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PLUG LASER: A HISTÓRIA NÃO CONTADA - PARTE V

Existem duas datas de inauguração da Plug Laser. A oficial, em novembro de 1990, quando a empresa foi aberta de forma quase mambembe, e a pragmática, que foi quando nos mudamos para o térreo, no endereço da Rua Castro Alves. Rua que era, na prática, uma larga e longa avenida. Foi ali que, de fato, entramos no jogo e passamos a incomodar os concorrentes.
 
Quando surgimos, ainda havia a minha antiga loja - a Muzak - que continuou funcionando sob a direção do meu ex-sócio, mas era muito mais um sebo especializado do que uma loja de discos efetivamente comercial. Também havia a rede A Modinha e a rede de supermercados Mendonça. Uma era um dinossauro, com os pés ainda fincado no vinil e  outra só trazia mesmo que havia de mais óbvio possível no mercado.

Nosso primeiro concorrente de verdade foi justamente o amigo, único convidado a comparecer, que filmara a inauguração da loja na Castro Alves. Ele abriu a sua loja mais para satisfazer um capricho da namorada do que, propriamente, por interesse comercial. Tanto que, em uma de suas brigas homéricas, o casal desfez a parceria e o meu amigo me vendeu o seu estoque a preços camaradas. A moça, uma verdadeira fera indomada, não perdoou nem eu nem o namorado. Riscou o próprio nome no carro novinho do duplo sócio e entrou na minha loja e me encheu de desaforos. A mulher tinha tanto ódio nos olhos que eu preferi nem argumentar nada e deixar ela falando sozinha e desabafar o quanto quisesse. Como seu nome era um nome russo, nós passamos a chamá-la de "a outra cadela no espaço", em referência à pobre Laika, a cachorra que fez parte do programa espacial soviético e morreu em uma missão.

Outro concorrente que surgiu ganhou de nós o apelido de "tinha mas acabou". Quando alguém procurava um disco por lá, esta era a resposta que o cliente sempre ouvia. Costumávamos ligar procurando por um disco de um artista inexistente, apenas para ouvir do outro lado da linha que...tinha, mas acabou!

Havia também um concorrente que tentou nos imitar até no nome. Fez propaganda no rádio como nós mas não tinha a condição de parcelar sem juros no cheque pré-datado que era o nosso diferencial. Então, ele anunciava títulos à vista com desconto. O pessoal achava que a propaganda era de nossa loja, reclamava o preço anunciado a pagar em dinheiro e aceitávamos vender pelo preço desejado, pois sabíamos que a oferta era uma propaganda do concorrente. Resultado: O imitador fazia propaganda de graça para nós. Bem feito.

Tudo ficou complicado mesmo para nós com a chegada ao ramo de dois irmãos filhos do dono de uma famosa bomboniére da cidade. Inauguraram logo duas lojas, aparentemente uma para cada irmão, e partiram para o que se chama no comércio de "loss leader", ou seja, vender quase sem lucro para ganhar mercado. E deu certo pois perdemos inúmeros clientes para os "irmãos bomboniére" que era como os chamávamos desdenhosamente.

Em pouco tempo, com a "moda" das lojas de CDs, chegamos a ter 36 lojas concorrentes. Foram tempos difíceis mas, com uma clientela fiel, sobrevivemos até 2002, quando a pirataria e um certo desinteresse meu por continuar vendendo discos obrigou a loja a mudar de ramo.

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