Pular para o conteúdo principal

Adriana na Piscina - Parte I: A musa inspiradora.

Quando eu tinha 16 anos de idade - pois é, um dia eu tive esta idade - , eu namorei uma moça muito doce e meiga chamada Adriana. Hoje em dia, beirando a meia década de vida, realmente não consigo imaginar que, em algum tempo, eu tenha sentido qualquer atração por alguém de apenas 13 anos, mas, enfim, aos dezesseis isto bem deve ser possível.

O fato é que Adriana, pelo menos para mim, era mesmo uma graça. Digo "para mim" porque os meus amigos achavam que ela era feia. Magra demais, dentuça, eles diziam. Não adiantava nada. Para mim, Adriana era linda e só terminamos porque...na verdade,  eu nem lembro mais porque. Provavelmente terminamos porque duas pessoas nesta idade ainda têm muito a viver.


Nosso tão efêmero namoro foi regado a doses cavalares dos doces e salgados que sua mãe preparava sob encomenda. A mãe dela me adorava. Aliás, as mães de minhas namoradas sempre me adoraram. A minha sogra provisória dizia que eu era um bom rapaz, respeitador e estudioso e que, apesar de sua filha ser ainda muito nova, fazia muito gosto em nosso namoro.



Eu também fazia um enorme gosto. Gosto de brigadeiro, de beijinhos - tanto o doce quanto o beijinho em si - e de baba de moça. Mas, antes que me tomem como um velho tarado, era outra doçura, a de Adriana, que me cativava de verdade. E o rádio era nosso companheiro de namorices adolescentes. E uma destas músicas, em particular, chamava muito a nossa atenção.


A letra daquela música era boba, muito boba mesmo. E imagine que, para dois adolescentes de 13 e 16 anos acharem a letra de uma canção boba, ela devia mesmo beirar a idiotia. Mas como aquela musiquinha era divertida! Vivíamos o "pré-boom" do rock nacional e tudo aquilo nos parecia atraente demais. Virou a "nossa canção". Nada mais natural. Nosso namoro era tão leve e "zen" que nos permitia ter, em vez de uma música "romântica" convencional, um balançante ie-ie-ié pós moderno como objeto para lembranças futuras. E cantávamos juntos, bolávamos coreografias, quando, sem anunciar, "Adriana na Piscina" tocava no rádio.



Nunca consegui adquirir o compacto simples contendo aquela canção, mas sabia que a banda que a interpretava se chamava "Rapazes de Vida Fácil". E apenas isso. Nunca os vi no Chacrinha nem no Raul Gil. Aquilo era tão jurássico que, naquele tempo, não havia ainda Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas com ou sem Sucesso e Biquini Cavadão. Todos eles só apareceram depois dos "Rapazes de Vida Fácil".


O namoro com Adriana acabou e seguimos nossa vida adiante, até mesmo nos perdendo de vista por um bom tempo - hoje em dia, ela mora na mesma rua que minha mãe. Mas a danada da canção nunca me saiu da cabeça. Acho que, de tanto que cantamos juntos, eu e Adriana, a letra permaneceu gravada em minha memória.


Muitos anos se passaram e veio, enfim, a novidade da mp3. A princípio eu detestei aquilo. Também, pudera, eu era lojista do ramo de discos, como não odiar? Mas, logo me rendi àquela nova forma de ouvir música e comecei a procurar as minhas eternas raridades: Discos que tive e nunca encontrei de novo para comprar e canções que faziam parte da minha memória afetiva. E, claro, a música que embalou aquele meu namorico infanto-juvenil: Adriana na Piscina.
(Continua...)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A CARTA ANÔNIMA

 Quando eu era menino, ainda ginasiano, lá pela sexta série, a professora resolveu fazer uma dinâmica bastante estranha. Naquele tempo ainda não tinha esse nome mas acho que ela quis mesmo fazer uma dinâmica, visto pelas lentes dos dias atuais. Ela pediu que cada aluno escrevesse uma carta anônima, romântica, se declarando para uma outra pessoa.  Eu confesso que não tive a brilhante ideia de escrever uma carta anônima para mim mesmo e assim acabei sem receber nenhuma carta falando sobre os meus maravilhosos dotes físicos e intelectuais. Já um outro garoto, bonitão, recebeu quase todas as cartas das meninas da sala. E sabe-se lá se não recebeu nenhuma carta vinda de algum colega do sexo masculino, escrita dentro de algum armário virtual. Eu, é claro, escrevi a minha carta para uma menina branca que nem papel, de óculos de graus enormes e um aparelho dentário que mais parecia um bridão de cavalos. Ela era muito tímida e recatada, havia nascido no norte europeu mas já morava...

Porque não existem filas preferenciais nos EUA.

Entrei em contato com um amigo norte-americano que morou por muitos anos no Brasil e o questionei sobre a razão de não haver filas preferenciais nas lojas norte-americanas. Ele me respondeu que não havia apenas uma mas várias razões. Uma delas é legal, porque é anticonstitucional. A enxutíssima constituição dos Estados Unidos simplesmente proíbe que determinado grupo social tenha algum direito específico sobre outro. Ou todos têm ou ninguém tem. Então, lhe questionei sobre as ações afirmativas na área de educação. Ele me respondeu que as ações afirmativas seriam constitucionais porque serviriam justamente para nivelar um grupo social em desigualdade aos outros. O que não seria, segindo ele, o caso de gestantes, idosos e deficientes físicos. A segunda razão seria lógica e até mesmo logística: Uma fila preferencial poderia ser mais lenta do que a fila normal e acabar transformando um pretenso benefício em desvantagem. Isto abriria espaço para ações judiciais no país das ações judic...

O SONHO

  Oi. Hoje eu sonhei contigo. Aliás, contigo não. Eu sonhei mesmo foi comigo. Comigo sim, porque o sonho era meu, mas também com você, porque você não era uma mera coadjuvante. Você era a outra metade dos meus anseios juvenis que, quase sexagenário que sou, jamais se concretizaram. Não que a falta de tais anseios me faça infeliz. Não faz. Apenas os troquei por outros, talvez mais relevantes, talvez não. Hoje de madrugada, durante o sonho, eu voltava a ter 20 anos e você devia ter uns 17 ou 18. Eu estava de volta à tua casa, recebido por você em uma antessala completamente vazia e toda branca. Branca era a parede, branco era o teto, branco era o chão. Eu chegava de surpresa, vindo de muito longe. Me arrependia e queria ir embora. Você  queria que eu ficasse, queria tirar minha roupa ali mesmo, queria que eu estivesse à vontade ou talvez quisesse algo mais. Talvez? Eu era um boboca mesmo. Você era uma menina bem assanhadinha, tinha os hormônios à flor da pele e eu era a sortuda ...