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METEORO NOS DINOSSAUROS

Um dia Deus ganhou consciência. Não se autodenominava Deus, é bem verdade,  este é um nome que os homens lhe dariam bem mais tarde. Mas foi então que Ele percebeu onde estava. Era tudo um imenso vazio. Não sabia se fora criado, nem porque estava ali. Percebia suas formas, seus braços, suas pernas, seu corpo e percebeu também que podia imaginar. Sim, imaginar. E logo se deu conta que tudo o que Ele imaginava tomava forma. Foi então que fez um ser à sua semelhança e quando o criou tudo se iluminou à sua volta. Chamou-o de Lúcifer pois entendeu que deveria chamar aquele ser por um nome. Ainda que criasse outros seres idênticos a Ele, Lúcifer permaneceu sendo o anjo preferido de Deus.

Deus também percebeu que poderia criar pontos no vazio e os chamou de estrelas. À sua volta Deus criou planetas e não se cansava de imaginar outros tipos de astros siderais. Ele havia descoberto um sentido para a sua existência. Ao todo chamou de universo. Criou o sol, em sua volta alguns planetas e a um, em particular, Deus se dedicou. É aqui que eu vou criar minha obra prima, Deus pensou, o planeta a que chamarei de Terra.

Com a ajuda dos anjos Deus criou plantas, minerais e toda sorte de bichos. Até que criou os dinossauros. Gostou tanto que fez todo tipo de dinossauro. Grande, pequeno, vegetariano, carnívoro, bípede, quadrúpede, terrestre e voador. Nas horas de descanso, Deus se dedicava a brincar com seus bichinhos, feliz que estava com a sua criação.

Um dia Deus inventou o ouro pois queria cobrir seus bichinhos preferidos com aquela substância preciosa. Chamou Gabriel, seu anjo ajudante de ordens, e disse entusiasmado: 
- Gabriel, isto aqui é uma coisa nova que inventei, o ouro. Vá lá e mete ouro nos dinossauros. Não deixe sobrar um.

Gabriel ficou confuso mas Deus é Deus, o maioral, e só lhe restava obedecer. E assim foi.

Algum tempo depois Deus descansou novamente e foi ver como estavam seus dinossauros. E estranhou aquela fumaça toda, tudo quieto demais. Chamou Gabriel e lhe perguntou pelos seus bichos preferidos.

- Gabriel, cadê meus dinossauros?
- Mas Senhor, foi o Senhor mesmo que me pediu para sumir com eles.
- Eu?
- Sim, o Senhor foi bem claro: Meteoro nos dinossauros.
- METE OURO, Gabriel. METE OURO. Pintar de dourado! Meu Eu!!!! Não é possível uma coisa destas.

Claro que Deus poderia ter revertido o ato errado de Gabriel, claro que com um estalar de dedos Ele poderia criar tudo de novo. Mas Deus estava irado e preferiu castigar seu ajudante de ordens. Sua nova criação seria um ser idêntico a Gabriel e todos os outros anjos, só que sem asas. Deus criara o homem.

- Crio agora, como castigo, um ser que parecerá com vocês mas a eles darei raciocínio e vocês, todos os anjos, serão obrigados a proteger e acompanhar os seres humanos. Os anjos ficaram perplexos, enraivados, e passaram a chamar os humanos de macacos falantes.

Lúcifer, que ainda era o anjo preferido de Deus, ficou enciumado e não quis mais viver no céu. Pediu ao Senhor que fosse transferido para as profundezas da Terra onde teria o maior  prazer de castigar os humanos que transgredissem as regras de Deus. E Deus assim consentiu.

E, por via das dúvidas, Deus nunca mais deu uma ordem verbal a anjo nenhum. Tudo que ordenava, o fazia em duas vias com papel timbrado do céu e protocolo de recebimento. Deus, sem querer e por culpa de seus anjos, também havia inventado a burocracia.


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