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PLUG LASER: A HISTÓRIA NÃO CONTADA - PARTE IX

Na Plug Laser. sempre haviam causos e clientes marcantes. Um deles era um homenzarrão de mais de 1,80, malhado, policial, mas que só ouvia as canções mais românticas possíveis. Ganhou de nós o apelido de Sargento Glicose, ou simplesmente "Glicose", dado por um dos funcionários. Era saudado desta forma toda vez que entrava na loja, fingia um ar de repreensão para abrir um sorriso em seguida.

Sid Teixeira, o "Sargento Glicose".
O
s funcionários ensaiavam para ele até uma  esquete de humor em que o Sargento Glicose dava um baculejo em algum meliante e o liberava após saber que o delinquente era fã de Bread e Air Supply. A vítima do bullying muitas vezes se entortava de tanto rir.

Outro cliente sempre trazia a tiracolo a esposa esbelta, de corpo bem torneado e curvilíneo. A moça era, de fato, muito bonita, de rosto e de corpo. Chegava sempre de calça legging e já sabíamos o que iria acontecer. O marido pedia à esposa que pegasse um determinado disco na prateleira,  em um lugar mais alto,  coisa que ela fazia na ponta dos pés, empinando inevitavelmente a bunda. Então, ele olhava para nós e e fazia uma expressão de aprovação. Ficávamos um tanto constrangidos, mas pelo bem da venda, abríamos um sorriso desconcertado e dávamos um ok ou um joinha. O casal comprava os seus discos e não se tocava mais no assunto.

Outra moça, sempre ia na loja à noite, já no finalzinho do expediente, e adorava levantar a saia nos perguntando o que achávamos do look dela para aquela noite. Uma certa vez, temeroso de que entrasse alguém nestes momentos, eu  disse que, para avaliar como ela estava, não era necessário ver a calcinha de renda, acompanhada de cinta liga e espartilho. Fiz isto apenas para ouvir dela mesma que ela queria saber a opinião sobre o visual como um todo e não em parte, pois dali a pouco estaria tirando tudo para o namorado. Quando ela saiu, os vendedores me olharam feio e me pediram para não atrapalhar mais a diversão deles.

Mas não faltaram momentos constrangedores  na história da loja. Um casal era nosso cliente e costumavam ir juntos comprar seus discos, o que sempre acontecia  aos sábados á tarde, pois moravam em outra cidade. Um dia um deles apareceu sozinho e contou que haviam se separado. Na semana seguinte foi a vez do outro aparecer. E assim, revezando as idas, um sempre queria saber se o outro continuava frequentando a loja e com quem.

Outro casal, que também ia junto comprar seus discos, foi protagonista de uma cena das mais terríveis já registradas na loja. No final da noite, um deles aparece com uma moça muito jovem e bonita, pediu para tocar uns discos e a convidou para dançar. Assim, tivemos que assistir ao casal de rosto colado bailando pela pequena área comum da loja. Como se já não fosse constrangedor o suficiente, eis que a parte traída aparece de supetão e os pega no flagra. Tivemos que separar todo mundo, chamar a polícia e ainda ficamos sem a venda.


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