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A HISTÓRIA DA LP & OS COMPACTOS PARTE II - SOLUÇÃO ORAL.

Desde que abri a primeira loja de discos, a Muzak, os clientes mais jovens me tomaram por uma espécie de "guru" musical sem terem antes combinado comigo. Como guru transcendental do rock and roll eu causei muito mais decepções do que alegrias. Eu sempre fui este iconoclasta de carteirinha, que não respeita ídolos nem bandas sagradas, das quais não se pode falar absolutamente nada, eventualmente que são uma merda. E foi assim que fiz muitos desafetos, alguns que duram até hoje, por ter dito coisas heréticas como o Kiss ser melhor que o Joy Division.

Um destes discípulos acidentais era um garoto cabeçudo, com cara de adulto em um corpo de criança. Tinha 12 para 13 anos e era frequentador da minha outra loja, a Plug Laser. A sua família era toda minha cliente, do pai à mãe passando pelas irmãs, cunhados e adjacentes. Ele gosta de contar de como desistiu de comprar um disco na minha loja por me ver e ouvir detonar a banda. E olha que a banda em questão era o Legião Urbana. O nome deste blog confessa o quanto sou fã de Russo & Cia. Mas eu era assim. Até porque eu só falava mal do que eu gostava, fosse Legião Urbana ou Joy Division. Ninguém iria me ver (ou ouvir) falando mal do Europe ou do Survivor.

Eu prestei atenção de fato na figura de José Mário Pitombo quando passei a vender incenso, efeito colateral de meu envolvimento com o movimento Hare Krishna. Zé Mário aparecia na loja acompanhado de um conhecido meu, adepto das artimanhas de Jah,  sempre adquirindo muito incenso. Eu me fazia de inocente e perguntava para que tanto aromatizante. A resposta era sempre a mesma: Para meditar. Provavelmente meditar sobre os problemas sociais da Jamaica.

Mas eu não tinha nada com isso e vendia os incensos. E nestas visitas, Zé Mário gostava de conversar comigo sobre música e me perguntava coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar. Pedia que lhe contasse sobre as banda que tive, notadamente a que ele chegou a assistir alguns shows, os Traidores do Movimento.

E foi assim que Zé Mário tomou coragem, respirou fundo e me convidou para formar uma banda com ele. Eu tinha então 35 anos e ele 23. Não bastasse a enorme diferença de idade, eu o questionei se sabia tocar algum instrumento. Ele disse que poderia cantar. Claro. O que mais eu poderia esperar? Não sei o que me passou pela cabeça na hora mas lhe disse que topava desde que ele encontrasse um baixista e um baterista. Eu e minha boca grande. Ele encontrou.

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