Então seus pais passaram em frente à porta, pelo corredor, indo em direção à sala de jantar. Estavam alegres como dois namorados aposentados, trocando sorrisos e cochichos. Nem perceberam a minha presença. Nosso amor não era bem visto por eles no meu sonho (desconfio que também não era quatro décadas atrás).
Quis ir embora. Coloquei a camisa no corpo. Era amarela. Vale a pena dizer isto? Eu detesto roupa amarela. Só tenho uma camisa desta cor, escrito liberdade. Mas é porque está escrito liberdade, não por ser amarela. Mas, sim, coloquei a camisa. Que no sonho não estava escrito liberdade, só era amarela. Você me pediu ao menos um abraço. Como negar um abraço a quem eu queria encher de beijos? Mas eu neguei.
Vem comigo, eu te falei. Pra onde, você perguntou. Para um hotel, para a Bahia, para o mundo. Para o inferno, onde tudo é vermelho e eu posso ficar sem camisa. Mas vem comigo agora. Você não quis. O que eu fui fazer tão longe sem saber se teria o que eu queria ou se queria o que eu teria? Fui embora.
Acordei de repente, quarenta anos depois. Levantei, fui ao banheiro e voltei a dormir. Sonhar poder ser maravilhoso. Algumas vezes a gente se reencontra com aquele menino tantos anos mais novo. E até que se surpreende com a maturidade dele, esse moleque fedendo a leite que eu nunca mais vou ser.
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