Uma formação do Camisa de Vênus sem Marcelo Nova
pode mesmo soar um tanto esquisita, mas
não é, de forma alguma, incomum no mundo da música. Já
tivemos um Capital Inicial sem Dinho Ouro Preto, um Creedence Clearwater Revival sem John Forgety e até mesmo uma LP & Os
Compactos sem José Mário Pitombo. Vocalistas saem, a banda continua e isto não é
novidade nenhuma no mundo do rock. Então, de fato, o Camisa de Vênus tendo Eduardo
Scott como front-man é perfeitamente
legítimo, até porque, no início do
projeto, havia 3/5 da formação original no novo line-up.
Sim, era mesmo
uma versão inferior e um tanto decadente do Camisa de Vênus original, mas , de
fato, todas as formações de um grupo que sucedem à original costumam ser inferiores e
decadentes. E o Camisa, diga-se de passagem, teve várias
formações assim. O novo Camisa havia se tornado uma banda de bar? Mas, e
daí? O último show que assisti do Camisa
com Marcelo Nova foi em um bar, o antigo Cabaret, aqui em Feira de Santana,
ainda nos anos 80. Os Stones fizeram
recentemente uma série de shows em pequenos bares dos EUA e ninguém os chamou
de “banda de bar”.
A reclamação definitiva
do então ex-vocalista foi com o fato do Camisa
de Vênus com Scott ter se inscrito no programa Faz Cultura para a gravação de um
disco de originais. Gustavo Mullem
rebateu o argumento salientando a
incoerência de Nova em fazer este tipo
de reclamação sendo que ele mesmo já aceitou tocar em eventos pagos com
dinheiro público.
Por fim, em
março veio a surpresa com cara de primeiro de abril antecipado: Marcelo Nova havia conseguido impedir Karl e
Gustavo de continuar usando o nome Camisa de Vênus e criou sua própria versão da banda,
um Camisa de Vênus apenas com Robério Santana, baixista, da formação original. A ideia seria fazer uma
tournée comemorativa dos 35 anos da criação da banda (que muitos afirmam ser apenas 33).
A princípio, Marcelo Nova deu um golpe de mestre nos ex-colegas, pois, com o anúncio da sua própria formação do Camisa, a versão com Scott nos vocais perdeu imediatamente
toda a legitimidade. Porém, o seu Camisa também, justamente por
conta do embate, não tem legitimidade alguma.
Este é o tipo de litígio onde
todos perdem. Melhor teria sido arrastar
Aldo Machado do Ceará, juntar Gustavo e Karl e fazer uma verdadeira celebração
dos velhos tempos.
Mas não é
celebrar os velhos tempos o que está realmente em jogo. Trata-se de uma picuinha que mancha muito mais
a história do Camisa – uma das razões alegadas por Marcelo Nova para processar
os antigos parceiros – do que qualquer banda cover dela mesma mantida por
dois simpáticos senhores do punk rock baiano. Uma pena, pois, mais do que o próprio Scott, que
bravamente aceitou a missão difícil de o substituir, é o próprio Marcelo Nova que enfrentará a dura
missão de coverizar a si mesmo. Olha,
Marcelo, o que o tempo faz com as pessoas que não querem perder o gás...
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