Acabei de
ouvir a belíssima canção Solitary Man, do brilhante compositor norte-americano
Neil Diamond e cheguei a uma conclusão: Eu sou mesmo uma pessoa solitária. Não, não estou aqui apelando para a piedade
alheia, ou mesmo para a autoindulgência, nem fazendo dramas além dos necessários e
habituais. Longe Disso. Trata-se de apenas uma constatação. E digo
mais: Sou uma pessoa solitária
exatamente porque não bebo.
Aliás, beber
até que bebo, geralmente aos domingos, pouco – na verdade, um pouquinho mais que
pouco - mas em casa. O problema reside justamente aí: A humanidade bebe aos sábados, bebe muito e bebe
nos bares. Portanto, ando na contramão da maioria das pessoas e,
consequentemente, da maior parte dos meus amigos também.
Eu não sou uma
pessoa especialmente chata. Ao menos, não é assim que eu me vejo. Sei conduzir
muito bem uma conversa agradável e até costumo ser lembrado saudosamente nas rodas de conversa. Mas comecei a entender finalmente
o meu eterno exílio social: Eu não bebo. Não bebendo, as pessoas não querem ter como
companhia em seus excessos alcoólicos alguém que esteja sóbrio e possa
testemunhar, sem a desculpa da embriaguez, tudo aquilo que foi dito e falado. Logo
eu, que acredito piamente na adaptação
local daquele ditado americano: “O que se faz em Vegas, fica em Vegas...”.
Por outro
lado, eu também não contribuo muito para derrubar esse muro. Não gosto de sair a noite ou mesmo de ir em
bares. Talvez, aqui do outro lado da tela, eu mesmo não queira expor aos outros os meus
próprios excessos, nem sempre etílicos.
Também, há
certas coisas que não consigo compreender muito bem. Uma
delas é a dificuldade das pessoas de expressar um simples carinho ou admiração.
Um amigo de infância, que me é muito querido,
inclusive, costuma ter duas reações bem distintas quando me encontra: Uma é
no cotidiano, quando me cumprimenta secamente, de forma quase burocrática. Outra é quando nos vemos na noite, onde recebo
abraços efusivos e palavras de afeto com direito a lembranças das peladas - as
futebolísticas, claro - da nossa adolescência.
Um conhecido
vocalista de uma grande banda de rock aqui da minha cidade costuma agir do mesmo jeito seco quando me encontra
no dia a dia. Certa vez, bêbado, me encontrou e fez inúmeros e até exagerados
elogios. A atitude inesperada fez com
que o rapaz até subisse alguns degraus em meu conceito, mas aquele dia permanece um tabu. Se eu toco no assunto, ele faz que não
entendeu e muda o tema da conversa, como se tivesse feito alguma patifaria.
Algumas vezes
eu penso que minha sobriedade assusta algumas pessoas. Certo que eu tenho mesmo os dois pés muito bem
fincados no chão. E, nas vezes em que
resolvi “voar”, ”viajar”, ou como queiram
chamar, a experiência não foi lá muito
agradável para mim. Sou uma pessoa obcecada pelo “self control”, como naquela
canção de Laura Branigan.
Talvez, então, finalmente, eu compreenda o meu isolamento social: Não
quero perder o controle do que quero que as pessoas saibam da minha intimidade
e, por sua vez, as pessoas não querem ver sua intimidade
compartilhada com alguém sóbrio o bastante para lembrar perfeitamente do que viu e ouviu. Enfim, sem reciprocidade, acabo ficando mesmo fechado em meu mundo particular onde meus
discos são meus melhores amigos.
Poderia reunir
alguns amigos abstêmios e sentar em um bar por horas, regados a litros de
coca-cola zero, a falar mal dos
políticos, criticar a programação da TV
Globo e alfinetar os beberrões que nos excluíram de seu mundo. Mas estamos todos atrás de nossas
máquinas fuçando a web, de pijama, e sem nenhuma vontade de sair de casa. E
depois reclamamos que eles esqueceram de
nós. Nós é que nos esquecemos deles.
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