da banda. Em seguida, perfilaríamos  alguns rockabillies, uns autorais, outros não. A plateia dançava e respondia, música após música. Em "Rua Augusta", o que se viu equivaleria a um carro desgovernado descendo aquela rua a 1200 por hora. E tudo isto com uma bateria eletrônica que falhava de vez em quando. Em certo momento, Josias cansou de programar a bateria errado com os pés e tirou o sapato para delírio de geral e quem estava perto do palco improvisado fingia desmaios por conta de um hipotético chulé.

Era o primeiro show da banda e eu já assumia as funções de tour manager, o que me renderia muitos aborrecimentos no futuro. Controlava o bar, testava os equipamentos e ainda subia para tocar. Se eu tivesse posto o ego e a vontade de fazer parte de uma banda um pouco de lado, teria percebido ali mesmo que era melhor sempre ter ficado por trás  das cortinas.

Stephen tinha uma namorada nesta época chamada Adriana. Mais tarde, regravaríamos um sucesso obscuro dos anos 80 chamado Adriana Na Piscina e muitos julgavam que a tal Adriana era ela mas não era. Adriana foi a primeira namorada de meu filho e, junto ás suas amigas, naquele dia, dançava e cantava esfuziantemente os "hits" que ouviu inúmeras vezes nos ensaios que assistiu.

Em certo momento do show, uma das meninas puxou um corinho chamando Josias de "lindo, tesão, bonito e gostosão". Era uma brincadeira, na verdade, pois o pequeno guitarrista era realmente pequeno e parecia uma criança. Porém, Stephen, quando viu sua amada batendo palmas e enchendo seu colega de banda de elogios supostamente calientes, não teve dúvida: Largou o instrumento e foi ter uma DR ao vivo e a cores com a pobre Adriana que ficou completamente sem graça.

Stephen abandonou o show, entrou para o quarto e lá ficou, amuado, por mais que o seu tio Fábio tentasse lhe convencer a voltar. Quinze minutos depois, demos a apresentação por encerrada sem a presença de nosso baixista. O namoro de Adriana e Stephen não acabou naquele dia, mas Josias nunca mais recebeu ovações assim tão entusiasmadas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A CARTA ANÔNIMA

 Quando eu era menino, ainda ginasiano, lá pela sexta série, a professora resolveu fazer uma dinâmica bastante estranha. Naquele tempo ainda não tinha esse nome mas acho que ela quis mesmo fazer uma dinâmica, visto pelas lentes dos dias atuais. Ela pediu que cada aluno escrevesse uma carta anônima, romântica, se declarando para uma outra pessoa.  Eu confesso que não tive a brilhante ideia de escrever uma carta anônima para mim mesmo e assim acabei sem receber nenhuma carta falando sobre os meus maravilhosos dotes físicos e intelectuais. Já um outro garoto, bonitão, recebeu quase todas as cartas das meninas da sala. E sabe-se lá se não recebeu nenhuma carta vinda de algum colega do sexo masculino, escrita dentro de algum armário virtual. Eu, é claro, escrevi a minha carta para uma menina branca que nem papel, de óculos de graus enormes e um aparelho dentário que mais parecia um bridão de cavalos. Ela era muito tímida e recatada, havia nascido no norte europeu mas já morava...

O SONHO

  Oi. Hoje eu sonhei contigo. Aliás, contigo não. Eu sonhei mesmo foi comigo. Comigo sim, porque o sonho era meu, mas também com você, porque você não era uma mera coadjuvante. Você era a outra metade dos meus anseios juvenis que, quase sexagenário que sou, jamais se concretizaram. Não que a falta de tais anseios me faça infeliz. Não faz. Apenas os troquei por outros, talvez mais relevantes, talvez não. Hoje de madrugada, durante o sonho, eu voltava a ter 20 anos e você devia ter uns 17 ou 18. Eu estava de volta à tua casa, recebido por você em uma antessala completamente vazia e toda branca. Branca era a parede, branco era o teto, branco era o chão. Eu chegava de surpresa, vindo de muito longe. Me arrependia e queria ir embora. Você  queria que eu ficasse, queria tirar minha roupa ali mesmo, queria que eu estivesse à vontade ou talvez quisesse algo mais. Talvez? Eu era um boboca mesmo. Você era uma menina bem assanhadinha, tinha os hormônios à flor da pele e eu era a sortuda ...

Porque não existem filas preferenciais nos EUA.

Entrei em contato com um amigo norte-americano que morou por muitos anos no Brasil e o questionei sobre a razão de não haver filas preferenciais nas lojas norte-americanas. Ele me respondeu que não havia apenas uma mas várias razões. Uma delas é legal, porque é anticonstitucional. A enxutíssima constituição dos Estados Unidos simplesmente proíbe que determinado grupo social tenha algum direito específico sobre outro. Ou todos têm ou ninguém tem. Então, lhe questionei sobre as ações afirmativas na área de educação. Ele me respondeu que as ações afirmativas seriam constitucionais porque serviriam justamente para nivelar um grupo social em desigualdade aos outros. O que não seria, segindo ele, o caso de gestantes, idosos e deficientes físicos. A segunda razão seria lógica e até mesmo logística: Uma fila preferencial poderia ser mais lenta do que a fila normal e acabar transformando um pretenso benefício em desvantagem. Isto abriria espaço para ações judiciais no país das ações judic...