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O meu primeiro ano de vida.

O número 48 é múltiplo de 4, isto qualquer um com o mínimo conhecimento em matemática sabe muito bem. E que, 48 dividido por 4 dá 12, isto não é também nenhuma novidade. Acontece que 48 é a minha idade atual, pelo menos, até as 19:30 de hoje, dia 20 de setembro,  quando o calendário vira para mim e completo 49 anos de idade.

Foto: Anne Jessant
Então não vou resistir à tentação de dividir estes 48 anos de idade por 12 e transformar cada 4 anos de minha vida em um mês de um ano fictício, tal como naqueles calendários que afirmam que, se toda a história do Planeta Terra pudesse ser resumida a um único ano, os seres humanos surgiriam no último minuto da última hora do dia 31 de dezembro. Assim, esquecendo das quatro semanas a mais que um ano tem, peço a licença poética de transformar cada ano de minha vida em uma semana.

Nas primeiras quatro semanas de meu Janeiro, fui um menino feliz, inocente como são todas as crianças até os quatro anos de idade. Sobrevivente de um problema grave de saúde, e com minha mãe me criando sozinho, sem pai, me tornei o menino rosado e rechonchudo que todas as vizinhas queriam tomar conta e apertar as bochechas.

Com Sheila Nunes, irmã, uma de minhas metades.
O meu fevereiro e o meu março já não foram assim tão felizes. Na escola, fui vítima de intenso bullying, até mesmo por parte de professoras, mas comecei a superar tudo isto nos meses seguintes. Em abril, fui apresentado à minha música, a que eu podia escolher e comprar. Primeiro a black music, depois o rock and roll. Em maio me tornei punk e aprendi a tocar um instrumento, a bateria.  No dia 10 de maio, conheci a primeira paixão. Ao final do mês das noivas, eu já estava casado com a guitarra.

Em junho entrei para a faculdade em Salvador e fui cursar jornalismo. Na segunda semana daquele junho conheci a mais bela morena soteropolitana e me casei. Casei e engordei. No dia de São João me tornei pai. Sugeriram que se chamasse João, preferi Stephen Ulrich.  Deus me clonou sem me avisar. Até o final do ano eu me daria plena conta disso.

Comigo mesmo, na versão feminina: Anne Jessant.
Em julho, desisti de ser jornalista e parti para realizar o meu sonho de ter uma loja de discos.  Durante três meses fui o feliz proprietário, não da maior, mas da melhor loja de discos da cidade, até que a falsificação chinesa veio piratear o meu sonho.  Na primeira semana de agosto  me converti ao budismo,  na segunda semana me tornei hare krishna, na terceira  aceitei Jesus e na quarta semana, finalmente, me tornei um agnóstico.

Em setembro, realizei outro sonho, o de ser reconhecido como músico e compositor. Inventei uma banda e fiz dela desconhecida até mesmo fora do país. Em outubro, a bela morena me deixou e eu fiquei só. Só de todo mundo, só dos amigos, só da família, só do mundo. Já estava até me acostumando a ser só quando, em novembro, em uma esquina do Orkut, ela me encontrou e levou para casa. Ela foi o anjo que novembro trouxe para mim. Com ela veio um anjinho, que Deus me incumbiu de cuidar, a minha filha.

Stephen Ulrich, filho, outra de minhas metades.
No início de dezembro  eu comecei a emagrecer, pois quis deixar de ser gordo. Perto do natal eu resolvi também parar de fazer música, cansado de aborrecimentos com algumas notas musicais que insistiam em cair da pauta. Na última semana do ano, resolvi voltar a ser jornalista, a escrever e criei um blog. Hoje, no último minuto do último dia do meu primeiro ano de vida, finalmente, completo um ciclo. Posso dizer: não trocaria novembro e dezembro por todos os outros oito meses do ano que eu vivi.

Se chegarei ao final deste segundo ano que começa amanhã, eu não sei. Não sei nem quero saber. Quero é viver, como bem disse o bardo português António Variações, morto ainda em seu próprio outubro. E sejam todos bem vindos ao primeiro dia do segundo ano do resto da minha vida. Bom réveillon para mim mesmo.










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