Mas se há algum sentido no conceito de raças - e eu não acho que há - dividi-las entre raça negra, branca, amarela, indígena e smurfs me parece ter ainda alguma lógica. Afinal, a cor da pele bem poderia ser um ponto de partida para os que acreditam no conceito de raças, não necessariamente aqueles que acham uma raça superior à outra.
Porém, reina aí a enorme contradição: Se você acredita que existam raças entre os humanos - mas não é racista - crê que uma suposta raça é supostamente superior à outra - porque, cargas d'água, você ainda afirma acreditar em raças? Afinal, só faz sentido ser defensor da teoria das raças se você acreditar que alguma se sobrepõe à outra. Se acredita que todos os homens são iguais, você deveria ser - pela lógica, apenas pela lógica - defensor da teoria - teoria, não, da comprovação científica - de que somos todos uma raça só.
Mas se você, que acredita em diversas raças humanas convivendo em pé de igualdade ou não ainda acredita também que grupos étnicos são raças ou deveriam ser tratados como tal, sinto muito, mas para eugenista só lhe falta a casaca e a cartola. Árabes, hindus, judeus, não são raças, nem sequer são etnias. São grupos étnicos. E como defensor absoluto do direito individual, não posso lhe censurar por não gostar de árabes, hindus ou judeus. Mas julgar todos os hindus, todos os árabes, todos os judeus por um estereótipo único, qualquer um, me permita dizer, mas você, agindo assim, abusa do direito de parecer idiota.
Existe, no Brasil, notadamente no Nordeste, uma figura muito peculiar, que eu costumo chamar de "nazipardo". Infelizmente eu conheço muitos deles, não são figurinhas assim tão carimbadas. E quando eu chamo de nazipardo. uso o conceito "gilbertofreyriano" de pardo, aquela pessoa que não é preto, não é branco, não é índio nem smurf, muito pelo contrário. Alguns são filhos de alemães, alemães mesmo, com mulheres negras. Outros são filhos de simpatizantes old school do "velho e bom" reich. E outros o são porque são. Mas o fato é que, como um efeito colateral para a admiração pelo "homem do bigode", veio também o ódio, a repulsa gratuita ao judeu. Chame um homem de ladrão mas não o chame de judeu. Se eu disser para alguém que somos todos aqui filhos de judeus cristãos novos e não de "portugueses da gema" eu corro o risco de apanhar. E isso sem esquecer que o português típico, aquele que ficou além mar, não passa de um mouro disfarçado.
O estado de Israel e sua luta - e seus inúmeros abusos e erros nessa luta - pelo direito de existir, não ajudou muito a melhorar a imagem do judeu no mundo moderno. Judeus são todos avarentos, são todos ladrões, são violentos e são qualquer coisa que possamos chamá-los. Se é ruim, é judeu, se é judeu, é ruim. Então se cria o ódio e o preconceito pela "raça" judia. Sendo que judeu sequer é uma etnia, muito menos uma raça.
A polarização política atual legitimou de vez o antissemitismo. Não podemos mais destratar o preto, vamos agora destratar o judeu. E o preto, destratado antes, também vai querer destratar o judeu. E pessoas simples, nascidas judeus, que só querem viver sua vida em paz, que têm amigos árabes, que têm amigos pretos, que têm amigos brancos, até nazipardos e smurfs, são antagonizadas como se fossem parte de um corpo infinitamente maior de pessoas degeneradas por conta das ações de um estado judaico. Ou apenas por serem judeus. A raça humana não tem jeito.
Eu não queria me alongar mais e dizer a meus amigos antissemitas que eu sinto muito desconforto quando ouço sair de suas bocas frases preconceituosas contra os judeus. Desconforto e decepção. Nem precisa dizer que o mesmo serve para quem profere as mesmas frases preconceituosas contras árabes, pretos, brancos, amarelos ou smurfs. Aliás, contra smurfs até que não. Para falar a verdade, eu detesto gente azul.
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