Eu não quero mais ser chamado de artista, me chamem de roqueiro de agora em diante. Um dia, há 25 anos, eu disse em alto e bom som que não queria mais ser chamado de roqueiro. Engraçado que, ao abdicar do título, ainda em meados da década de 80, buscava exatamente o mesmo que busco hoje: um resgate de absolutamente nada. Brincava afirmando ser “roquista” ou "artista de rock" e não “roqueiro”, em alusão à mesma conotação que dão a “motociclista” e “motoqueiro”, porque queria que as pessoas me vissem como aquilo que eu pensava que era: Um homem sério de então quase um quarto de século de vida, apto a se tornar um respeitado pai de família e um marido exemplar. Daquele momento em diante, por favor, que me chamassem de “artista de rock”.
Afinal, que diferença fazia me chamarem de “artista de rock” ou roqueiro? Não era tudo a mesma coisa? Mais ou menos. Por muitos anos eu brinquei de ser artista de rock, compondo musiquinhas de rock de três acordes para impressionar as menininhas do rock. E olha que posso te garantir: funcionou. Para quem é nerd e desprovido do atributo da beleza como eu, só mesmo o fator Inteligência poderia salvar o dia.
Acontece que enquanto nós, os homens, somos irrefutavelmente atraídos pela beleza de uma mulher; as mulheres, em sua grande maioria, são um tanto sapiossexuais e sapiorromânticas. Ou seja, embora não constitua uma regra absoluta, elas sentem forte atração sexual e romântica por homens inteligentes. E inteligente é uma coisa que eu realmente sou, sem nenhuma modéstia. Deus não seria tão cruel a ponto de me fazer feio e burro.
Artistas de rock são seres sensíveis e muito inteligentes. São até demais. Inteligentes e sensíveis. Mas os artistas de rock amam seus instrumentos e roqueiros amam suas musas. E por isto que eu digo: sou roqueiro, sim, sou desde que nem sabia direito o que isso significava. Mais que um estilo musical - lá vem o clichê - ser roqueiro é um estilo de vida. Há até quem nem seja um músico de rock e ainda assim seja “roqueiro”, como os escritores da geração beat, que gostavam mesmo era de jazz. Há quem nem seja “do rock” e seja roqueiro na essência, como Rick James, que morreu em cima do palco, como todo roqueiro deveria morrer.
Novamente me perguntando, faz mesmo alguma diferença se me chamarem de artista de rock ou roqueiro? Ah, novamente responderei, faz muita. Artista de rock é, antes de tudo, um chato calçado em um All Star (porque artistas de rock não usam galochas, claro). Artista de rock ouve uma canção e critica o erro do baterista na gravação. Já o roqueiro acredita que o erro faz parte do charme de qualquer música. Roqueiro é alma, artista de rock é corpo. Mesmo sabendo que tem quem seja corpo e alma, com quase meio século de vida, agora quero me dar ao direito de ser só alma. Até porque, daqui a alguns anos só restará a alma mesmo. Longa vida ao rock and roll e aos que jamais se deixam levar a sério. E, a propósito, sr. artista de rock, este é um texto de humor.
Comentários