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O bilhete de suicídio.

Este talvez seja o meu texto mais incomprendido. Sempre o mantive como o escrevi mas resolvi republicar adicionando este parágrafo. Foi um texto vomitado, com raiva, que escrevi após perder o segundo amigo, um para as cordas penduradas no teto e outro para o veneno de rato. E ambos vieram me anunciar, alguns dias antes, o seu triste intento.  Aconselhei, até mesmo os xinguei, mas nada pude fazer para impedir o ato de desespero, inclusive, por ignorância, podendo até tendo os incentivado. Cansado, extenuado de ser pararraio da frustração  alheia sendo eu mesmo um frustrado e ainda ganhar uma culpa para a vida que não  é minha, escrevi o texto a seguir: 

Bilhetes de suicídio deveriam ser vendidos em livrarias como se vendem modelos de contrato de aluguel. Em sua grande maioria são tão previsíveis que poderiam até ser pré-escritos, apenas mudando informações básicas  sobre quem, como, quando e porque estaria se suicidando.

Me perdoem o sarcasmo, a frieza, a falta de piedade, como vocês queiram chamar a minha tremenda impaciência com suicidas. Está pendurado na janela do último andar, encenando o teatro burlesco e farsante da própria morte? Bem, eu não seria o bombeiro que tentaria falar de Jesus e salvar sua vida e sim o popular que estaria lá embaixo gritando para que pulasse de uma vez.

Todo suicida é, antes de mais nada, um grandiosíssimo covarde. Abrindo uma exceção para os doentes terminais que cometem eutanásia, todos os outros não passam de gente fraca, que acredita que seu viver possa ser mais doloroso do que o dos outros. Não é. Basicamente, sofremos, todos nós os seres humanos, da mesmíssima forma. Viver é tão prazeroso quanto pode ser penoso. Faz parte da regra do jogo e quem não sabe, ou não aguenta jogar, acaba se matando. 

Para mim, ao tirar a própria vida, o suicida inflige uma punição a todos aqueles que o amam, os que estão à sua volta. Esquece ele, o suicida, que tal punição, quando tem efeito, é passageira. Recentemente, o irmão de um músico conhecido se suicidou, após diversas ameaças não concretizadas. Dois dias depois, o artista estava na TV, alegre e serelepe, anunciando sua agenda de shows. Cruel, o tal músico? Frio, insensível? Não, Apenas uma pessoa cansada. Cansada de sofrer, batalhar, cair e levantar sem nunca pensar em se matar e ver alguém próximo fraquejar, se consumir e consumir os que estão à sua volta. As pessoas a quem você quer fazer sofrer, podem até sofrer em um primeiro momento. Depois, simplesmente te esquecerão.

Eu tenho um recado para você, candidato a suicida. E um recado direto como um soco no queixo: Minha vida não é fácil, não é leve, não é bela, não é um álbum de fotos de rede social. No entanto, não ando por aí anunciando, muito menos pensando, em me matar. A boa notícia é que não somos apenas eu e você que sofremos. É toda a humanidade. Até seria uma boa ideia que todos os seres humanos cometessem um suicídio coletivo e livrassem o planeta de nossa presença. Mas, não daria certo. Sempre haveria um espírito de porco para quebrar o pacto e adiar a permanência do homem sobre a Terra.

Sob qualquer prisma, suicídio é uma tremenda babaquice.E não falo isso para lhe motivar, sr. suicida, a mudar de ideia. Deixo claro que pouco estou me importando com você e com a sua fraqueza. Eu me importo mesmo é com as pessoas que você fará sofrer: Sua mãe, seu pai, sua esposa ou esposo, seus filhos...Enfim, levante esta cabeça, enfrente o seu quinhão de sofrimento e poupe as pessoas de suas lamúrias. E desça desta janela, imediatamente!

Epílogo escrito na republicação Suicídio é um assunto seríssimo.  É muito triste perceber todas as circunstâncias que envolvem o ato de tirar a própria vida, notadamente para quem fica. Oriente sempre um suicida a procurar ajuda profissional.

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