Meu encontro com a música do maestro pop Burt Bacharach foi puramente acidental. Conhecia a sublime gravação de "Baby It's You", presente já no primeiro lp dos Beatles mas, por outro lado, não gostava muito de "Raindrops Keep fallin' On My Head", interpretada por B. J. Thomas. Assim, até adquirir um LP do artista em uma liquidação da Gioventu, uma loja de discos tradicional de Salvador que estava encerrando as atividades, eu desconhecia completamente a existência (e a essência) da música de Bacharach.
Desconhecer, mesmo, é claro, não desconhecia. Desde sempre uma infinidade de músicas do maestro tocava abundantemente nas rádios, interpretadas por artistas como Dionne Warwick e The Carpenters. Quem, na faixa dos 45 aos 55 anos, nunca ouviu as consagradas gravações da dupla de irmãos para "Close To You" e/ou "I Never Fall In Love Again" com Warwick? Mas saber do quê e de quem se tratava, foi mesmo a partir deste disco. Que nem era um de seus discos mais importantes, diga-se de passagem, mas serviu para adentrar, até de um jeito menos óbvio, o universo do compositor.
Dizem que a música pop - e o rock por tabela - seriam diferentes sem a existência dos Beatles, e é verdade, mas também haveria diferença (e muita) sem a presença de Burt Bacharach. Talvez a influência do maestro seja até mesmo superior a dos Beatles, já que, absolutamente sem desmerecer a maravilhosa música perpretada pelo conjunto inglês, o artista não se utilizava dos recursos extra-musicais (imagem, video, adoração exacerbada, culto a personalidade) que os Beatles tinham a mão. A música do maestro britânico se impôs apenas pela qualidade. E que qualidade!
Dizem que a música pop - e o rock por tabela - seriam diferentes sem a existência dos Beatles, e é verdade, mas também haveria diferença (e muita) sem a presença de Burt Bacharach. Talvez a influência do maestro seja até mesmo superior a dos Beatles, já que, absolutamente sem desmerecer a maravilhosa música perpretada pelo conjunto inglês, o artista não se utilizava dos recursos extra-musicais (imagem, video, adoração exacerbada, culto a personalidade) que os Beatles tinham a mão. A música do maestro britânico se impôs apenas pela qualidade. E que qualidade!
A
longevidade e frescor da música de Burt Bacharach é impressionante.
Quando apareceu, no início da década de 50, por ironia, o compositor
tinha a pretensão de seguir os passos de outros grandes maestros da
época. Chegou a formar uma orquestra e se preparava para lançar discos
recheados de releituras pessoais para canções alheias.
Foi quase o mero
acaso que o fez, por necessidades financeiras, aceitar o trabalho de
produzir alguns artistas emergentes da gravadora a que era ligado. A
liberdade que tinha foi determinante para dar o toque de extrema classe
que impunha às canções que produzia, aliada à grande qualidade de suas
gravações. Logo estas gravações o tornaram um produtor enormemente
requisitado. Quando os artistas que produzia descobriram seu outro lado,
o de compositor, a química funcionou de vez e a lenda começava a se
formar.
Hal David.
Curiosamente, o letrista David, cujos versos correram as bocas de várias gerações,
quase nunca criou um tema completo ao por letra em uma música de
Bacharach. Acontece que Burt geralmente criava a música e o primeiro
verso e/ou refrão. A partir daí, Hal David encaixava o restante da
letra. Muitas vezes taxados de pueris, os versos de David para as
músicas do maestro tinham uma qualidade nem tão óbvia: a extrema
simplicidade que descortinava e/ou escondia pérolas. E, muitas vezes,
geniais (e certeiros) malabarismos para fazer com que a letra coubesse
na melodia, como nas duas últimas estrofes do clássico Walk On By.
Por volta do início da década de 60, quando os Beatles gravaram sua música "Baby It's You", a influência de Burt talvez ainda fosse pequena, mas ele já estava consagrado como compositor e arranjador. Neste momento, ele passa a trabalhar com o letrista. Além dos Beatles, muitos outros artistas gravaram canções de Burt Bacharach. Além de sua "intérprete oficial", a cantora Dionne Warwick, e dos já citados Beatles e Carpenters, temos Steve Winwood, The Stranglers, Ben Folds Five, Everything But The Girl, Sandie Shaw, Dusty Springsfield, Tom Jones, Scott Walker, The Pretenders, Elvis Costello, The Emmigrants, Ted Nugent, Vanilla Fudge, Frankie Goes To Hollywood e muitos etcs a mais.
THE LOOK OF LOVE: THE BURT BACHARACH COLLECTION (1998) - Um box set triplo nos EUA e um álbum duplo com 56 faixas na Inglaterra, contendo
gravações clássicas de seus maiores sucessos, interpretados por artistas
que também produziu. A qualidade de som é impressionante, ainda mais se
levarmos em conta que algumas destas gravações estão prestes a
completar seis séculos de existência. Dionne Warwick, Gene Pitney, Sandie
Shaw, Cilla Black, Dusty Springsfield, sempre acompanhados da robusta
sonoridade de uma das menores orquestras do mundo, a do próprio
Burt Bacharach. Excelente para neófitos.
HIT MAKER! (1966) - Quem se prende
muito a detalhes de filmes, vai lembrar da capa deste disco. Em "Austin
Powers II", é o LP deste álbum que é devolvido ao personagem de Mike
Myers quando ele é descongelado. Neste disco, Bacharach apresenta sua
face mais "tradicional", a de líder de orquestra, e pode assustar quem só o
conhece das regravações feitas por artistas pop. Mas é simplesmente
divino. Muito recomendável como trilha sonora para "aqueles" momentos.
ONE
AMAZING NIGHT (1998) - Geralmente o artista só recebe uma homenagem à altura
de
seu talento quando morre. E, às vezes, nem isso, vide o recém-lançado
"O Baú do Raul", um tributo, ao contrário, à genialidade do artista
baiano. No caso de Burt Bacharach esta homenagem partiu da TV inglesa,
que preparou um fantástico especial, a pretexto de comemorar os 75 anos
de idade do maestro. Certo que o resultado não é o melhor. Alguns
desacertos, como convidar as insossas garotas das "All Saints" e grandes
acertos, como a brilhante interpretação em conjunto com o Ben Folds
Five de "Raindrops Keep Falling On My Head". Assista ao DVD, mas, se não
der, compre (ou baixe) o disco com o melhor do show.
THE VERY
BEST OF DIONNE WARWICK (2000) - Produzida pela lendária gravadora Rhino Records, esta coletânea abrange as
gravações da cantora nos anos 60, e à exceção da música "Then Came
You", em que ela faz dueto com o excelente grupo vocal The Spinners, e
da sua gravação para o tema do filme Valley Of Dolls, cuja trilha foi
produzida por Burt Bacharach, todas as canções foram compostas pela
dupla Bacharach/David.
Dionne é considerada a intérprete definitiva de Burt Bacharach e suas gravações para clássicos como "Alfie", "Walk On By" e "Do You Know The Way To San Jose" são consideradas definitivas para a crítica especializada.
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