O profeta Gentileza foi um homem
que viveu no Rio de Janeiro entre as décadas de 70 e 80. Figura messiânica e
bem peculiar, costumava escrever, com uma grafia bem típica, versículos sobre a
necessidade de ser gentil. Seu caderno eram as paredes e muros da capital
carioca. Recentemente tentaram cobrir seus escritos e a população se manifestou
contra, um claro sinal de que o profeta não veio mesmo ao mundo a passeio. Dizem que nem
sempre ele praticava o que pregava e, muitas vezes, Gentileza era flagrado em atitudes nada gentis. Mas,
dane-se. O profeta era humano e humanos nem sempre praticam o que dizem
acreditar. Na maior parte do tempo, porém, Gentileza era mesmo, perdoem-me a
forçada redundância, gentil.
Em uma de minhas viagens à cidade
maravilhosa, ainda adolescente, conheci Gentileza pessoalmente. Quer dizer, o
vi pregando na praça, rodeado de gente, ali próximo aos Arcos da Lapa,
cercanias da sede da Petrobrás. Poderia aqui dizer que parei e fiquei maravilhado, ouvindo-o pregar e que, aquele encontro místico, mudou a minha vida para
sempre. Só que estaria mentindo.
Passei pelo profeta com a desatenção dos infiéis e só quando o vi em uma reportagem na TV, muitos anos depois, que associei aquela figura ao homem que havia visto no Rio.
Passei pelo profeta com a desatenção dos infiéis e só quando o vi em uma reportagem na TV, muitos anos depois, que associei aquela figura ao homem que havia visto no Rio.
Também não foi desta vez, via TV,
que a mensagem do profeta me tocou. Vi a luz quando, farto do turbilhão de
grosserias em que o mundo - virtual e real - está se tornando, resolvi imprimir
uma daquelas frases escritas de forma característica que o profeta nos deixou e
colocar no mural em minha loja: ” Gentileza gera gentileza”.
Já tinha postado a gravura em minhas redes sociais e até mesmo pensado em
fazer uma camisa, mas foi a visão do pequeno pôster em minha parede que me fez
refletir sobre a real importância do que dizia aquele homem excêntrico:
Gentileza é mesmo o remédio que cessará
todos os conflitos humanos.
É claro que a citação do profeta
tem duas vias: Gentileza de um gera gentileza de outro. Sem a gentileza recíproca, o processo é
abortado precocemente. Mas também enuncia que a gentileza pode ser uma espécie
de moto-contínuo em que, quanto mais pessoas gentis existirem no mundo, menos
brutalidade existirá. De qualquer modo tenho tentado fazer a minha parte. Faça
a sua também. Gentileza com o indelicado, no mínimo, exacerbará a incivilidade
dele. No máximo, nos livrará de desavença e desarmonia.
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