Eu tenho um amigo muito querido a quem costumo saudar sempre que o encontro. Ele é completamente diferente de mim mas nossa sinergia é de muito tempo atrás, quando ele se encantou com uma música que eu havia tocado em uma mesa de bar. Nos tornamos amigos até hoje. Ele é negro, eu sou branco. Ele é bem mais velho que eu. Ele é magro, no estilo natureba. Eu sou gordinho tipo químico industrializado. E, sim, ele cultiva longos dreadlocks, hoje grisalhos, enquanto eu raspo, dia sim, dia não, a minha lustrosa careca. Eu costumo passar despercebido pela rua, ele não. E não é porque ele é negro, não é porque ele é muito magro. A estranheza que ele causa nas pessoas é por conta do estilo de cabelo que escolheu para usar, aliado à sua idade avançada. Ele é diferente, ele sabe que é diferente e certamente sente um prazer quase que orgástico ao afrontar a sociedade com a sua aparência incomum. Ele não quer ser aceito, ele não quer ser igual a ninguém. O que ele quer, de fato, é incomod...
Renato Jorge Araujo